Uma locomotiva que desafia o tempo. Em Cruzeiro, no interior de São Paulo, um passeio de trem resgata memórias, celebra a história ferroviária do Brasil e emociona os passageiros. No trajeto, paisagens, olhares e acenos que revelam a paixão pelos trilhos. O Expresso Mantiqueira já está na estação… e nós fomos conferir.
Reportagem de Matheus Alves e Genilson Pacetti
Há viagens que não se medem em quilômetros, mas em suspiros. Em Cruzeiro, no Vale do Paraíba, o tempo parece ter feito uma pausa. Os trilhos voltaram a ganhar vida. O apito do trem voltou a soar e os olhos a se encher de brilho. É o expresso da Mantiqueira, transportando passageiros, sonhos, memórias e saudade.
Para uma jovem família com bebê nos braços, um capítulo inesquecível. A jornada mistura novidade e tradição. Por alguns minutos, o tempo desacelera entre o vai e vem nos trilhos e o embalo suave da jardineira. “É muito bonito, estar aqui e a gente fazer esse resgate. Então é lindo, é muito feliz e emocionante”, disse a arquiteta paisagista, Talita Carvalho.
Para as crianças tudo é encantamento, o barulho da locomotiva, o apito, o trem cortando a cidade como um rei aclamado em desfile. Olhares curiosos, sorrisos tímidos, mas alegria impossível de esconder “E agora só tem que segurar mesmo só na fé de Deus”, expressou o Pedro Antônio, de 6 anos.
E quem já viveu os dias da ferrovia sente no peito o reencontro com o passado. Um maquinista aposentado revive a emoção de ver a locomotiva em movimento. Agora peça de museu, mas com alma viva, uma ponte entre o ontem e o hoje.
“Depois de 30 anos vivendo dentro daquela locomotiva ali, a 4003, e hoje saí de Barra Mansa e vim reencontrá-la em Cruzeiro, quem não se emociona”, contou o maquinista aposentado, João Batista.
Essa é uma locomotiva da década de 70 movida a diesel. Aqui no passeio, ela chega a 30 km/h, essa velocidade máxima. Os passeios acontecem aos sábados e domingos, com início às 8 da manhã até às 6 da tarde, com um intervalo de 1 hora e 30. O percurso dura em torno de 30 minutos, 6 km na ida e 6 km na volta. Também com 30 minutos, passando por diversas paisagens. Tá na hora de desembarcar agora.
“São 2 km no centro da cidade, 2 km nos bairros mais afastados e 2 km já aqui no pé da Serra da Mantiqueira. A gente sai da estação central, vem até a estação Rufino de Almeida, que também é uma estação centenária”, explicou o secretário de Desenvolvimento Econômico de Turismo, Edir Ribeiro.
Por trás do projeto, um esforço conjunto para resgatar um patrimônio nacional, para que o Expresso Mantiqueira se torne símbolo de uma era de ouro. “De Cruzeiro a Passa Quatro, sim, a gente já tá trabalhando nisso, que é levar a linha até o túnel, que é a divisa entre Minas e São Paulo. Do outro lado a gente já tá com a linha operacional”, informou o ferroviário, Bruno Dias.
Bom, se um dia os trilhos adormeceram, hoje despertam ao som da memória. E quem embarca no Expresso Mantiqueira não leva apenas paisagens nos olhos, leva histórias no coração, porque o trem passa, mas o que ele desperta permanece. “Lindo, lindo. Vale a pena”, concluiu Talita.