Íntegra

Homilia de Dom Alberto na Missa de posse como Arcebispo de Belém

HOMILIA DO DIA 25 DE MARÇO DE 2010, SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR,
NA MISSA DE POSSE COMO DÉCIMO ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM DO PARÁ

1. PEREGRINAÇÃO

Irmãos e Irmãs em Cristo. Deus quis que seu Verbo Eterno se fizesse homem no seio da Virgem Maria1. No dia em que fazemos memória viva dos inícios de nossa Redenção, desci pelo Tocantins, de Palmas para Belém, para aqui servir ao Povo de Deus.

Trago meu coração agradecido pela Arquidiocese de Palmas, com Padres, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Membros de Comunidades de Vida e Aliança e o querido Povo de Deus, por tudo que construímos juntos. Obrigado a tantas pessoas que aqui vieram, representando a Arquidiocese de Palmas. Aqui se encontram também meu irmão com sua esposa e minha irmã com seu filho, e familiares e amigos de Nova Lima, em Minas Gerais, aos quais agradeço por me fazerem sentir enraizado numa família, num povo e numa cultura.

Com São João Damasceno, devo dizer ao Senhor: “Tu me chamas, Senhor, para servir os teus discípulos. Não sei por que razão me escolheste; só tu sabes. Torna, Senhor, mais leve o peso de meus pecados. Purifica minha inteligência e meu coração. Sê para mim como uma lâmpada luminosa que me conduz pelo caminho reto. Dá-me palavra fácil e concede-me uma linguagem clara e fluente, mediante a língua de fogo de teu Espírito, a fim de que tua presença sempre me assista. Sê meu pastor, e apascenta comigo, Senhor, para que meu coração não se incline nem para a direita nem para a esquerda; que o teu Espírito bom me conduza pelo caminho reto e as minhas obras se realizem segundo tua vontade, até à última delas” 2.

Peço a Deus que me permita ir de Nazaré a Belém, de Belém a Nazaré, dali a Jerusalém, e voltar a Nazaré, para aprender, como Jesus adolescente submisso a Maria e a José, os caminhos da Igreja nesta grande Amazônia, iluminados pelo Círio de Nazaré. De Nazaré a Jerusalém, a Caná, ao Caminho do Calvário, aos pés da Cruz e ao Cenáculo e, enfim, ao coração da Igreja, com Maria, Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora de Belém, Nossa Senhora do Pilar, Padroeira de Nova Lima, Minas Gerais, minha terra natal, à qual foi consagrado no dia de minha ordenação sacerdotal. E vamos peregrinar juntos, acompanhados por Maria, Mãe e Mestra. De fato “felizes os quem em vós têm sua força, e se decidem a partir quais peregrinos! Quando passam pelo vale da aridez, o transformam numa fonte borbulhante, pois a chuva o vestirá com suas bênçãos. Caminharão com um ardor sempre crescente e hão de ver o Deus dos deuses em Sião” 3.

É com Maria e debaixo de sua proteção que, no dia 8 de dezembro de 2009, recebi do senhor Núncio Apostólico, que nos honra com sua presença, a notícia de minha nomeação como Arcebispo de Belém. Com ela encontrei mais uma vez a estrada da liberdade, na obediência e na unidade com o Sucessor de Pedro, sua Santidade o Papa Bento XVI, em cujas mãos renovamos a estrita fidelidade do Pastor e da Igreja de Belém. É diante de Nossa Senhora de Nazaré, Padroeira da Amazônia, que manifesto meu profundo respeito e o propósito de comunhão com as Igrejas desta terra abençoada e com os irmãos Bispos, anjos de suas Dioceses e Prelazias, com os quais viveremos juntos as comemorações do quarto centenário da Evangelização da Amazônia e enfrentaremos todos os desafios que se apresentarem ao trabalho evangelizador. Com eles, Dom Vicente Zico, “anjo da Guarda” da Igreja de Belém, e Dom Orani João Tempesta, cujo ministério nesta Arquidiocese deixou marcas indeléveis. Aqui se encontram também Bispos que de outras regiões do Brasil, junto com o Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, para oferecer o magnífico testemunho da unidade.

