Artigo - Doutrina Social

Entenda como a Doutrina Social da Igreja vê as empresas

Mestre na área explica que Doutrina Social oferece proposta ética para ação e organização da atividade empresarial

Padre Antônio Aparecido Alves*

“O processo produtivo deverá organizar-se de maneira que favoreça a humanização da pessoa” / Foto: Arquivo Canção Nova

A responsabilidade social das Empresas

Em nossos dias a globalização reforçou um processo em parte iniciado com a multinacionalização dos anos 70, isto é, o emergir da Empresa como ator primário da economia e da sociedade mundial. Elas trazem a marca dos quatro “is” da sociedade moderna: industrialização, inovação tecnológica, indivíduos capazes e investimentos.

Estima-se que as vinte maiores empresas têm um faturamento maior do que o dos 80 países mais pobres colocados todos juntos. Ademais, a vida dos cidadãos é afetada pelas decisões que, diariamente, são tomadas em suas matrizes, ou então, dentro de seus países, por sua participação por vezes espúria no Governo, através do pagamento de propina a gestores públicos para liberar financiamentos ou ganhar licitações, como estamos vendo no Brasil.

Uma visão positiva da Empresa

A Doutrina Social da Igreja tem uma visão positiva da Empresa e de sua função na economia. O que é a Empresa? João XXIII na Mater et Magistra (1961) se reporta a Pio XII e ensina que ela é uma comunidade de pessoas e que todos nela devem participar de sua gestão e do seu lucro (MM 32; 91-96).

A Constituição Pastoral Gaudim et Spes (1965) recolhe esses ensinamentos e define a Empresa como uma associação de pessoas, isto é, homens livres e autônomos. Daí a necessidade de que, respeitadas as funções de cada um, se promova uma conveniente participação ativa de todos na gestão da Empresa e na tomada de decisões, por si mesmos ou por representantes livremente eleitos (GS 68).

As demais encíclicas sociais têm por base esse ensinamento. É importante destacar o pensamento de Bento XVI, na Caritas in Veritate (2009) onde ele afirma que a atividade econômica não pode prescindir da gratuidade, que difunde e alimenta a solidariedade e a responsabilidade pela justiça e o bem comum nos diversos sujeitos e atores sociais (CV 36).

Por sua vez, um destaque também para o ensinamento do Papa Francisco na Evangelii Gaudium (2013) sobre a responsabilidade do empresário pelo bem comum, com seu esforço de multiplicar os bens para que eles cheguem equitativamente a todos (EG 203) e o chamado na Laudato Si’ (2015) à responsabilidade ambiental da empresa (LS 190-195).

Uma finalidade humana

Existe uma constante no ensino social da Igreja: o caráter humano da empresa. A atividade econômica é uma atividade realizada por pessoas e deve se orientar ao serviço delas, pois, como afirma a Gaudium et Spes, “o homem é o centro, autor e fim da vida econômica e social” (GS 25; 63).

Três perguntas e respostas fundamentais: Que bens deveriam ser produzidos? Todos aqueles bens que os recursos escassos permitem para a satisfação das necessidades humanas. Como deveria produzir-se? O processo produtivo deverá organizar-se de maneira que favoreça a humanização da pessoa. Para quem produzir? Isso equivale a perguntar qual é o critério de uma justa distribuição. Essa deve estar marcada pelas necessidades de todos os homens e não só pelas de uns poucos privilegiados.

A Doutrina Social da Igreja comparece diante das empresas com essa proposta ética para sua ação e organização. Não as condena. Propõe um horizonte utópico, onde o ser humano possa ser respeitado e as nações ouvidas. Mais do que gritar contra a escuridão, a Igreja quer acender uma luz.

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padre-toninho-coluna2-150x150*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

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