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Homilia de Dom Eugênio Rixen

Queridos irmãos e irmãs da fé e no episcopado, quero saudar, de maneira especial os bispos responsáveis pela catequese, pela animação bíblico-catequética, pelas regionais, padres e religiosas que atuam nas catequeses das regionais, dioceses e paróquias. Mas quero, principalmente, saudar uma multidão de catequistas espalhados por este Brasil que, semana após semana, evangelizam nossos adultos, jovens, adolescentes e crianças. Uma atenção especial a todos aqueles que trabalham na catequese junto às pessoas portadoras de deficiência e aqueles que trabalham nas pastorais de fronteiras, nos presídios, nos acampamentos e assentamentos. Sabemos que o lugar da catequese é na comunidade e a vida da comunidade é a melhor catequese.

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Meditando a Palavra de Deus, percebemos que Jesus, vendo uma grande multidão que O seguia, disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que esses possam comer?” (João 6,6). Cristo teve compaixão desse povo, sentiu a fome e o abandono deste. A vocação nasce da capacidade de ter compaixão diante do sofrimento dos outros, seja ele físico ou moral. A catequese procura enxergar as alegrias e os sofrimentos das pessoas, ouvir o clamor do povo. No início da catequese, mais do que uma palavra, precisamos escutar aqueles que nos procuram, a exemplo do Ressuscitado, que caminhava ao lado dos discípulos de Emaús.

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O texto-base deste ano catequético nos lembra a metodologia da catequese que começa pela escuta. No caminho catecumenal a primeira coisa que os instrutores fazem é escutar.

Filipe acha que não é possível alimentar tanta gente, pois eram mais de 5 mil pessoas. André, no entanto, descobre o início de uma solução: “Está aqui um menino com 5 pães de cevada e 2 peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,10). Na nossa missão catequética, ficamos, às vezes, frustrados. Tantas crianças que fazem a Primeira Eucaristia, tantos jovens que são crismados, mas onde eles andam?

Os sacramentos da iniciação se tornam facilmente os sacramentos da despedida. O que fazer? O lógico é não desanimar, porque a obra não é nossa, mas de Deus. Como Gamaliel, diante do Sinédrio, na primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, queremos dizer que “se esse projeto ou essa atividade é de origem humana, será destruído, mas se vem de Deus não conseguireis destruí-los” (Atos dos Apóstolos 5,38).

Somos semeadores da Palavra, não donos. Deus manifesta a Sua grandeza através da nossa fraqueza. Uma pequena partilha pode se transformar num grande banquete, como vemos, muitas vezes, nas nossas comunidades. Jesus disse: “Fazei as pessoas sentarem-se” (Jo 6,11). Ele tomou os pães, deu graças e disse aos que estavam sentados: “comam tanto quanto queiram”. Fez o mesmo com os peixes. Jesus, o Mestre e Senhor, distribuiu Ele mesmo os pães. Ele é o Mestre que se torna servidor, porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate para muitos.

Sabemos que o catequista na comunidade faz um serviço muito humilde e gratuito, e que, às vezes, sua função não traz muito prestígio, mas é fundamental na missão da Igreja. Jesus é o Verbo de Alimento para nós. Ele se dá a nós através de Sua Palavra e de Seu Corpo e Sangue. “Eu sou o pão vivo que desceu do céu”, afirma o Senhor. “Quem come desse pão vive eternamente, e o pão que eu darei é a minha carne entregue pela vida do mundo”. O catequista é chamado a ser um grande apaixonado por Jesus cristo e alimentar-se da Sua Palavra. Essa Palavra, como diz o livro do Apocalipse, será amarga no estômago, mas na boca será doce como mel.

A Bíblia, carta do amor de Deus para nós, primeiro livro da catequese, continua sendo uma mensagem profética: anuncia o reino de justiça e de solidariedade, no qual todos possam participar do banquete, principalmente os mais excluídos e denuncia tudo o que é contra a fraternidade e a vida para todos. O Evangelho, vivido na sua radicalidade, sempre vai incomodar, mas também é semente de tantos mártires. A catequese nos prepara para vivermos o sacramento da iniciação – Batismo, Eucaristia e Crisma –, não para celebrar ritos sem compromissos, mas para reviver os mistérios pascais da Morte e da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mergulhados com Cristo na Sua Morte, viveremos junto com Ele para uma vida nova. Há uma ligação profunda entre a Eucaristia e a partilha do pão, a qual nos leva a entender melhor a Eucaristia e esta leva a partilhar o pão. Fazer viver isso é o grande desafio da catequese. A catequese renovada e retomada nos fala da ligação “fervida”. Uma catequese que não nos leva a transformar a vida e a sociedade não pode ser uma verdadeira catequese.

Depois que o povo se alimentou, sobraram 12 cestos com os pedaços dos 5 pães de cevada. Sabemos muito bem que esse sinal se repete também nas nossas comunidades. O lugar da catequese é a comunidade que sabe partilhar; e, quando partilhamos, sobra muita coisa.

O povo quis fazer de Jesus seu rei; afinal, eles tinham encontrado a solução de seus problemas: ter pão sem nenhum esforço. Mas o Messias não entra nessa dinâmica. O grande desafio da catequese, hoje, é saber qual Jesus nós transmitimos. No mercado religioso, moderno, muitos falam do Senhor, mas de quem se trata de verdade? Um Jesus milagreiro, um Jesus resposta para todos os meus problemas, que traz uma “espiritualidade material”; um Jesus mítico, um Jesus para mim… Mais do que nunca, os catequistas são convidados para conhecer o Jesus da história, que se fez igual a nós em tudo, menos no pecado.

O Papa Bento XVI, no Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão de Igreja, lembrava com muita clareza que precisamos utilizar os métodos modernos da ciência para conhecer melhor o sentido original da Palavra de Deus, dos textos bíblicos. Lógico, nós acreditamos que Jesus foi igual a nós em tudo, menos no pecado. Foi por meio da Sua humanidade que Ele revelou também a Sua plena divindade. Mais do que nunca, os catequistas são convidados para conhecer esse Jesus da história, o Jesus que carregou nossas dores e alegrias, sofrimentos e esperanças. Um Jesus revelação plena do amor do Pai que, através de Sua “fraqueza” na cruz, revela a força de Deus; um Jesus Ressuscitado.

A catequese procura fazer com que os catequizandos e crismandos se apaixonem por esse Jesus. Todo o resto é consequência. Que neste ano catequético, que abrimos no domingo passado, possamos fazer dos catequistas verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo. Que a reflexão que iniciaremos, hoje, sobre a vida cristã, tão fundamental para nossa missão, possa nos ajudar a sermos e a formarmos verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo. Peço também orações para a nossa terceira semana catequética, que vai acontecer em Itaici [Indaiatuba (SP)] entre os dias 6 e 11 de outubro de 2009 e que vai reunir 500 catequistas do Brasil inteiro. Pessoas apaixonadas pela sua missão catequética.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
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