Biomas brasileiros estão no tema da Campanha da Fraternidade desse ano; entenda sua importância e formas de preservá-los
André Cunha
Da redação
Novidade para uns, para outros nem tanto. Os biomas brasileiros voltaram à pauta das conversas desde a última Quarta-feira de Cinzas, 1º, quando a Igreja no Brasil iniciou a Campanha da Fraternidade 2017, com o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”.
O tema faz parte do currículo do Ensino Fundamental nas escolas do país, logo, quem não está nesse grupo pode estranhar o assunto. Portanto, para o bom entendimento de todos, cabe a pergunta: o que é um bioma?
O bioma, na definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o “conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria”.
O Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Nas imagens abaixo, um resumo apresenta as localizações e as principais características de cada um deles. Clique e saiba mais.
O geógrafo Gerson de Freitas Junior explica que os biomas estão interligados entre si em muitos aspectos, apesar de muitas pessoas pensarem que problemas distantes fisicamente, como o desmatamento na Amazônia, no Cerrado ou na Caatinga, não afetam suas vidas.
“Nesse sentido, mesmo que estejamos à grande distância da Amazônia, por exemplo, as chuvas que são formadas nesse bioma trazem muitos benefícios à qualidade de vida de populações que habitam áreas localizadas em outros biomas”, afirma o especialista, destacando a importante relação ecológicas que têm entre si.
As bacias hidrográficas que abrangem áreas de mais de um bioma são um exemplo dessa relação, além de faixas de transição entre eles, que são trechos de contato entre os tipos de vegetação.
Portanto, afirma o especialista, a conservação dos recursos hídricos depende, em várias situações, de gestão integrada, como no caso das Bacias hidrográficas Amazônicas, da Bacia do Rio São Francisco, da Bacia do Rio Paraná, entre outras.
Estado de conservação dos biomas
Apesar de ter um cuidado para não generalizar, Gerson afirma que, de forma geral, os biomas estão todos muito ameaçados por usos inadequados (principalmente agropecuários), ineficiência das políticas de conservação e descompasso entre economia e conservação socioambiental.
“Desmatamento, poluição dos solos e dos recursos hídricos, estão entre algumas das principais ameaças aos biomas brasileiros (terrestres e marinhos). Da mesma forma, não podemos deixar de citar os extremamente ameaçados biomas especializados, como mangues, restingas e campos de altitude, por exemplo”.
Gerson alerta – considerando os biomas como riquezas brasileiras – que não é possível pensar um projeto de desenvolvimento nacional sem que se leve em conta, “de forma profunda e séria, todo o potencial socioambiental dos biomas brasileiros”.
“Quando pensamos em riqueza, não podemos nos restringir a aspectos puramente financeiros. Cresce no mundo o entendimento de que riqueza é um termo com muitos significados que não se desvinculam: riqueza econômica + riqueza cultural + riqueza paisagística + riqueza ecológica + riqueza genética + riqueza espiritual + riqueza histórica. Os biomas brasileiros evidenciam essa concepção mais ampla, pois resguardam patrimônio socioambiental único, ou seja, riqueza em tamanha magnitude, que não se encontra em outros países”, afirma.
Confira reportagem especial sobre biodiversidade brasileira:
Preservação
Gerson lembra ainda que “as florestas são as melhores amigas dos seres humanos, direta e indiretamente”. Nesse sentido, afirma que, em nível social, é preciso que haja conscientização sobre a importância da conservação dos biomas e cita a CF 2017 como exemplo de “esforço institucional”.
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“A Campanha da Fraternidade é um exemplo de como pessoas e instituições podem se mobilizar em defesa dos biomas. Ela representa um esforço institucional no caminho da proteção dos biomas e pode deixar um legado de ações efetivas em prol da defesa dos biomas brasileiros”.
Além do mais, propõe o especialista, cada pessoa poder escolher a melhor forma de contribuir, como por exemplo, manifestando suas posições junto aos representantes eleitos e órgãos dedicados à proteção ambiental, e também participando de ONGs e grupos organizados. E ainda, defender a criação de Unidades de Conservação terrestres e marinhas, sejam elas públicas ou particulares.
“Proteger os biomas e o conhecimento tradicional sobre eles é uma demonstração de cidadania, respeito e senso de coletividade. É como uma herança comum, um dos maiores presentes que a geração atual pode deixar para as futuras gerações, conclui o geógrafo.
A Campanha da Fraternidade acompanha a Igreja no Brasil, sobretudo, durante a Quaresma, mas a proposta é que a temática da iniciativa se prolongue por muito tempo.