Neuropsicóloga e sacerdote comentam questões relativas à tragédia de Suzano
Denise Claro
Da redação, com colaboração de André Cunha
Na última semana, a tragédia acontecida na cidade de Suzano, em que dois adolescentes entraram em uma escola e mataram alunos e profissionais chamou a atenção de especialistas para questões como segurança, educação, influência de jogos e formação dentro das famílias. Mas uma preocupação se tornou mais evidente: o cuidado com a saúde mental dos adolescentes.
A neuropsicóloga Márcia Rosenberg analisa os últimos acontecimentos como uma consequência de algo maior:
“O que eu vejo desse massacre é que essas pessoas possuem um transtorno mental, que, por diversos fatores, culminaram nos assassinatos que eles cometeram, mas isso a partir de uma doença. A causa? Multicausal.”
A especialista explica que quando a pessoa tem um transtorno, todo o mais pode influenciar, mas ela só chega a causar algo tão sério por causa da doença.
“A base dessa família, as mídias sociais hoje, os jogos, as informações, os filmes, para quem não está bem, influencia. Podem ser gatilhos, para que essas pessoas acabem cometendo esses atos monstruosos.”
Para ela, é importante uma maior divulgação na mídia sobre seus sintomas especialmente quando se trata dos jovens:
“Os adolescentes já tem uma tendência de se isolar, né? Hoje em dia com o celular, eles ficam o tempo todo. É preciso chamar para um passeio, conversar, e observar qualquer mudança muito diferente daquilo que essas pessoas possuem, uma tristeza sem motivo, choro, pode ser um motivo de alerta, de acolher essa pessoa, de ouvir sem julgamento, sem censura.”
Depressão na adolescência
Segundo dados da Organização Panamericana de Saúde, a depressão é a 9ª causa de doença e incapacidade entre todos os adolescentes, a ansiedade é a 8ª principal causa. Transtornos emocionais podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de um adolescente, afetando o trabalho e a frequência escolares.
A especialista afirma que o cuidado com a saúde mental dos adolescentes está na ajuda profissional, mas também nas atividades diárias. A atividade física nesta faixa etária é muito importante, devido ao amadurecimento do cérebro, dos neurotransmissores.
“Saúde mental envolve também a saúde física. Eles ficam na informação, no celular, mas também [é importante] sair pra bater um papo com um amigo, não só virtualmente, mas o aqui e agora é muito importante, a vida real. Também a pressão do dia a dia, muitos adolescentes que estudam, estudam para entrar numa faculdade, e quando conseguem se defrontam com a pressão. A pressão de conseguir, de manter aquele mesmo nível de estudo, que muitas vezes não consegue, e vem a frustração.”
A depressão é uma doença como as outras e precisa ser tratada, de acordo com Márcia. É preciso procurar um médico, e obedecer ao tratamento indicado:
“Muitas pessoas não querem tomar medicamento para a depressão, e dizem ‘eu não estou maluco’. A depressão é uma doença como o diabetes, como a hipertensão, ela precisa ser cuidada, e uma vez cuidada, você vive normalmente, trabalha-se normalmente. Existem pessoas que tem esquizofrenia, que é um outro transtorno, e ela produz, ela tem família, ela pode estudar, viver normalmente.”
Estar perto dos jovens
O Colégio Salesiano Santa Teresinha, em São Paulo, é inspirado em Dom Bosco, fundador da obra salesiana, e procura desenvolver seu trabalho educacional tendo como base o Sistema Preventivo. A base deste método está na proximidade com os jovens. Professores e profissionais da educação são chamados a estar sempre perto, de um jeito informal, inclusive nos horários de recreio e atividades, no pátio.
Padre Ronaldo Pereira é o diretor da Pastoral do colégio, e explica que o método contribui para uma educação pacífica, mais eficiente, para que o relacionamento entre os alunos seja de carinho e afeição.
“Através da razão, da religião, e da ‘amorevolezza’, o método é eficaz. A razão no sentido de educar através dos estudos, de ter a disciplina, cumprir bem os horários. A religião, todos nós precisamos acreditar em Deus, num Deus criador, aquilo que nos ensina a Tradição, do certo, do errado, através das orações todos os dias no início das aulas, tendo a fraternidade com os irmãos. E por fim, a ‘amorevolezza’, que é uma palavra que não tem uma tradução para nós brasileiros, mas seria o carinho, o amor, o afeto, estar próximo deles. Conhecer os alunos, a realidade deles, as suas necessidades. Então antes é a prevenção para poder educar. Ir ao encontro deles, saber o que eles realmente necessitam.”
O sacerdote acredita que, mesmo diante dos últimos acontecimentos, é importante manter a esperança:
“A lógica de Deus é muito maior do que a nossa capacidade de compreensão. Mas precisamos cada vez mais cultivar a fé, cultivar a alegria, cultivar a esperança. Com Deus nós podemos renovar todos os dias os nossos sonhos, e nossas esperanças, rezando, tentando compreender. Seria impossível dar uma justificativa, mas estando junto com Deus, buscando os sacramentos, nós vamos estar mais próximos para que os nossos sonhos, as nossas esperanças sejam renovadas.”