É com a Virgem Maria e debaixo de seu manto que nesta belíssima Catedral, há pouco restaurada, inicio meu Ministério. Vim para dar minha vida, para ficar com cada um de vocês. Fui enviado para que em plena fidelidade a Cristo, à sua Igreja e ao seu legítimo Pastor Universal, o Papa Bento XVI, esta Igreja que vive em Belém, pastores e fieis, continue a ser obediente ao mandato de Jesus Cristo: “fazei isto em memória de mim”. Vim para que o amor, fruto da verdade crucificada, faça ressuscitar todos nós da morte do nosso pecado, de nossas misérias pessoais e sociais, de nossas injustiças e maldades. Vim e hoje tomei posse, para que, desapegado e esvaziado de mim mesmo, a vida nova do Filho de Deus feito homem, dada ao mundo pelo seu sacrifício pascal, continue sendo validamente celebrada e eficazmente comunicada na Eucaristia e nos demais sacramentos nas Paróquias e Comunidades de nossa muito amada Arquidiocese de Belém.

2. UM GRANDE SINAL

Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no ventre, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida como verdadeira Mãe de Deus. Em sua obediência encontra sua liberdade, pois se descobre querida por Deus, acolhida e amada pelo Espírito de Deus. Pela obediência ao Espírito ela se torna Mãe do Filho de Deus. O sinal que Acaz não quis pedir para não incomodar a Deus, Ele mesmo4, livremente, oferece: assume nossa natureza humana e a faz fecunda para a salvação de todos, para toda a humanidade. Deus conosco, Emanuel!

Maria foi enriquecida com a missão e dignidade de Mãe de Deus Filho, Filha predileta do Pai, Esposa do Espírito Santo, e segue na frente de todas as demais criaturas do céu e da terra, verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros da cabeça que é Cristo. Mãe de toda humanidade redimida e reconciliada com Deus, ela é imagem e início da Igreja. Na terra, brilha como sinal 5 de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus peregrino, até que chegue o dia do Senhor.

Aos pés da Cruz, Nossa Senhora, ainda mais obediente, aprende e partilha a eficácia do sacrifício que nos salva, do corpo entregue, do sangue derramado e da água jorrada do lado aberto de seu Filho crucificado e abandonado por nós 7. A Virgem Maria, que em Nazaré ficou grávida pelo poder do Espírito Santo, em Belém, casa do Pão, deu à luz a carne, o pão do sacrifício definitivo. Aos pés da Cruz, deixa-se envolver, pelo sacrifico de sua obediência virginal, no amor misericordioso de Deus e no sacrifício redentor do seu Filho. Para a vida do mundo, a Mãe se oferece. Pela força do sacrifício do seu Filho, ela pode participar da obediência filial de Jesus.

O ‘faça-se de mim segundo a tua palavra’ 8 na Anunciação se repete aos pés da Cruz 9. Diante do lado aberto pela lança de seu Filho crucificado, cumpriu-se a profecia de Simeão: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” 10. O esvaziamento da própria liberdade entregue pelo Filho ao Pai no abandono da Cruz e a desolação da Virgem das Dores, torna a obediência da Anunciação uma obediência eucarística da Igreja: Maria, libertada de si mesma nos gera, pelo Espírito, para sermos obedientes ao mandamento eucarístico de seu próprio Filho: ‘fazei isto em memória de mim’ 12, ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ 13, ‘dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, também vós o façais’ 14. Pela morte a si mesma em sacrifício de obediência ao Pai, a Virgem Maria nos convida à obediência total a seu Filho.

