Abrindo o ciclo de conferências do 5º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), nesta segunda-feira, 16, o Arcebispo de Belém e presidente da Comissão para Comunicação da CNBB, Dom Orani João Tempesta, afirmou que, ao longo dos anos, a Igreja "aprendeu a não ter medo dos meios de comunicação". Ele reconheceu, no entanto, que nem sempre o uso desses meios pela Igreja foi pacífico. "Houve correntes teológicas contra o uso dos meios pela Igreja. Os liturgistas também têm observações sobre as transmissões litúrgicas pela TV", observou.
Para Dom Orani, a transmissão da fé através dos meios pode ser feita de muitas maneiras, com programas sem conotação religiosa explicita, com programas mistos e com programas apenas piedosos ou questionadores. "Há uma variedade muito grande que, longe de ser contraditória, é complementar já que nem todos conseguem fazer tudo", defende o Arcebispo.
Ainda segundo Dom Orani, os meios de comunicação social obrigaram a Igreja a repensar sua maneira de evangelizar. "Foi a chegada dos modernos dos meios de comunicação social que colocou a Igreja em cheque e também o proselitismo. Ela percebeu que sua presença na mídia era frágil", lembra o Arcebispo. A presença da Igreja Católica na mídia, especialmente na TV, na opinião de Dom Orani, deu-lhe visibilidade, mas também ressaltou suas divisões. "As diferentes linhas eclesiológicas, teológicas, cristológicas ficaram mais evidentes. Precisamos saber como conviver com a diversidade".
Rebatendo as críticas dos que são contra a Igreja ter seus próprios meios de comunicação, o Arcebispo de Belém foi enfático, afirmando a laicidade do Estado, mas não das pessoas que o compõem. "A discussão da laicidade do Estado tem levado também a uma laicidade dos meios. O fato de sermos pessoas de fé não nos faz perder nossa cidadania. Isso não se restringe aos meios, mas também à organização social que nem sempre garante o acento de grupos religiosos nos conselhos".
Dom Orani também respondeu ao jornalista da Folha de S .Paulo, Leandro Beguoci, que, na abertura do Muticom, na noite de domingo, falou sobre a segmentação da mídia. "A segmentação está presente também nos jornais que têm seu ponto de vista e suas preferências. A internet talvez seja uma exceção. Discute-se a Igreja na mídia, mas não se fala das famílias que dominam as mídias", afirmou.
O Arcebispo rebateu, também, um dos critérios apresentados por Beguoci como condição para pautar o jornal ao se referir à presença da Amazônia na mídia. "Já vi a mídia cobrir eventos de cem pessoas e não cobrir uma procissão de 50 mil. Não é uma questão de número (como falou o jornalista da Folha), mas de opção do jornal", considerou dom Orani.
O Mutirão continua nesta terça-feira, com três seminários pela manhã e nove oficinas à tarde. Segundo os organizadores, 450 pessoas participam do evento que termina na sexta-feira, dia 20.