Alternativas

Especialistas explicam como driblar a alta nos alimentos com a inflação

Segundo o IBGE, óleo de soja, arroz e leite empurraram a inflação para cima 

Thiago Coutinho
Da redação

Trabalhar com a substituição e conversas em família sobre os gastos domésticos são algumas dicas para driblar a alta nos preços / Foto: Wesley Almeida (CN)

De acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na semana passada, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15) subiu para 0,45%, logo após ter vindo de uma alta de 0,23% registrada em agosto. Esta alta se deu em grande parte por conta dos alimentos. O óleo de soja, o arroz e o leite longa vida subiram, respectivamente, 20,33%, 9,96% e 5,59%.

Além disso, por conta do isolamento social imposto para combater a pandemia, as famílias passaram mais tempo dentro de casa. Logo, artigos para residência também registraram alta nos preços: tevê, som e informática aumentaram em média 2,04%, enquanto eletrodomésticos subiram 0,66%.

Como, então, segurar os gastos com alimentos, por exemplo, quando o orçamento familiar não consegue acompanhar todos esses reajustes? “Temos que trabalhar com a substituição. Alguns itens, por estarem na entressafra e também por conta da alta do dólar, que está batendo a quase R$ 5,60, realmente estão mais caros”, explica o economista Alessandro Gomes. “Substitua, por exemplo, o feijão pela lentilha. Procure alimentos que tenham um mesmo valor nutritivo, mas que estejam mais em conta. Só assim conseguiremos segurar o orçamento doméstico”, acrescenta.

“Criatividade na cozinha e na geladeira é a palavra-chave”, ressalta o economista Humberto Felipe. “Alimentação é um gasto sagrado. Quando o bolso fica curto é preciso criar alternativas para diminuir os gastos e manter uma alimentação saudável. Vale a pena aproveitar esses momentos para fazer uma avaliação sobre os hábitos alimentares”, aconselha o especialista.

Essas altas da inflação são mais sentidas entre as pessoas com menor poder aquisitivo. “Esses itens na vida dos mais abastados representam um percentual muito pequeno. Por isso eles sofrem muito menos e as camadas mais baixas, C, D e E sofrem um pouco mais”, explica Gomes. 

Conversa em família

Outra maneira, segundo o economista, de que as famílias podem lançar mão para segurar os gastos em tempos pandêmicos são as reuniões familiares. Reeducar os hábitos diários é fundamental para que os gastos sejam controlados. “O negócio é se reunir, conversar e dizer: ‘precisamos nos controlar’”.

E estas mudanças começam em detalhes básicos como, por exemplo, o tempo no banho. “Em casa fazemos isso”, admite Gomes. “Um chuveiro não precisa ficar ligado o tempo inteiro, é um grande vilão no gasto de energia elétrica. Evitar lavar calçadas ou a garagem com água e, como disse, trabalhar a substituição dos alimentos. Muitas vezes há alimentos que são mais nutritivos e mais baratos. Se fizéssemos isto mais regularmente, o mercado regularia o preço dos alimentos”, pondera.

Além disso, para Gomes é essencial que se crie uma lista crescente dos gastos previstos no orçamento: do maior gasto para o menor e, assim, deduzir de onde se pode diminuir o que vem consumindo mais da renda mensal.

Décimo terceiro: como usá-lo

Com a chegada do fim do ano, uma renda extra será aplicada na economia dos trabalhadores brasileiros: o décimo terceiro salário. Em 2019, segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foram injetados R$ 214,6 bilhões na economia brasileira.

Em tempos pandêmicos e com a inflação alta, será um dinheiro que pode ajudar de diversas maneiras. “Se o trabalhador tem alguma dívida que esteja cobrando juros altos, o ideal seria quitá-la. Se não tem dívida, reserve todo ou parte do dinheiro para um fundo de emergência”, aconselha Gomes. “Sempre faço esta analogia com a caixa d’água de casa: temos uma reserva de água em casa e assim é com o dinheiro, é bom ter uma reserva para não partir para um empréstimo caro”, adverte.

E o futuro?

Existem algumas conjecturas do que pode acontecer nos próximos meses. “Coloquemos três cenários básicos que podemos ter: um pessimista, um médio e um mais otimista”, examina Gomes. “Se realmente o controle da pandemia por meio de vacina não for possível tão cedo, então teremos uma piora da situação econômica, a recessão vai piorar e o número de desempregados vai aumentar. Já num cenário mais provável é que em fevereiro tenhamos uma vacina, pelo menos segundo o governo do estado de São Paulo. E, se tivermos aqui, teremos em outras partes do mundo, o que vai melhorar a economia mundial e, por consequência, a do Brasil também”, reitera o economista.

Humberto teme a criação de mais impostos. “Os impostos servem para que a máquina administrativa funcione e preste serviços para a sociedade. Entretanto, no Brasil, boa parte dos impostos que o povo paga com muito sacrifício serve somente para alimentar a própria máquina administrativa inchada e onerosa, mas não servem em nada para dar retorno à sociedade”, pondera. 

Com relação à questão do emprego, no Brasil, segundo último levantamento do IBGE, são pouco mais de 13 milhões de pessoas desempregadas. E não será fácil fazer com que o mercado reabsorva todo este contingente. “Esta conta nunca será zerada, vamos diminuí-la, mas sempre haverá um número de pessoas desempregadas, o que é normal numa economia capitalista. Acredito que este número será reduzido pela metade até o final de 2023 ou 2024”, considera Gomes. 

O cenário mais otimista de todos estes, para o economista, seria se a vacinação começasse entre outubro e novembro. “Assim, a perspectiva econômica mundial melhora e a nossa, mesmo sem a vacina, também melhoraria. Nossas exportações também, pois os investidores teriam a percepção de risco diminuída e os desempregados, mesmo demorando a serem recolados, estariam melhores entre 2021 e 2022”, finaliza.

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