Deus está conosco! Pela Eucaristia nos faz Igreja, nos congrega como sua família e nos capacita para a missão. ‘Fazei tudo o que ele vos disser’ 15. A Mãe nos indica o caminho do discipulado e ensina que pela obediência até o sacrifício de nós mesmos na Eucaristia, a Palavra de Deus terá eficácia e produzirá frutos de vida para todos. Com Maria, Mulher Eucarística, nós peregrinamos de Nazaré a Belém, de Belém a Nazaré, de Nazaré aos caminhos da Galileia, a Jerusalém, ao Cenáculo, aos pés da Cruz, à manhã da Ressurreição e ao Pentecostes, onde a Igreja é inaugurada pelo vento impetuoso do Espírito. E desde então Maria acompanha a Igreja em sua peregrinação da fé, conduzindo-nos pela mão para aprendermos a ser Igreja, discípulos missionários, a fim de que a Boa Nova chegue aos confins da terra.

Por isso a saudamos como modelo e exemplo perfeito na fé e na caridade; e nossa Igreja de Belém, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a Mãe amada, filial afeto de piedade16. Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora de Belém, Nossa Senhora da Graça, Maria Mãe da Igreja, rogai por nós!

3. O MISTÉRIO DA IGREJA

Que lugar e que missão Deus confiou à Igreja de Belém? A que veio o novo Arcebispo? A peregrinação da fé, percorrida por Nossa Senhora, nos ajude a responder a tais perguntas. Nossa Senhora, “Porta do Céu” abra as portas da Casa do Pai para nós; a “Mãe da Igreja” seja nossa Mestra, diante da Palavra que Deus nos dirige.

A Igreja de Cristo está aqui presente. Somos o novo povo chamado por Deus, no Espírito Santo. Aqui se congregam os fiéis pela pregação do Evangelho de Cristo e se celebra o mistério da Ceia do Senhor. Quando participamos do altar da Eucaristia, manifesta-se o sinal do amor e da unidade do Corpo místico.

A Igreja nasceu na morte de Cristo na Cruz. Pela morte de Cristo, nasce a Igreja, diz Santo Agostinho 19. Jesus é o divino grão de trigo que “cai na terra e morre”, e exatamente por isso “produz muito fruto” 20. “Cristo semeou um corpo particular e ressuscita Corpo místico, ressuscita Igreja”.

É Bento XVI que nos ensina na Encíclica Deus Caritas est: “Se vês a caridade, vês a Trindade” — escrevia Santo Agostinho. Fixamos o nosso olhar naquele que foi transpassado, reconhecendo o desígnio do Pai que enviou o Filho unigênito ao mundo para redimir a humanidade. Quando morreu na cruz, Jesus “entregou o Espírito”, prelúdio daquele dom do Espírito Santo que Ele havia de realizar depois da ressurreição. Deste modo, se realizaria a promessa dos “rios de água viva” que, graças à efusão do Espírito, haviam de emanar do coração dos que crerem. De fato, o Espírito é aquela força interior que harmoniza seus corações com o coração de Cristo e os leva a amar os irmãos como Ele os amou, quando se inclinou para lavar os pés dos discípulos e quando deu a sua vida por todos.

Desde os primeiros tempos, a Igreja tem os olhos fixos em Jesus crucificado. Sangue e água que escorrem do lado aberto simbolizam os sacramentos do Batismo e da Eucaristia de onde nasce o novo Povo. E Maria aos pés da cruz é o modelo realizado da Igreja, a nova Eva nascida do lado de Cristo, novo Adão. E do alto da Cruz, Jesus sopra seu Espírito sobre Maria e João, que representam a Igreja.

Jesus nos doa o Espírito que o liga em profunda comunhão pessoal com o Pai. Na Cruz e no Abandono, Jesus tirou de si o amor e o doou aos homens fazendo-os filhos de Deus. Jesus fez-se nada; doou tudo e este tudo não foi perdido, porque se transferiu para a alma dos homens. O seu grito representa as dores de um parto divino dos homens como filhos de Deus. Naquele momento a Igreja tem início, porque ali ele deu de presente o Espírito Santo que depois descerá sobre os Apóstolos reunidos com Maria, no Cenáculo.

