As mudanças climáticas registradas na Antártida podem agravar os impactos ambientais no mundo. Entre eles, a elevação do nível do mar e a erosão marinha. O tema foi debatido em um encontro científico em Londres.
Reportagem de Wallace Andrade
Imagens da Reuters
A Antártida está mudando e com uma velocidade bem maior que a registrada em anos anteriores. Estudos comprovam que o nível do mar aumentou por causa do que acontece nessa parte do mundo.
Pesquisas iniciadas em 2020 apontam o aumento das temperaturas, o derretimento das geleiras, o que poderá provocar o desaparecimento de 49% das praias do planeta até o final do século. “Na realidade, as coisas que estamos fazendo estão impactando a Antártida fortemente e cada vez mais. Sabemos que o oceano ao redor da Antártida absorve uma grande quantidade de calor da atmosfera, inclusive o calor que geramos com o aquecimento global”, explicou o oceanógrafo do British Antarctic Survey, Michael Meredith.
O aumento do nível do mar tem reflexos sérios nas últimas décadas. A grande preocupação dos cientistas é com o inchaço das águas, que tende a agravar também o crescimento da erosão marinha.
Pelo menos 60% do litoral brasileiro tem registros desse fenômeno. A erosão marinha é notada em várias regiões do país. Uma das mais antigas acontece na praia de Atafona, litoral norte fluminense.
As imagens de setembro do ano passado mostram um cenário em constante mudança. Há pelo menos meio século, a erosão corrói essa parte do litoral fluminense, que pertence ao município de São João da Barra.
Aqui onde o rio Paraíba do Sul desemboca, o aumento do nível do mar é inquestionável. “Áreas como em Atafona, que sofrem com problema crônico e extremo da erosão costeira, tem uma projeção para que em 28 anos percam ainda cerca de 150 m lineares de suas áreas litorâneas”, apontou o geógrafo marinho e chefe de estudos costais da UFF, Eduardo Bulhões.
6785 km separam a praia de Atafona, da Antártida. Por isso, o derretimento das geleiras não afeta só a vida dos pinguins, mas a vida de todo um ecossistema do planeta. “O que estamos vendo são ondas de calor extremas, mudanças de temperatura na Antártida, nunca vista antes. Estamos vendo o gelo recuando a uma velocidade que jamais imaginaríamos há 20 anos”. Ao ser perguntado se existe um jeito de mudar esse cenário, o oceanógrafo faz um alerta. “Precisamos dizer a verdade científica, convencer o máximo de líderes mundiais. Se quisermos projetar nossa sociedade para o próximo século, precisamos levar isso a sério e começar agora”, concluiu Michael Meredith.