Caríssimos padres, diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, irmãos e irmãs, a Semana Santa, com muita razão, é chamada a Semana Maior, a principal do ano litúrgico, pois, nela, celebramos a Páscoa do Senhor.
A Páscoa é o ponto de partida. Tudo no Cristianismo tem origem com o anúncio da ressurreição de Jesus. Neste anúncio, tem origem a Igreja, os Evangelhos e todo o Novo Testamento. A Páscoa representa toda a originalidade de Cristo diante de todos os profetas e fundadores de religião. Jesus Cristo não está encerrado no passado. Ele é sempre atual, é o Ressuscitado, o Vivente; está sempre presente em nosso meio exercendo o seu pode salvífico. A Páscoa representa também a originalidade da Igreja, uma comunidade que se reúne em torno de alguém que está vivo: o Ressuscitado que ela anuncia ao mundo.
Nesta tarde de Quinta-feira Santa, inicia-se, em toda Igreja, o Tríduo Pascal. E a Missa do Crisma, que estamos celebrando nesta manhã, é um prelúdio da Páscoa do Senhor. Esta celebração expressa três realidades importantes: a unidade e a comunhão da Igreja diocesana, chamada Igreja Particular; bênção dos óleos para o batismo e para a unção dos enfermos, consagração do óleo do Crisma – usado par a ungir as mãos dos padres no dia de sua ordenação, a cabeça do bispo em sua sagração episcopal e o altar e as paredes de um templo, quando este é dedicado a Deus. finalmente, nesta celebração, os padres renovam as promessas que fizeram em sua ordenação sacerdotal.
Vamos refletir, brevemente, sobre cada uma dessas três realidades:
A comunhão na Igreja Diocesana
A comunhão eclesial não é meramente fruto do esforço voluntarista de nossa parte; ela é, antes de tudo, a comunhão dos santos e da graça. Sem uma união com Cristo, através da graça da santidade de vida, não é possível construir a comunhão na Igreja. Esta verdade está contida na belíssima parábola da videira registrada no capítulo 15 do quarto Evangelho. A videira representa a Igreja; os seus ramos são os cristãos e o tronco é o Cristo ressuscitado. Sem uma união íntima com o "Tronco da Videira", através da graça, da fé, do amor e da esperança não existe vida na videira; não pode existir verdadeira unidade e comunhão. A comunhão eclesial é alimentada pela Eucaristia e esta faz a Igreja crescer na comunhão, que é construída a cada dia por reverência à Santíssima Trindade.
As pessoas divinas não vivem isoladamente; elas vivem numa eterna e perfeita comunhão. Por isso mesmo, em todo ato salvífico, cada pessoa da Santíssima Trindade desempenha a sua função específica. A comunhão eclesial deve inspirar-se na comunhão das três pessoas divinas. Assim, o princípio dela não é o isolamento, mas a reciprocidade. Ninguém deve dizer: "o meu movimento", por oposição aos outros movimentos; "a minha pastoral", em oposição às outras pastorais; "a minha paróquia", em oposição às outras paróquias. Os movimentos e as pastorais se completam entre si, e as paróquias de uma diocese devem viver na fraternidade, na comunhão até mesmo em nível econômico.
A bênção dos óleos do batismo e da unção dos enfermos; e a consagração do crisma
No Evangelho de hoje, Cristo, ao iniciar o seu ministério na Sinagoga de Nazaré, repete as palavras do profeta Isaias: "O Espírito do Senhor está sobre mim, Ele me ungiu e me enviou para evangelizar os pobres". A unção com óleo, que a Igreja realiza em diversos sacramentos, é um símbolo da unção do Espírito Santo. O óleo é alimento; ele nos revigora, dá-nos força. Toda pessoa que é ungida com ele, recebe a força do Espírito de Deus. quando Cristo prometeu, pela última vez, o dom do Espírito aos discípulos, Ele lhes disse: "Recebereis uma força vinda do alto". Através da unção com o óleo, essa força penetra em nossa vida e em nosso coração.
O óleo serve para iluminar. Toda pessoa ungida com óleo bento ou consagrado, é iluminada pelo Espírito Santo; mas, no sacramento do batismo, da confirmação e da ordem, a unção significa também a marca divina do Espírito Santo gravada em nossa alma. O Espírito de Deus é chamado, no Novo Testamento, de "o selo" de Deus.
A renovação das promessas feitas no dia da ordenação
Nesta Missa, o bispo pronuncia as palavras dessa promessa. São palavras belíssimas que expressam, de modo muito concreto, uma síntese da missão que a Igreja confere ao padre no dia de sua ordenação. Elas também recordam que os sacerdotes são cooperadores do bispo, que lhes confia o cuidado por uma parte do rebanho que a Igreja confiou à sua diocese. Os padres devem pregar a Palavra de Deus com dignidade e sabedoria, deve santificar o povo de Deus pela celebração do sacramento, de modo especial, a Eucaristia e o sacramento da reconciliação.
Essas palavras recordam que o padre precisa viver, intimamente, unido a Cristo, sumo e eterno sacerdote. Ele precisa ter, até mesmo, o estilo de vida de Cristo. Finalmente, essas palavras os lembram de que no dia da ordenação, o sacerdote recebe também o ministério da oração e, cada dia, deve rezar pela santificação do povo que lhe foi confiado. Daí, a importância da Liturgia das Horas.
A Missa do Crisma é presidida pelo bispo na catedral da sua diocese, tendo, ao seu redor, todo o prebistério, todos os padres e religiosos da diocese. Em torno do altar, o povo santo de Deus. Esta liturgia recorda que o bispo, sucessor dos apóstolos, é o centro visível da unidade e da comunhão eclesial.
Prezados padres, que essa seja a nossa missão: cada dia, cada hora, levar Cristo aos irmãos. Amém.