No Pentecostes, a jovem Igreja, repleta do Espírito Santo, sai para a vida pública e inicia a sua corrida para fazer de todos “um”. “Aquilo que Babel dispersou a Igreja recolhe”, dirá Santo Agostinho. “Muitas línguas tornam-se uma: não te maravilhes disto: isto é obra do amor”.

Esta é a Igreja: muitos homens e mulheres que, graças à participação na morte e ressurreição de Jesus, tornaram-se um só homem novo, uma só pessoa em Cristo. Jesus que se oferece na cruz, está na origem daquela “nova comunidade de amor” que une entre si próximos e distantes, pessoas de condições sociais e nacionalidades diversas34 , para fazer deles “um só coração e uma só alma”.

A partir do Pentecostes, começa para os primeiros cristãos o anúncio da boa nova do Evangelho: Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo há de voltar! É o anúncio do Kerigma, que perpassa toda a formação do discípulo missionário, como nos ensina o Documento de Aparecida. O anúncio de Jesus crucificado e ressuscitado é a síntese do Evangelho que os Apóstolos levam a todos os povos; a fração do pão eucarístico, no qual se torna presente a oferta do Corpo e do Sangue de Jesus na Cruz, é o coração da comunidade cristã. Logo a seguir, os primeiros discípulos partilham o destino de seu Senhor crucificado, derramando o próprio sangue por ele e com ele. E, exatamente, assim o cristianismo se difunde: “o sangue dos Mártires é semente de Cristãos”, diz o antigo provérbio cristão.

Aqui em Belém deverá estar presente a fidelidade à Igreja de Cristo, aqui a coragem para anunciar o Evangelho, dispostos a enfrentar todas as dificuldades e desafios, no rastro de tantas pessoas que corajosamente assumiram a causa do Evangelho, cada um segundo a sua vocação e graça recebidas. O sangue dos mártires continue a semear cristãos em Belém e na Amazônia! Há uma legião de testemunhas, na Igreja de Belém e em toda a Amazônia, nos Arcebispos e Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas, Leigos e Leigas, dos quais somos devedores por professar hoje a fé católica. A eles se unem homens e mulheres que deram a sua vida pela verdade na Amazônia. Dentre outros tantos ícones de nossa história, a todos simboliza nossa querida Irmã Dorothy Stang, apaixonada pelo serviço dos mais pobres: “Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor, numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar”.

4. COMUNHÃO

 

Maria, na Anunciação e aos pés da Cruz correspondeu aos desígnios de Deus 36. Mas de que modo a vida que Jesus nos deu no mistério de sua Cruz se realiza em nós? Como aquilo que somos pode manifestar-se plenamente. Sozinhos não somos capazes. Para que assim possamos viver, Ele nos conduz a três fontes de graça: a comunhão com Jesus em sua Palavra, a comunhão na Eucaristia e a comunhão com os irmãos. Sim, a Igreja é Comunhão!

Os Atos dos Apóstolos descrevem assim a primeira Comunidade de Jerusalém: eram assíduos no ensinamento dos Apóstolos – Comunhão com a Palavra, na união fraterna – Comunhão com os irmãos – e na Fração do pão, Comunhão Eucarística. Não é por acaso que estas três comunhões se refletem também na assembléia dominical dos primeiros séculos: à leitura e ao aprofundamento da Palavra se seguia a celebração da Eucaristia que, depois, desembocava numa refeição fraterna, com a partilha daquilo que cada um tinha posto em comum.

Comunhão com a Palavra

Nossa Igreja buscará o alimento da Palavra. Segundo a primeira carta aos Coríntios o Evangelho é “palavra da cruz” que despreza toda glória humana e transmite o poder, a sabedoria e a santidade de Deus, de modo que, para todo verdadeiro cristão, acolher o Evangelho não é outra coisa senão mergulhar na vida de Cristo crucificado: “Na verdade, eu não considerei saber outra coisa entre vós senão Cristo e Cristo crucificado”. “Fui crucificado com Cristo e não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.

