Alergista explica que a primavera é uma estação de transição, com alternância de calor, frio e umidade, o que favorece crescimento de ácaros
Aline Imercio
De São Paulo (SP)
A primavera chegou, e com ela alguns quadros alérgicos podem piorar, principalmente devido à presença de pólen e ácaros. Para entender um pouco mais sobre as medidas que pessoas com doenças como rinite, sinusite e asma devem ter nesta época do ano, a equipe do Jornalismo Canção Nova entrevistou a médica alergista e imunologista Dra. Maria Elisa Bertocco Andrade. Ela também é diretora científica adjunta da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
Por que acontece essa piora dos quadros alérgicos na primavera?
Dra. Maria Bertocco – O que acontece com a primavera é que uma estação de transição. Então, a gente tem períodos que esquenta, que esfria, tem também a questão da umidade, e isso favorece o crescimento dos ácaros. E os ácaros são os principais causadores das alergias respiratórias e oculares. É comum a piora da rinite, da conjuntivite e da asma nessa época do ano, porque existe essa proliferação dos alérgenos. Além disso, na primavera, estação das flores, a gente tem os pólens. E os pólens também podem causar alergia, não só os de flores, mas também o das gramas. E isso, no ar, também vai levar a um aumento das alergias respiratórias em pessoas que são sensíveis aos pólens.
E para quem sente essas alergias piorarem na primavera, o que é aconselhável fazer?

Dra. Maria Bertocco/ Imagem de Gilberto Pereira
Dra. Maria Bertocco – O mais importante, não só na primavera, mas em qualquer estação do ano, é o controle ambiental daquilo que a gente consegue, que é dentro da residência e dos espaços fechados. É indicado, por exemplo, fazer a limpeza com pano úmido, para tirar o ácaro, porque, se a gente passa a vassoura ou espanador, ele fica em suspensão e até piora. E se for aspirador, use com filtro que chama EPA, que vai segurar o pó, porque alguns aspiradores o pó entra e acaba saindo, então, tendo um filtro, já existe uma diminuição dessa saída, e realmente retira esses alérgenos. Mantenha a janela fechada quando tiver muito vento, porque isso vai trazer os pólens e outras partículas de poluição. De manhãzinha e à tardezinha, pode abrir um pouco a janela, porque tem menos pólen e isso ajuda a renovar o ar. E, obviamente, o externo foge ao nosso controle. Então, evite, por exemplo, corridas e exercícios físicos no período que tem mais incidência desses pólens, que é no meio do dia.
O mais importante, não só na primavera, mas em qualquer estação do ano é o controle ambiental daquilo que a gente consegue, que é dentro da residência e dos espaços fechados.
E para quem precisa trabalhar fora de casa e estar mais tempo na rua, o que pode ajudar?
Dra. Maria Bertocco – A lavagem nasal com soro é essencial para retirar os poluentes. E, dependendo da intensidade dos sintomas, o ideal é procurar um médico para saber qual é o melhor medicamento para diminuir a inflamação que o alérgeno provoca. Não use medicamento por conta própria, porque ele tem o efeito benéfico, mas também tem o efeito colateral. Quem vai saber dosar a indicação e a quantidade é sempre o médico.
Nesta época, tem alguma forma de as pessoas descobrirem a diferença entre estar gripado ou estar com algum quadro alérgico?
Dra. Maria Bertocco – Tem sim. Normalmente, a gripe causa mal-estar, vem com febre, dor pelo corpo, dores articulares, fraqueza e algumas pessoas ficam inapetentes. Já a rinite, pode até causar uma sonolência, porque a pessoa não dorme muito bem a noite por conta da obstrução nasal, mas, normalmente, não tem febre, não tem secreção esverdeada, que é comum na infecção, não tem inapetência e dores articulares. Então, os quadros são bem diferentes.
Não use medicamento por conta própria, porque ele tem o efeito benéfico, mas também tem o efeito colateral. Quem vai saber dosar a indicação e a quantidade é sempre o médico.
Quadros alérgicos, como rinite e sinusite, são comuns no Brasil?
Dra. Maria Bertocco – Sim. A rinite tem crescido de uma forma bem importante. Tem alguns estudos que falam que até 50% da população brasileira tem rinite. Isso acontece exatamente pela mudança climática que está favorecendo a existência desses alérgenos e dos irritantes.
A asma também cresceu?
Dra. Maria Bertocco – Sim, porque a nossa mucosa é uma continuidade. A mucosa do nariz continua com a mucosa dos seios da face, das vias respiratórias médias, da traqueia e dos brônquios. Então essa resposta de hipersensibilidade é geral nas mucosas respiratórias. E o nariz é importantíssimo, ele vai filtrar o ar, ele vai aquecer e fazer essa limpeza. Quando o nariz não está funcionando direito por excesso de trabalho, a pessoa começa a respirar pela boca e aí entra esse ar não condicionado no pulmão e piora o excesso de defesa dos brônquicos. Mas se você trata o nariz, ele vai exercer sua função e o ar chega de uma forma mais tranquila para o pulmão. E de uma certa forma, a inflamação do nariz repercute também na inflamação do pulmão, porque o sistema imune é interligado. Então, o tratamento da asma, muitas vezes, é feito conjuntamente com o tratamento da rinite, no nariz.