Março Amarelo

Endometriose não é porta fechada para a gravidez, afirma ginecologista

No mês de conscientização da endometriose, ginecologista explica necessidade de diagnóstico precoce e como doença afeta a fertilidade da mulher

Julia Beck
Da redação

Infertilidade é preocupação das mulheres com endometriose/ Foto: Arquivo CN

“O diagnóstico da endometriose por si só não é uma porta fechada para a gravidez”. A afirmação é do médico ginecologista obstetra Urbano Carvalho, de São José dos Campos, interior de São Paulo. De acordo com o profissional,  responsável pelo estudo e diagnóstico da doença, o acesso a informações qualificadas e o diagnóstico precoce aumentam o sucesso do tratamento da doença.

O mês de março é voltado para a conscientização da endometriose – doença que atinge apenas mulheres e que não apresenta cura. Muitas dúvidas e incertezas quanto ao seu conceito, sintomas e tratamento ainda são levantadas. A endometriose é uma doença inflamatória benigna surgida por consequência do crescimento do tecido endometrial (tecido interno do útero), fora da cavidade uterina. Ela pode surgir na musculatura, por fora do útero, nos ovários, nas trompas, na bexiga e no uréter. A característica principal para a paciente é a dor específica no foco da endometriose.

Dr. Urbano Carvalho/ Foto: Arquivo pessoal – Dr Urbano

O tratamento da doença é prescrito conforme diversos fatores: idade da paciente, intensidade da dor e o quanto ela compromete a vida da mulher e a pretensão de engravidar, explica Carvalho. O ginecologista deixa claro que a infertilidade não é uma regra, e sim uma das consequências da endometriose. “Não é porque a pessoa tem endometriose que obrigatoriamente ela não conseguirá engravidar”, diz o médico. Porem, Carvalho ressalta: quanto mais tempo a paciente permanecer com a doença sem o devido tratamento, mais difícil e complexo se torna o caso e a sua fertilidade.

Sandra Helena Gonçalves Pires da Silva possui endometriose e recebeu o diagnóstico há aproximadamente 18 anos. Os sintomas da doença já eram percebidos por Sandra desde muito antes do diagnóstico, mas a falta de um tratamento específico e assertivo, além da dificuldade para engravidar, fizeram que Sandra recorresse à opinião de outro médico da área. “O médico olhou pra mim e disse: ‘está escrito na sua testa que você tem endometriose’. Foi então que comecei a investigar o que era isso. O médico começou o tratamento e me disse que era muito difícil engravidar com essa doença”, contou.

Com o sonho da maternidade, Sandra não perdeu as esperanças. Foram várias as tentativas de gravidez marcadas por dores e sofrimentos. Após anos de tentativas, em 2015, Sandra, seguindo o  tratamento prescrito, enfim decidiu realizar um procedimento para a melhoria da doença. Foi quando determinou que a situação seria sua última chance para engravidar. Dias antes do procedimento, Sandra sentiu sintomas característicos de gravidez e resolveu realizar os exames. “Não tenho nem como explicar o tamanho da felicidade e da alegria que foi quando descobri que estava grávida”, contou.

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Sandra com o marido, Paulo César, e o filho Bernardo de três ano/ Foto: Arquivo Pessoal Sandra – Ana Maria

Mãe do Bernardo, atualmente com três anos de idade, Sandra reascende a necessidade de maior percepção e de estudo médico com relação a doença e a procura, por parte das mulheres, de um diagnóstico diante dos sintomas. “Eu espero que muitas mulheres consigam descobrir isso antes”, afirma. De acordo com o médico ginecologista, a existência da doença sempre foi sabida entre os médicos, porém, estudos atuais têm mostrado os vários desdobramentos e a extensão da endometriose, fato que exige atualização profissional.

Além da realização de um sonho, Carvalho afirma que a medicina vê a gravidez, em muitos casos de endometriose, como oportunidade de tratamento. “A mulher que tem endometriose e que já engravidou fica, em muitos casos, bem durante a gravidez e o período da amamentação (…). É uma oportunidade de tratamento, pois ela estende o bloqueio hormonal”, contou

Para as mulheres que apresentam dificuldade para engravidar e compartilham da mesma doença, Sandra afirma: “Não perca a esperança. Não importa a idade, vá em frente. Faça exames, como os médicos falam e tome os remédios. A gente não pode nunca perder a fé e muito menos a esperança, pois quem tem esperança, tem fé. Depois de 18 anos de casada consegui engravidar. (…) O Bernardo [meu filho] é um milagre!”, concluiu.

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