Fator de risco

Endocrinologista explica relação entre obesidade e a covid-19

Veja relatos de quem conseguiu emagrecer em meio à pandemia após saber dos riscos da obesidade no caso de covid-19

Denise Claro
Da redação

Obesidade é uma das comorbidades que podem piorar o quadro de pacientes com covid-19/ Foto: Denise Claro

A obesidade é um dos problemas mais graves enfrentados pela humanidade nos últimos tempos. Bem antes da pandemia, a situação mundial e nacional já era preocupante. Estima-se que, até 2025, 2,3 bilhões de pessoas estejam acima do peso e 700 milhões estejam obesos, com índice de massa maior que 30. Atualmente, uma em cada cinco pessoas no mundo é obesa. No Brasil, a situação não é diferente: 56% da população está acima do peso, e 19% obesa.

Ao longo da pandemia, diversos estudos apresentaram a relação entre a obesidade com a covid-19. No início, pensava-se que os idosos eram o grupo mais preocupante, mas se observou um grande agravamento da doença nos pacientes obesos.

Em um desses estudos, o sistema nacional de saúde britânico (NHS) mapeou um grupo de 196 pacientes internados por covid-19. Destes, 71% dos que foram encaminhados a UTIs eram obesos. A associação entre obesidade e quadros mais graves de pacientes já tinha sido feita em 2009, quando houve a pandemia do H1N1. Na ocasião, um estudo da Organização Mundial da Saúde  (OMS) apontava que o excesso de peso aumentava os fatores de risco da doença.

Por aqui, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou experimentos que confirmam que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode ser capaz de infectar células adiposas humanas e de se manter em seu interior. O experimento ajuda a entender por que indivíduos obesos correm mais risco de desenvolver a forma grave da covid-19. Segundo a hipótese investigada na Unicamp, os obesos teriam um maior reservatório para o vírus em seu organismo.

A endocrinologista Priscila Aquino explica melhor essa relação da obesidade com a covid-19, e por que quem é obeso tem mais probabilidade de ter complicações ao ser acometido pela doença.

“A obesidade é considerada um fator de risco, uma comorbidade, junto com hipertensão arterial sistêmica, com diabetes, porque traz uma maior vulnerabilidade para o indivíduo. O tecido adiposo produz muitos hormônios e substâncias inflamatórias que fazem o organismo estar exposto constantemente a uma inflamação e formação de coágulos. Isso piora muito no caso da infecção pelo Sars-cov-2.”

A especialista ressalta que esse processo inflamatório causado pela obesidade afeta o sistema imune, deixando a pessoa com o sistema mais debilitado. Além disso, quem é obeso pode ter uma maior dificuldade na respiração.

“A gente tem nas nossas células, nos nossos leucócitos, uma ação chamada quimiotaxia. Quando a pessoa fica obesa, diabética ou hipertensa, esses leucócitos não têm mais a mesma capacidade de destruir um agente agressor, fazendo com que o sistema imunológico da pessoa fique mais fraco. A gordura por dentro dos órgãos também compromete a capacidade respiratória e comprime os pulmões, dificultando com que o diafragma e os músculos do peitoral exerçam os movimentos normais da respiração, ainda mais com a entrada do vírus que vai exigir um esforço ainda maior.

Emagrecer na pandemia

A endocrinologista salienta que tratar a obesidade é algo complexo, pois existem fatores genéticos e ambientais. “Os genéticos não têm como ser modificados, mas os ambientais, que são a alimentação, atividade física, um bom hábito de sono, dá para serem melhorados.” E ela dá dicas para um melhor estilo de vida: “Incluir, na alimentação, frutas, verduras, legumes, grãos. Evitar doces, enlatados, embutidos, fritura. Começar uma atividade física após consultar seu médico. Uma caminhada, por 30 minutos, pelo menos 4 vezes por semana. Além disso, pode ser que seu médico prescreva uma suplementação de vitaminas e sais minerais.”

A insegurança nesse período de pandemia, sabendo das possíveis relações entre obesidade e a covid-19, acabou estimulando muitas pessoas a adotar um estilo de vida mais saudável.

Aline pesava 94kg no início da pandemia. Hoje, pesa 65./ Foto: Arquivo Pessoal.

A auxiliar de cozinha Aline dos Santos tem 36 anos, e iniciou um processo de perda de peso motivada pelas notícias no início do ano.

“A pandemia mexeu muito com meu psicológico. O fato de não sabermos muita coisa sobre o novo vírus no início me deixou muito apreensiva, e sempre que via os noticiários eram idosos e jovens obesos que iam a óbito. Comecei a não me sentir bem em estar acima do peso, e o medo desse vírus fez virar uma chavinha na minha cabeça e partir para a mudança.”

No início da pandemia, Aline pesava 94 quilos. Hoje, está com 65.

“Minha vida mudou muito. Eu me sinto mais disposta e confiante, e meu emocional também melhorou muito. Criei uma rotina para a minha vida, com alimentação e exercícios físicos. Mesmo dentro de casa, consegui mudar minha realidade. Descobri que sempre arrumamos desculpas para não cuidarmos de nós. Sinto-me orgulhosa por ter chegado até aqui e pretendo levar essa mudança por toda a minha vida.”

Rafael pesava 31 kg a mais no início da pandemia./ Foto: Arquivo Pessoal.

O microempreendedor Rafael Felício da Silva conta que também fez deste tempo um momento de mudanças. 

“A maior parte da minha família é da área da saúde e trabalhava na linha de frente, e as notícias que chegavam para nós no grupo da família eram que o quadro da covid em pacientes obesos não eram bons. Decidi então começar uma dieta.”

Rafael perdeu, ao todo, 31 quilos ao longo desses meses. “Ainda faço parte do grupo de risco, mas acredito que até o meio de 2021 estarei no meu peso ideal. Para completar, tornei-me pai neste ano no início da pandemia, e a vontade de viver para estar presente na vida da minha filha foi muito forte. Não tem sido uma luta fácil, mas a vontade de ter qualidade de vida é maior.”

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