Quero agradecer a Deus pelos 25 anos de episcopado de uma porção de amigos nossos, e também pelos 25 anos de presbitério de outros.
Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, vimos a formação de uma comunidade, comunidade bonita, que tinha um projeto de Igreja muito bonito mesmo. Vemos esse projeto se realizando, – a comunidade era muito unida, um só coração e uma só alma –, ela estava atenta à vontade de Deus celebrando a Eucaristia e partilhando.
Vemos também que foi uma comunidade que teve problemas como qualquer uma. Ela começou a resolver, sabiamente, a situação de Safira e Ananias, depois dos sete diáconos, uma comunidade que entusiasma três mil pessoas, depois cinco mil; eu acho que eles pensaram: “Seremos dez mil, quinze mil, Jerusalém será nossa comunidade!”. Sonho, mas não era o sonho de Deus, eles realizavam apenas uma parte do sonho divino, mas outra parte não, pois não se lembravam de que a Igreja é para o outro, para outros povos, outras culturas.
Era preciso que aquela comunidade se abrisse, mas não se abria. Deus é inesperável e permite que caia uma perseguição sobre ela: mataram Estêvão e depois veio a perseguição e acontece a dispersão da comunidade, das lideranças, de Felipe, depois de Barnabé, dos apóstolos. Então, fica apenas Tiago com a comunidade diminuta, aquela comunidade sonhada não realiza os desígnios de Deus.
Por que o Senhor faz isso? Porque Ele tinha um projeto maior, não era para a comunidade ficar fechada em si mesma, a mensagem era grande demais, deveria ser levada para longe, para todos os povos e culturas.
Nós nos perguntamos por que Deus fez isso? E lemos o trecho do Evangelho de São João nos dizendo, no capítulo 6, versículos de 35 a 40: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá mais fome e aquele que crê em mim jamais terá sede”.
Todos os povos tinham sede de coisa maiores, não só de necessidades vitais, mas o desejo da liberdade, da solidariedade, o desejo de paz, da justiça, da verdade, esses anseios que trazemos no nosso coração que vêm dos nossos primeiros pais. E então a comunidade tem de sair e levar para o mundo inteiro essa notícia – o Evangelho – o Evangelho, que é Jesus Cristo, Ele que veio responder a todos os nossos anseios, pois Ele é a verdade, o caminho e a vida. Isso precisa ser anunciado fazendo com que a Igreja estabeleça comunidades que levem a verdade.
Depois Jesus diz: “Eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que me enviou” (João 6, 38). A comunidade não pode fazer a sua vontade, mas a de quem a enviou. O mesmo vale para nós também: precisamos fazer a vontade de Deus. E qual é a vontade d’Ele? Que nós não percamos nenhum daqueles que Ele nos deu.
O mundo inteiro é dado a Jesus pelo Pai, e agora Cristo o joga em nossas mãos. Desde aquela época a comunidade tinha de levar a todos as respostas que só são encontradas em Deus.
Maria, Nossa Senhora, tinha sonhos, já era noiva, desejava constituir uma família, mas Deus interrompe o sonho dela tornando-a a Mãe do Salvador, que vai passar no meio de nós, e a partir daí tudo muda na vida da Santíssima Virgem. Hoje celebramos a Festa de Santa Catarina de Sena, a mística, mulher contemplativa, mas Deus também interrompe a sua vida para uma reforma na Igreja, e ela passa a pressionar os bispos e vai atrás até do Papa.
Deus é grande, é inesperável, há 25 anos tínhamos o nosso ministério presbiteral, cada um a seu modo, acho que aqui ninguém sonhou em ser bispo, só em um momento de “leseira”, no qual a pessoa é tentada ao poder do prestígio e do poderio, que, infelizmente, estraga a nós e a Igreja. Da mesma forma, o Senhor interrompeu a nossa vida, começamos a enfrentar o desconhecido, Ele nos escolheu para sermos servidores, nada mais que isso. Servidores que se fazem pelo pastoreio e pela Palavra, pela comunhão que se faz pela liturgia e pela comunhão.
Em 1963 eu tinha terminado um trabalho para a diocese, eu era administrador, dirigia algumas faculdades e pensava em realizar o meu sonho de criança: ser pároco de uma pequena comunidade, onde pudesse chamar a todos pelos nomes, crianças e adultos, mas dia 1º de julho de 1984, Deus nos surpreendeu, Ele mudou a minha vida. O Altíssimo me obrigou a me converter, eu fui ordenado bispo para um outro lugar, o qual eu havia conhecido dois dias antes da minha posse, um lugar com outra cultura. E eu confesso que foi muito bom. Eu amei aquele povo e eles me amaram. Eu aprendi com ele [povo], os meus horizontes foram alargados, se hoje eu tivesse cinquenta anos eu pediria para trabalhar em outras regiões que precisassem de servidores do Evangelho.
Fernando Pessoa afirma: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, graças a Deus não temos corações pequenos! Valeu a pena, porque Deus realizou muitas maravilhas, não por merecimento nosso, mas porque Ele se serve dos pequenos para realizar Seus prodígios. E como a Virgem Maria diz nós também queremos dizer que as nossas almas cantam as grandezas de Deus porque Ele olhou a nossa pequenez e realizou maravilhas através de nós.
Eu queria terminar com o Salmo 65: “Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, cantai salmos a seu nome glorioso, dai a Deus a mais sublime louvação! Dizei a Deus: “Como são grandes vossas obras! Toda a terra vos adore com respeito e proclame o louvor de vosso nome!
Vinde ver todas as obras do Senhor: seus prodígios estupendos entre os homens!
O mar ele mudou em terra firme, e passaram pelo rio a pé enxuto. Exultemos de alegria no Senhor! Ele domina para sempre com poder!”.
Leia mais
.: Os cristãos devem resgatar dimensão missionária, diz D. Damasceno
.: Jesus não chamou os padres para fazer coisas, explica arcebispo
.: Dom Adriano Vasino defende a dimensão comunitária cristã