Caríssimos irmãos no ministério ordenado, na vida consagrada, no testemunho laical, aqui congregados em assembleia celebrativa, prezados rádio-ouvintes, telespectadores sintonizados conosco através dos canais católicos, queremos, ao celebrarmos o inefável Mistério Eucarístico, inserir os eventos jubilares do expressivo grupo de bispos que, neste ano, recordam a vitória da graça em suas vidas. É a confirmação do espírito fraterno que nos anima em nossa amada CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil]. Obrigado, a Dom Joviano, responsável pela animação litúrgica, por me convidar para presidir este momento maior de nossa experiência cristã. Continuamos a celebrar a Páscoa do Senhor: o mistério central de nossa fé, ela será perenemente a fonte inspiradora de nossa vida. Celebrar a Páscoa implicará sempre evocar a luta, a batalha cotidiana e agir na dinâmica dos dois polos: o sofrimento e a vitória. Nada melhor que dar sequência à nossa assembleia abrindo o novo dia reunidos em torno do altar da Palavra e logo mais em volta do altar da Eucaristia.
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No livro dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura de hoje, encontramos Paulo e Silas, humanamente, derrotados na prisão, totalmente entregues às mãos de uma multidão incitada, aparentemente anulados, mas no exercício vibrante do testemunho do anúncio do Evangelho. Em uma hora dessas a prevalência da atitude humana seria normal, mas os apóstolos, ao contrário, não perderam o foco pascal e animaram o carcereiro a uma autêntica conversão. Quantos apóstolos hoje, aqui nesta feliz recordação de uma vida inteiramente consagrada ao Senhor, bem poderiam cada um descrever sua trajetória permeada de suor, de sangue, de aflições, de incompreenções, de golpes, muitas vezes, partidos de quem está mais perto. Mas também, quantas lembranças agradáveis de parentes e de amigos sinceros que nos estimularam. Como temos um coração agradecido pelo chamado ao ministério episcopal por termos podido contribuir, ainda que um pouquinho, para o crescimento do Reino de Deus! Como nos foi excelente a realização do Concílio Vaticano II, a qual continua a merecer nossa maior atenção para que seja explorada toda a sua potencialidade pastoral. Que desçam à nossa conferência com suas assembleias bem planejadas, abrangentes em tantos momentos verdadeiramente proféticos. Como é bom experimentarmos ser irmão entre irmãos!
No pequeno trecho do Evangelho, São João focaliza hoje a presença do Espírito Santo como determinante para a atuação dos apóstolos. Jesus ia partir, mas estes não deveriam ficar tristes porque o Senhor lhes enviaria Seu Espírito. Aqui está o segredo de tudo: creio que todos nós, ungidos pelo Espírito, não temos dúvida sobre isso. Perdoem-me se lhes recordo, mais uma vez, alguns dos irmãos aqui presentes que já ouviram o que se passou comigo em 1975 por ocasião do anúncio de minha nomeação para bispo. Encontrava-me em Roma, no dia seguinte, participei com outros bispos da Audiência Pública do Papa Paulo VI, na Praça de São Pedro, e, ao final, meio encabulado, já de batina filetada, faixa roxa e solidéu, criei coragem e me aproximei do saudoso Sumo Pontífice e lhe segredei: “Vossa santidade me nomeou ontem bispo de uma diocese com cinco padres apenas”. O Santo Padre, com voz fraternal, disse-me: “El Espíritu Santo viene”. Calei-me e entendi o recado.
A Igreja, antes de tudo, é guiada pelo Espírito Santo e será Ele o inspirador de tudo, só assim ela mostrará sua divindade. Como precisamos de conversão! Aqui estamos, pois, neste presbitério, belo grupo representativo dos 51 jubilandos, neste ano, agradecendo a Deus a graça de nossos anos de vida prebisteral e episcopal. Como estamos em Assembleia Eucarística, significamos a Igreja em torno do Cristo, que nos enviou e envia Seu Espírito que não nos permite cair na tristeza, apesar dos contratempos da hora presente. Haja vista a onda de propagação de escândalos que empana o brilho da face da Igreja e objetiva abalar o alicerce de Pedro, o qual sempre nos conforta e nos anima no pastoreio.
Assim em meio a tantos irmãos, igualmente consagrados e ungidos pelo Espírito Santo, torna-se mais fácil nosso dever de render graças ao Senhor. Afinal de contas, todos participamos do mesmo sacerdócio de Cristo e agimos sempre em Seu nome. Somos apenas meros instrumentos nas mãos do Senhor. Aqui se encontra a nossa força: a certeza de que somos servos nos garante buscar socorro e refúgio junto ao Senhor segundo o ensinamento do Apóstolo Paulo.
Sintamo-nos todos muito felizes testemunhando as maravilhas operadas pelo Senhor nas vidas tão preciosas de nossos irmãos! Este espírito de fraternidade e comunhão nos acompanhe, nos fortaleça no colégio episcopal e nos permita ajudar na santificação do povo brasileiro a nós confiado.