Os desafios à Evangelização são enormes! É fácil desanimar e assustar-se quando se tem a consciência de ser um “pequeno rebanho” diante de multidões incalculáveis às quais se deve levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses nada têm a ver com o Reino de Deus. Parece uma missão impossível. No entanto, Jesus garante aos seus que, com a fé, “transportarão as montanhas” da indiferença, do desinteresse do mundo. Se eles tiverem fé, nada lhes será impossível. Eis a exortação de Jesus a não desanimar e a se dirigir a Deus com muita confiança. Ele, de um modo ou de outro, haverá de atender. “Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá’, e ela irá. Nada vos será impossível.”

Se nossa força estiver na Cruz de Cristo, teremos toda a coragem e o entusiasmo necessários para proclamar a Palavra. “Nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. Deus é amor. E ele amou primeiro Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele. Nisto se realiza plenamente o seu amor para conosco: em que tenhamos firme confiança no dia do julgamento; pois assim como Jesus é, somos também nós neste mundo. No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo implica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor”. O Senhor nos faça vencer o vão temor e nos conceda o entusiasmo e a audácia dos santos!

E começa uma vida totalmente nova que tem seu fundamento no Batismo, que é morrer com Cristo e ressurgir com Ele, sepultar o homem velho para viver, em Cristo e segundo a sua imagem, como criaturas novas, no amor. Daqui nasce a continuidade dos projetos missionários em Belém. Brote nosso entusiasmo para caminhar em direção aos quatrocentos anos da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, em 12 de janeiro de 2016, e da Evangelização da Amazônia. Para anunciar Jesus Cristo continuaremos a viver o Círio de Nazaré, que reconheço em seu inigualável potencial evangelizador. Do anúncio de Jesus Cristo partimos na preparação do XVII Congresso Eucarístico Nacional, a ser vivido como um grande evento de Evangelização: Belém, Casa do Pão, Eucaristia e partilha, Amazônia Missionária!

Todas as Palavras do Evangelho sejam reconhecidas por nossa Igreja como presença de Jesus morto e ressuscitado que levam a conformar-nos com Ele, para não vivermos mais para nós, mas sejamos tudo para todos, para ganhar o maior número possível para Deus. Na Palavra da Cruz, a Igreja de Belém encontrará sentido e força para evangelizar.

Comunhão com Jesus Eucaristia

Porém, Jesus quis fazer de nós uma só realidade com Ele, o seu Corpo que vive a sua vida e é sua presença no mundo. Como os grãos de trigo são moídos para se tornarem pão, ou como os grãos de uva são espremidos para se tornarem vinho, assim acontece conosco pela Eucaristia se correspondermos à graça que ela nos comunica. Nós nos tornamos uma coisa só com Jesus e entre nós, Corpo Místico de Cristo. “Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estiver, a fim de que contemplem a minha glória, aquela que tu me deste”.

A Eucaristia é o dom do Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, dom que ele antecipou na última Ceia, mas que encontra seu pleno significado na oferta na Cruz. Na Eucaristia é Jesus crucificado, morto e ressuscitado que nos une a si e entre nós, rompendo a barreira do individualismo, que nos separa dos outros, fazendo de nós o seu Corpo, Igreja, “o Cristo Total”, no dizer de Santo Agostinho.

Mas este dom há de ser acolhido e vivido. O amor de Cristo comunicado pela Eucaristia se torne nossa vida, nosso modo de ser comunhão para os outros. Quem comunga aceite ser Eucaristia para o mundo, pão partido, entrega de amor para o bem dos outros. “O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”.

Com o Documento de Aparecida, estou convencido de que "só da Eucaristia brotará a civilização do amor que transformará a América Latina e o Caribe para que, além de ser o Continente da esperança, seja também o Continente do amor” 46 e que “cada grande reforma na Igreja está vinculada à redescoberta da fé na Eucaristia”.

