Além de ser um alimento indispensável à criança, o ato de amamentar beneficia a saúde da mulher sob diversos aspectos, inclusive prevenindo doenças graves, como o câncer de mama
Thiago Coutinho
Da redação
Estimativas do Ministério da Saúde apontam que 235 mil litros de leite humano foram doados em 2023, a partir da ação de 198 mil mulheres. Foram diretamente beneficiados 225.762 recém-nascidos — 8% a mais do que em 2022, o que representa, segundo as autoridades, 55% da real necessidade por leite humano no Brasil. E para fazer um chamado à população acerca da importância do leite materno, o Governo Federal lançou a campanha “Doe leite materno: vida em cada gota recebida”.
O leite materno é um alimento vital para recém-nascidos, especialmente para os prematuros ou que nasceram com baixo peso, ou ainda aqueles que são internados nas Unidades Neonatais e que não podem ser amamentados pela própria mãe. E um pouco desse alimento já pode salvar muitas vidas: dependendo do peso do prematuro, 1 ml já é o suficiente para nutri-lo cada vez em que for alimentado (confira quadro ao final deste texto com mais informações a respeito).
“O leite materno é rico em vantagens para o bebê”, afirma a ginecologista e especialista em reprodução humana, Carolina Curci. “O leite materno é o melhor alimento que existe para o bebezinho de até seis meses de vida. Se você ver a composição do leite materno perceberá que é rico em nutrientes, sais e minerais. É considerado a primeira vacina para o bebê porque ajudará no sistema imunológico. As crianças ficam mais calmas quando têm vínculo com mãe e filho”.
Outro dado interessante: não existe leite materno ruim. “Não existe isso. Todas as mulheres são capazes de produzir o melhor leite que podem para o seu bebezinho”, assegurou a médica.
Prevenção de doenças
Amamentar pode ser uma ótima maneira de prevenção contra o câncer de mama — que, só em 2023, atingiu 73 mil mulheres, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). E também de inúmeras outras doenças que podem acometer a mulher.
“A amamentação traz inúmeros benefícios para a mamãe”, afirma a médica. “Ajuda na recuperação pós-parto, para que a mulher tenha menos sangramentos. Evita a anemia. Além disso, o gasto calórico faz com que ela recupere melhor o seu corpo no pós-parto”.
Evite mamadeiras
Um estudo realizado pela Fiocruz aponta que a indústria de produção de alimentos infantis pode trazer prejuízos à amamentação — um exemplo disso seria o uso precoce de mamadeiras, que podem levar desde problemas de sucção do bebê até o impacto direto no desenvolvimento cognitivo posterior.
“A mamadeira faz com que a criança não desenvolva a questão do palato. Ela não vai completar o desenvolvimento oral da criança. Então, quando a gente usa a mamadeira, pode ter confusão de bico, a criança deixa de amamentar no peito por quê? Porque é mais fácil usar a mamadeira”, explica a obstetra.
Quando a criança faz força para sugar o peito da mãe, isso beneficia seu desenvolvimento. Com o uso desenfreado da mamadeira, essa progressão natural não acontece. “Ele vai pegar a mamadeira e vai tomar o leite. Então, a gente precisa entender que a facilidade de dar mamadeira também traz as suas complicações. Podem ter crianças que desenvolvam, sim, confusão de bico”, observa.
A fotógrafa Larrissa Ferreira é um exemplo do quão importante é este momento de amamentação. Mãe de duas meninas, Larissa reconhece que amamentar é mais do que apenas alimentar a criança. “Amamentar tem sido uma jornada única e especial para mim, uma experiência de doação e amor incondicional”, pondera. “É uma forma de doar a vida por meio de um líquido precioso. É uma escolha consciente, um sacrifício que faço com todo o amor do mundo, e é, sem dúvida, gratificante. Cada momento de amamentação é um vínculo especial que fortalece a conexão entre mim e as minhas filhas, e cada sorriso delas vale todo o esforço”.
Amamentar não é fácil
Embora possa parece um processo natural para as mulheres, amamentar é um processo complexo, como explica Carolina. “A gente precisa entender que amamentar não é fácil”, adverte a médica. “Às vezes, a mulher encontra dificuldades no pós-parto. Amamentar pode gerar dor, gerar fissura”, detalha.
E muitos fatores podem fazer com que a mulher não produza leite, especialmente bloqueios emocionais. “Quando o bebê não faz o estímulo corretamente, quando a paciente está passando por um trauma muito importante. De repente, gemelar [gravidez de gêmeos] e um dos recém-nascidos, infelizmente, vem a falecer. Esse trauma todo pode dificultar, sim, a produção de leite. Mulheres que passaram por câncer de mama e não têm mais o tecido, só têm a prótese no lugar. Então, esses são alguns fatores”, detalha a obstetra.
Karolina de Souza Gomes passou por esta situação. Ainda no hospital, notou que não produzia leite suficiente para amamentar sua filha. Os médicos disseram que isso mudaria, que a sucção feita pelo bebê faria com que o leite “descesse”. “Mas, infelizmente, isso não aconteceu”, lamenta. “Entramos com a fórmula de orientação médica, e foi uma decisão muito clara e objetiva nossa, porque ela precisava se alimentar de uma forma adequada. E as fórmulas hoje em dia são confiáveis”, afirma.
Sendo, Karolina desenvolveu outras maneiras de se conectar com sua filha. “E o que eu falo para as outras mães é para que não se citam culpadas por não conseguirem amamentar. Existem outras formas de se conectar com o bebê. Quando ia dar o banho na minha filha, por exemplo, esse era aquele momento de mãe e filha, quando ela cruzava seu olhar com o meu. Claro que se você pode amamentar e se tem o leite, é o certo a se fazer. Mas se não tem, existem outras formas para poder suprir a necessidade da criança”, aconselha.