O número de transplantes pediátricos caiu em Minas Gerais neste ano. Enquanto isso, dezenas de crianças permanecem na fila à espera de um órgão.
Reportagem de Vanessa Anicio e Daniel Camargo
Essa é a Sofia Helena de 2 anos. Essa é a Sofia Emanuele de oito. Mais do que o nome, elas têm algo em comum. As duas nasceram com a síndrome nefrótica congênita e dependem da hemodiálise para viver. “A gente descobriu o problema dela tinha só dois meses. Então, desde sempre ela praticamente cresce nesse ambiente, pouco tempo em casa. Então isso é muito difícil, porque eu acho que a gente quer criar o filho igual todo mundo, em casa, tem a idade, vai pra escolinha, volta, aí muda tudo, ter que ficar em hospital”, relatou a mãe de Sophia Helena, Shakira Braga.
“O mais difícil mesmo é a rotina, porque a gente vem, eu deixo ela em casa, eu trabalho, eu tenho mais três filhos, então a rotina assim é bem cansativa”, contou a mãe de Sophia Emanuelle, Larissa Kerolly Lino Ferreira.
A solução para devolver a infância em sua plenitude para as Sofias seria o transplante renal. Atualmente, cerca de 32 crianças estão na fila por um órgão em Minas. A maioria espera por um rim. “A gente sabe que em média a gente aumenta a expectativa de vida dessas crianças quando elas transplantam e saem da diálise em cerca de 20 anos”, explicou o médico nfrologista pediátrico da Santa Casa, João Vitor Cortez.
Este ano, o estado realizou 33 transplantes em crianças. Pode até parecer um número razoável, mas se comparado aos números do ano anterior, é possível observar uma queda na média mensal deste tipo de procedimento pediátrico. “A doação de crianças, ela é muito menor do que a doação de adultos. Então assim, por um lado é bom, quer dizer que tem menos crianças morrendo no estado. Por outro lado é ruim, porque tendo menos doação em criança, a gente consegue fazer menos transplante pediátrico e essas crianças acabam ficando mais tempo na fila de espera”, apontou o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado Junior.
Situação ainda mais evidente no centro de nefrologia de um dos principais hospitais do estado. A Santa Casa de Belo Horizonte é referência em transplante pediátrico em Minas Gerais. Ao todo, em 2024, foram realizados 14 procedimentos cirúrgicos, mas este ano até agosto foram apenas três.
Uma espera longa que pode trazer consequências para o desenvolvimento dessas crianças. “Envelhecimento vascular, doença cardiovascular, doença vascular. Então os acessos para diálise, eles vão machucando os vasos sanguíneos e complicando futuros acessos para um paciente que pode precisar dialisar muito mais tempo. Então é uma corrida contra o tempo”, acentuou o médico.
E nesta corrida, mais uma vez, a vida une as famílias das Sofias. No coração de mãe ecoa um único desejo, que as filhas tenham a chance de uma vida saudável, com liberdade para brincar e crescer. Para que isso aconteça, essas famílias precisam de apenas um gesto. “Eu vejo a doação de órgãos como uma nova chance de recomeçar, porque a vida não acaba ali. Ela tem chance de dar vida para outras pessoas, outras crianças”, expressou Shakira.
“Doação de órgãos. É vida. É vida. É um recomeço”, reforçou Larissa.