A Santa Missa, celebrada e bem vivida em todos os recantos de nossa Arquidiocese, esteja o centro de irradiação da vida da Igreja. Os sacerdotes, na Eucaristia diária encontrem a fonte de seu ministério. Cada Sacrário seja como um foco de incêndio, destinado a espalhar o fogo do Amor de Cristo! Nossa vida Eucarística prepare o Congresso Eucarístico Nacional. De todos os cantos do Brasil venham os irmãos e irmãs, pois a mesa do Pão da Vida estará preparada.

Comunhão com os irmãos

Nosso modelo de vida, para construir uma nova sociedade, está no alto, na comunhão de vida da Santíssima Trindade. “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, sejam também eles uma só coisa em nós”. No início da Igreja, “a multidão dos que tinham aderido à fé tinha um só coração e uma só alma e que ninguém considerava próprio o que possuía”. Para São Paulo, ser “Igreja” significa ser como uma só pessoa em Cristo, ser o seu corpo que o torna presente e visível, o que exige a unidade que é comunhão, partilha dos bens, comunhão de pensamento e de sentimentos.

Mas nas Comunidades fundadas por São Paulo havia também grandes divisões. Ele não se cansa de mostrar Jesus crucificado como modelo decisivo da comunidade de Igreja. “Tende entre vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” e fala do despojamento radical com que Jesus não se apegou à sua igualdade com Deus e por nós assumiu a morte de cruz. Também em nossa Igreja a Comunhão é tarefa e desafio. O amor infinito do Cristo crucificado e ressuscitado há de ser a “lei” com a qual queremos pautar todos os relacionamentos na Igreja de Belém, no presbitério, entre ministros e fiéis, Ordens e Congregações religiosas, Carismas, Movimentos, as Paróquias e Comunidades. “Cada um de vós, com toda a humildade, considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2,3).

Queremos ser a resposta de amor à falta de amor existente em nosso mundo. Se assim o fizermos, o grito de Cristo na Cruz, que ressoa em todos os graves problemas sociais que nos cercam, encontrará resposta ao seu dom de amor. Ele se manifestará no meio de nós, na sua Igreja, como Ressuscitado. Uma Igreja assim atesta com todo o seu ser que a vida da Santíssima Trindade que Jesus trouxe à terra é verdadeira. Como no dia de Pentecostes quando, vendo a primeira comunidade cristã, apenas nascida do Espírito do Ressuscitado, os que não acreditavam “sentiram transpassar o próprio coração” 53.

Quero entrar na Casa da Igreja, as Paróquias, células vivas da Igreja de Belém e Comunidades, onde a vida cristã cresce e amadurece e, passando por estas portas, desejo chegar às famílias, saudando as crianças, adolescentes, jovens, casais, pessoas adultas e idosas, especialmente os enfermos. Nas Paróquias, mas também em todos os campos pastorais em que se encontram presentes, minha saudação especial aos sacerdotes. É muito bom ter recebido de tantos de vocês manifestações de acolhida que me fizeram sentir-me imediatamente em casa. É bom chegar para vivermos juntos o caminho da fidelidade sacerdotal, contemplando a fidelidade de Cristo! Dos padres espero que sejamos juntos construtores de unidade, num único presbitério, na ajuda mútua, na correção fraterna, no estímulo da caridade. Nosso serviço é o da comunhão! Quanto mais obedientes a Cristo, maior será nossa liberdade e eficácia no trabalho pastoral. Não tenhamos medo de nos deixar esvaziar pela obediência: seremos mais dóceis à vontade do Pai. Escutemos sempre Nossa Senhora: “fazei tudo o que vos disser”, para chegarmos à liberdade do “faça-se em mim segundo tua palavra”.

