Caro presidente da CNBB, meus irmãos bispos e meus irmãos bispos eméritos. Queridos irmãos sacerdotes e diáconos, meus irmãos e irmãs, prezados telespectadores.
No Evangelho proclamado, Jesus se compara a uma videira. A videira era símbolo do povo judaico, videira de Deus. Ao comparar-se a uma [videira], Cristo a torna símbolo de Sua realidade, de Sua missão, fundador de um novo povo. O Senhor se diz “a verdadeira videira”, acrescenta, no entanto, que o Pai é o agricultor e o fruto de ambos é a santidade de uma vida, cujos frutos são oficialmente obras de amor. Quem está inserido em Cristo como o ramo e a videira deve produzir ramos de amor, daí que não basta uma fé teórica, mas é necessária uma fé viva, traduzida em obras de amor. E para dar frutos de amor é preciso que o discípulo de Jesus permaneça unido a Ele. Quem não ama está desligado de Cristo, mas não somos sozinhos, ninguém é só, ser pessoa é ser com os outros e para os outros.
O discípulo de Jesus Cristo, particularmente, jamais é só, está unido aos outros na maravilhosa realidade da comunhão dos santos. Os galhos da videira se unem uns aos outros no tronco; nós estamos unidos uns aos outros em Cristo. Quem não está unido ao Senhor, não produz frutos de amor, é condenado.
No entanto, se permanecermos unidos a Ele, se somos fiéis aos Seus ensinamentos e a Seus mandamentos, além de produzirmos frutos de amor, tudo o que pedirmos a Ele será atingido; é a eficácia da prece.
Jesus revela que o Pai é glorificado pelos frutos abundantes de Seus discípulos, frutos de amor e de apostolado. Assim, no nosso tempo, o Pai foi glorificado por grandes discípulos de Jesus, os quais deram testemunho do amor heroico, como São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá, Padre Pio, João Paulo II.
Nosso Papa Bento XVI afirmou recentemente que toda a vida de João Paulo II se desenrolou no sinal da caridade, na capacidade de se doar de modo generoso, sem reservas, sem medidas e sem cálculo. Por se aproximar cada vez mais de Deus, pôde tornar-se companheiro de viagem para o homem de hoje, espalhando no mundo o perfume do amor de Deus.
Neles Deus operou maravilhas como aconteceu com Paulo e Barnabé ao atravessarem de Felícia a Samaria, testemunhando Jesus Cristo morto e ressuscitado e atraindo para o Senhor numerosos pagãos, como falam os Atos dos Apóstolos, que acabamos de ouvir.
O Todo-poderoso opera sempre maravilhas quando amamos verdadeiramente os outros, porque o nosso amor será o reflexo de nosso encontro com Ele, que é amor, como diz São João numa das mais profundas revelações do Novo Testamento. Dessa forma, haveremos de transformar profundamente a sociedade, pois é por pequenos gestos de amor, de generosidade que a sociedade se humaniza, se torna fraterna e justa. Gestos que não custam materialmente nada, mas implicam uma profunda conversão da mente e do coração. Com repercussão em toda a vida humana e indiretamente nas próprias estruturas da sociedade, ao contrário como escrevia Jacques Maritain: “Sem o amor e a caridade, o homem transforma em grande mal tudo o que há de melhor.” Comprova-o a história do nosso tempo, história de ódio, sofrimento, morte e desprezo pela vida humana, porque o homem não enxergou no outro um irmão, mas um objeto, um competidor, mas não uma pessoa.
É preciso sempre mais proclamar e testemunhar a eficácia do amor para a construção de uma nova sociedade. O grande equívoco dos seguidores Karl Marx é terem acreditado que o amor é ineficaz para estimular e animar a transformação das estruturas sociais injustas.
Permito-me agora dois rápidos agradecimentos e um duplo pedido, fazê-los em nome dos bispos eméritos. Primeiro: um agradecimento a Deus por nossa longa vida. A vida é sempre bela mesmo em seu acaso, mesmo quando marcada pela dor e grandes limitações. Como dizia João Paulo II: “O dom da vida, apesar da fadiga e da dor que a caracteriza, é bela e preciosa demais para que dela nos cansemos. Além do mais, meus irmãos, nossa vida de eméritos não deixa de ser um caminhar veloz para a pátria celestial, como escrevia o venerável João Paulo II: “Se a vida é uma peregrinação à pátria celestial, a velhice é o tempo no qual se olha mais naturalmente para o limiar da eternidade.”
O segundo agradecimento se volta para os bispos residenciais, que nos acolhem em suas dioceses nos últimos anos de nossa existência nesta terra. Agradecimento pela bondade com que nos acolhem, pela atenção que têm conosco, agradecimento porque não nos veem como obstáculo ao seu pastoreio, inevitavelmente marcado pela personalidade de cada um, por sua visão pastoral e por novas exigências pastorais de sua diocese.
Agradecimento acompanhado de um pedido de perdão, se por zelo ou imprudência tenhamos sido uma pedra no caminho pastoral de nossos irmãos e em sua missão pastoral e não uma flor, como é cada vida humana, mesmo física e intelectualmente limitada. Com a flor que um dia se desabrochou e hoje são pétalas que caem uma por uma silenciosamente.
Nós eméritos devemos ter a humildade de reconhecer que em nosso pastoreio nem tudo foi perfeito, houve certamente falhas em nossa ação pastoral e no nosso comportamento humano. Cabe aos nossos sucessores refazer o que deixamos inacabado ou imperfeito, mas que não deixem de reconhecer o que fizemos, por mais humildes que tenham sido os nossos passos na construção do Reino de Deus.
Gostaríamos que nossa vida de eméritos fosse uma prece contínua, para que nossos sucessores sejam bem-sucedidos em seu ministério pastoral. Rezem também por nós, para que os últimos anos, meses ou dias de nossa vida terrena, sejam marcados pelo amor a Deus e o amor aos outros. Pois o amor e a caridade vêm de Deus e a Ele conduzem, nos transformam e transformam os demais.
Como escrevia, em seus versos, o poeta Augusto Frederico Schmidt: “Amar abre os corações e os ilumina”. Rezem por nós neste crepúsculo de nossa vida, para que seja maravilhoso nosso encontro definitivo com o Amor Supremo e Seu Filho, Nosso Senhor e Redentor, unido à Sua Mãe Santíssima. Fica conosco, Senhor, neste anoitecer da nossa vida terrena. Assim seja.