Na íntegra

Entrevista com mestrando em Exegese sobre o Livro do Êxodo

Neste mês de setembro, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propôs o estudo de alguns capítulos do Livro do Êxodo (capítulos 15,22 a 18,27), que é conhecido como o “Livro da Travessia”.

O noticias.cancaonova.com conversou com o mestrando em Exegese e Arqueologia Biblica, padre Antônio Xavier Batista, sobre as particularidades desse livro.

noticias.cancaonova.comQual a peculariedade do livro do êxodo?

Padre Xavier – O livro do Êxodo faz parte de um grupo de cinco livros, chamado de Pentateuco – os cinco rolos da Lei, ou seja, a Torah.

Ele narra a grande intervenção de Deus sobre a vida do povo de Israel desde os preparativos para saída do Egito, até a chegada a Terra Prometida. Neste caminho, Moisés é o intermediário entre Deus e o Povo. A partir dos acontecimentos, alegrias, infelidades, dificuldades e tantas outras coisas que o povo de Deus vai vivendo, Deus vai se revelando, e revelando a sua vontade até formar um povo que possui sua predileção e proximidade.

É o livro da Sagrada Escritura com este caráter especial. Além de narrar a vida de Moisés que será a figura mais importante do judaismo antigo, inclusive no tempo de Jesus.

A Moisés foi dada a lei, ou seja foi dito o que Deus deseja do homem. Com Moisés acontece a primeira aliança entre Deus e o povo, antes era apenas com os patriarcas e não todo o povo, deixando o sinal que Deus realmente deseja fazer aliança pessoalmente com o ser humano, não com todos, mas com cada um. O livro do Êxodo revela também a primeira organização do povo de Deus, ainda em ambrião, àquilo que se tornaria mais tarde o Reino de Israel.

noticias.cancaonova.com –
O que ele traz de ensinamentos para nosso tempo?

Padre Xavier – Posso dizer que o próprio livro já é um itinerário, um projeto de vida, todos os fatos ali narrados na vida do povo de Deus são comuns na vida de todos os tempos e por isso na nossa também. Um povo que é escolhido, que tem dificuldade em construir a história para a qual já é vocacionado, precisa andar no deserto muito tempo, e no auge de suas dificuldades Deus os salva. Um povo que se desesperou, mas ao final Deus conduziu a história até a terra prometida.

É bem o itinerário de nossa vida, onde na vida concreta é que se constrói a história da nossa salvação, perceber que não escrevemos nossa história sozinhos e que mesmo Deus estando sempre presente, o deserto continua sendo um lugar inóspito e de dificuldades. Outra coisa importante é a perseverança de Moisés, o único que foi fiel até o fim e assim vemos que por seu esforço todo o povo foi perdoado.

Assim, o ensinamento principal é nunca separar a fé, a presença de Deus da vida concreta, aprender ali a escutar sua voz e ao mesmo tempo esforçar-se para ser fiel a Ele, superar as dificuldades, não seguir o que é mais fácil para não correr o risco de perder a “a terra prometida”. É da fidelidade a vontade de Deus que depende a felicidade do homem, ou melhor dizendo a felicidade duradoura, fora dela tudo se esvai com velocidade.

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O que significa essa travessia?

Padre Xavier – A Travessia do Mar vermelho faz parte dos momentos mais sublimes deste livro porque marca, de verdade, o surgimento do povo Deus. De tal forma que deve ser celebrada depois de forma perpétua, uma vez que se não houvesse a superação daquele obstáculo não existiria um povo de Deus.

Um detalhe é o Egito que fica para trás, nunca mais aquele povo terá contato com o Egito.Ou seja. é um rito que se traduz num momento de abertura ao novo e ao mesmo tempo de abandono de muitas coisas. Não se podia levar muita coisa porque senão não se conseguiria escapar a tempo, ficam para trás projetos e lembranças no entanto é do outro lado do mar que está aquilo que os fará realmente felizes, claro após superar o deserto.

Mais tarde essa travessia será interpretada como o próprio sacramento do Batismo, ou seja a passagem da morte para a vida, que de certa forma já era isso para o povo daquele tempo, só que com Jesus tudo isso é elevado a um grau ainda mais alto.

noticias.cancaonova.com – Alguns trechos do livro são ricos em detalhes sobre os ritos da época. Como o senhor sugere o estudo dessas partes?

Padre Xavier – Os ritos liturgicos são sempre cheios de detalhes e realmente precisa-se de bastante atenção para não se confundir diante deles porque fazem parte de diversas tradições antigas.

As notas explicativas das nossas Biblias já trazem uma boa ajuda, pessoalmente da Biblia da CNBB que faz referência aos detalhes mais importantes sem delongar-se muito. Sobressai em cada um deles a iniciativa de Deus, mesmo no encontro de Moisés e Deus na sarça ardente, a iniciativa é sempre de Deus.

Podemos dizer que se trata de um livro realmente de liturgia. Para um estudo é bom sempre lembrar que a Missa foi inspirada sempre em ritos mais antigos e assim, diversas partes da Missa encontram seu sentido primeiro em muitas páginas dos rituais deste livro, não apenas, mas também. A medida que se lê, é possível comparar com aquilo que encontramos em nossas celebrações.

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