Com os presbíteros, acolho de coração nossos seminaristas. Confio a Nossa Senhora de Nazaré e a São Pio X o caminho de formação que percorrem, desejoso de que se preparem para ser padres segundo o Coração de Jesus.

Agradeço o testemunho das pessoas consagradas, dos religiosos e religiosas de nossa Arquidiocese, na grandeza de sua vocação, na vida ativa e contemplativa. Nossa Senhora, Rainha dos Virgens, interceda para que, chamados, conforme a riqueza dos carismas antigos e novos, sejam em nosso meio sinal alegre e profético das realidades futuras e definitivas. Vocês são semente de esperança, fecunda dedicação aos pobres, aos doentes e aos jovens. Novas formas de dedicação a Deus, nascidas da espiritualidade de Novos Movimentos eclesiais e Comunidades Novas surgem em nosso meio: agradecemos a Deus por esta renovada vitalidade e pelos novos horizontes que o Espírito suscita com sua presença e contamos com seu vigor apostólico.

5. MISSÃO

O Concílio Vaticano II, ao lado da comunhão, colocou também em relevo a missão. O novo povo de Deus é para toda a humanidade semente de unidade, de salvação e de esperança e, como tal, “sente-se solidário com o gênero humano e com sua história”. Como Cristo realizou a sua obra de redenção através da pobreza e das perseguições, do mesmo modo a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho para comunicar os frutos da salvação. Jesus Cristo, sendo de condição divina despojou-se a si mesmo, assumindo a natureza de servo e por nós “de rico que ele era se fez pobre” 58. Assim também a Igreja de Belém é chamada a viver.

Aqui está a alma da missão. Em Cristo crucificado, Deus veio morar entre os pecadores, participando plenamente de sua vida, menos no pecado, e derramou o Espírito sobre a inteira humanidade. Trata-se da solidariedade incondicional com todas as situações humanas: “Com os fracos me fiz fraco, para ganhar os fracos. Eu me fiz tudo para todos, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para dele me tornar participante” .

Esta não é só uma experiência de São Paulo, mas a nossa missão. Desejo, junto com a Igreja de Belém e como seu pastor, assumir sobre nós a miséria do mundo, para mergulhá-la e redimi-la na Misericórdia de Deus. A cada erro feito pelo irmão pedirei perdão ao Pai como se fosse meu. E é meu porque o meu amor toma posse dele, porque temos uma “alma Igreja”.

Com Jesus crucificado e ressuscitado, queremos ir ao encontro da humanidade, especialmente onde mais se vive na escuridão, na angústia, no afastamento de Deus. E o que encontraremos? Graças ao abandono de Jesus, em tudo isto que se manifesta como dor e separação de Deus não se encontra apenas o vazio e o pecado, mas o próprio Cristo que, como afirma o Concílio, “se uniu, a todo ser humano”. “Cordeiro inocente, com o seu sangue livremente derramado ele mereceu para nós a vida, e nele Deus nos reconciliou consigo mesmo e entre nós. E isto não vale apenas para os cristãos. Na verdade, Cristo deu a vida por todos” 61. Ninguém seja excluído de nosso amor.

Esta é a raiz de tantas obras destinadas a socorrer aqueles que mais se assemelham a Jesus crucificado: escolas, hospitais, nossa Cáritas Metropolitana e as iniciativas sociais e de compromisso nos vários âmbitos da convivência humana. Em todos os ambientes a Igreja encontra Jesus Cristo e, amando-o exatamente naquilo que é mais difícil, é chamada a propagar a comunhão. Não haja entre nós limites para o amor ao próximo!

