Psicóloga explica “psicologia de reforço intermitente” utilizada no jogo Pokémon Go
André Cunha
Da redação
Mais de 75 milhões de usuários, em todo o mundo, já baixaram a nova sensação do universo virtual, o Pokémon Go. O aplicativo para aparelhos móveis foi lançado em julho deste ano, mas no Brasil só chegou no início de agosto.
A ideia do jogo é baseada no desenho animado da década de 90, onde Ash, um garoto que queria se tornar treinador de Pokémon, sai à caça dos monstrinhos animados da cultura japonesa.
Para muitos, a febre do Pokémon Go é alimentada pela geração dos que nasceram das décadas de 80 e/ou 90, que assistiram ao desenho e agora têm a possibilidade de ser um “treinador de pokémons”. Quanto mais criaturinhas captura, mais o jogador pontua e evolui no game. Porém, a empresa fabricante já prometeu tornar o jogo ainda mais empolgante para os “Pokéfans”.
Na psicologia, a forma de pontuação do jogo se chama “psicologia de reforço intermitente”, o que significa recompensar de alguma forma o jogador em diversos tempos. Para a psicóloga Elaine Ribeiro, isso obriga que o jogador fique alerta o tempo todo e ative o jogo com frequência, pois, seu objetivo é ganhar as recompensas, que somadas à tecnologia de realidade aumentada, trazem uma sensação de “vida” ao jogo e aos jogadores envolvidos.
Isto, segundo ela, condiciona o comportamento das pessoas ao jogo, favorecendo a instalação do vício, já que a realidade imaginária proposta dá ao jogador uma série de sensações emocionais que despertam ainda mais o interesse por manter-se em jogo, sendo desafiado.
“Um vício quando estabelecido não é fácil nem de ser reconhecido nem interrompido. Do ponto de vista neurológico, é como se estivéssemos viciados a uma droga ilícita. As regiões cerebrais atividades com o vício dos jogos e a satisfação causada, são as mesmas, por isto, temos os mesmos efeitos, quando já viciados, somos privados dos jogos”, explica Elaine.
Equilíbrio
Júlio César, 25 anos, mora em São Paulo, capital. Como muitos dos usuários, também usa o Pokémon Go influenciado pelo desenho animado que assistia na infância. A experiência que ele faz como jogador é, segundo ele, bem dosada, jogando nos intervalos das suas atividades prioritárias.
“Não sei o tempo específico que fico jogando. Meu app fica ligado sempre, quando encontra pokemons ele me avisa, ai eu abro e capturo. Sair para procurar, só fiz uma vez até agora, mas procuro nos trajetos rotineiros: casa – trabalho; trabalho – faculdade; faculdade – casa”, explicou o jogador.
Júlio conta que quando baixou o aplicativo se via muito tempo nele, principalmente por ser novo e querer aprender a usar. Mas logo se deu conta de que precisava se organizar. “Só jogo quando avisa que tem Pokémon por perto ou para conseguir algumas coisas no pokestop (local onde ganhar pokebolas, ovos de Pokémon e entre outros brindes)”.
Como católico praticante, ele afirma que o jogo não lhe “roubou” o tempo que deve ser dedicado a Deus e continua praticando a fé equilibrando lazer, estudos, trabalho e etc.
“Sempre soube separar! O jogo tomou um grande tempo do meu dia no início, mas revi os conceitos e vi que estava deixando me levar pelo jogo, mas o tempo dedicado a Deus não roubou, continuo fazendo minhas orações nos horários que sempre fiz. O jogo mudou nada”.
A psicóloga Elaine Ribeiro concorda com o a atitude de Júlio. Para ela, o equilíbrio naquilo que se faz é o mais importante no uso de qualquer tecnologia. “O que fará diferença neste esquema de reforço tão poderoso é o autocontrole, pois o vício se instala naqueles que não conseguem manter o controle da hora de parar. Quando falamos de crianças, há a possibilidade de controle dos pais, o que não acontece com adultos”, completa.