Nossa Igreja empreenderá um esforço renovado em favor da família, da vida de todos, crianças, doentes, pobres, idosos e marginalizados a partir de um sério e valente compromisso de proposta e defesa, à luz do Evangelho e da Eucaristia, da vida humana desde sua concepção até sua morte natural. As Paróquias, as Pastorais, juntamente com os Movimentos e Serviços eclesiais, as Novas Comunidades, os Grupos de Espiritualidade familiar, à luz da Sagrada Família e da obediência de Jesus Cristo Filho de Deus, de Nossa Senhora e de São José, deverão trabalhar em favor de tudo o que puder contribuir para que homens e mulheres, e ainda mais os batizados, possam viver sua entrega, morrer a si mesmos e se tornarem verdadeiros construtores do bem de todos pelo dom generoso de sua vida familiar, até testemunharmos o maior de todos os bens: a vida nova e eterna em Jesus Cristo.

Queremos acolher o apelo da Conferência de Aparecida, quando diz que “a Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias. Ela não pode fechar-se àqueles que trazem confusão, perigos e ameaças ou àqueles que pretendem cobrir a variedade e complexidade das situações com ideologias ou agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários” .

Tal propósito exigirá de nós uma disposição para o diálogo: diálogo entre as pessoas dentro da Igreja, diálogo com os outros cristãos, diálogo com as pessoas de convicções diferentes. Assim, nossa Arquidiocese contribuirá para que floresça o que Deus semeou em todo coração humano e em toda cultura.

Aqui já se faz muito neste sentido. A presença dos nossos queridos Diáconos Permanentes, a serviço da caridade de Cristo, as Pastorais sociais, dentre elas a Pastoral carcerária, a benemérita Pastoral da criança, do Menor e do Idoso, o Instituto de Desenvolvimento Humano Integral e tantas outras manifestações do serviço da caridade. O Centro de Cultura e Formação Cristã, a Pastoral Universitária, o Centro de Bioética da Amazônia e um grande números de cristãos, leigos e leigas, membros de Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades, que representam nosso compromisso de estarmos no mundo, amando o mundo, sem ser do mundo, mas dialogando com o mundo para que se salve e tenha a vida nova em Cristo ressuscitado. Partilhar a competência de quem está no mundo por chamado de Deus contribuirá para que esta Igreja que vive em Belém seja fecunda semente de um mundo novo, de homens e mulheres novos, de uma humanidade nova em caminho para a Jerusalém do Céu.

A “Voz de Nazaré”, as Imagens da “TV Nazaré”, o som da “Rádio Nazaré”, que fazem parte de nosso serviço evangelizador, são divulgadas entre nós através de um dos presentes mais significativos dados pela providência de Deus a esta Igreja, a Fundação Nazaré de Comunicação. Esta providência se manifesta através de tantas pessoas na “Família de Nazaré” que se sentem responsáveis pelos nossos meios de Comunicação Social. Sinto-me agraciado por Deus por chegar a uma Igreja com grande capacidade para utilizar adequadamente os Meios de Comunicação, Social, nos quais reconheço o grande potencial de Evangelização, sentindo-me chamado a comprometer-me com eles. Olhemos para o alto e para frente, para os tetos do mundo, para que a boa nova do Evangelho chegue a todos, na força dos meios de Comunicação Social.

Tudo isso será instrumento de missão, disponibilidade à ação daquele que fecunda a ação apostólica da Igreja. Olharemos juntos para as fronteiras mais distantes dos corações e do mundo, para que o poder radiante da Cruz vença o mundo com amor!

6. IGREJA MISTÉRIO, COMUNHÃO E MISSÃO

Irmãos e irmãs, Deus nos ofereceu a Virgem Maria como companheira na peregrinação hoje realizada pelos caminhos da Igreja Mistério, Comunhão e Missão. Unido a Santa Maria de Belém, Nossa Senhora de Nazaré, inicio meu ministério episcopal em Belém, encontrando na obediência à vontade de Deus minha liberdade. Deixando a muito amada Igreja que vive em Palmas, sou chamado a dar a vida na Igreja em Belém do Pará, para que, na Eucaristia, toda minha vida episcopal seja consumida e entregue, para que esta Igreja belenense, todos nós, sejamos fiéis a Nosso Senhor Jesus Cristo e levemos a todos a esperança certa de sua Vida Nova e Eterna.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

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