Máscaras têm plástico transparente que ajudam a ver expressões faciais e facilitam comunicação entre surdos e familiares
Denise Claro
Da redação
Em março, o Brasil foi atingido pela pandemia de coronavírus. Desde então, muitas recomendações foram dadas pelo Ministério da Saúde, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscaras. Os EPIs, como são conhecidos, antes utilizados por profissionais de saúde, passaram então a ser utilizados por todos ao sair de casa.
A diocese de Santo André, em São Paulo, teve então uma ideia inclusiva, pensando nos surdos e seus familiares, que ao utilizar as máscaras, tinham sua comunicação comprometida: fabricar máscaras com um material plástico transparente, que facilita na visualização das expressões faciais.
O assessor diocesano do Setor Inclusão, padre Cláudio Santos, comenta o projeto, que se chama “Costurando Máscaras, Costurando Sorrisos”. “A iniciativa surgiu a partir de uma reportagem que vimos, que mostrava uma funcionária surda de um hospital, com dificuldades de comunicação por causa do uso das máscaras comuns. Daí pensamos em fazer algo inclusivo, que possibilitasse uma comunicação mais plena para todos.”
A ideia uniu o Vicariato Episcopal para a Caridade Social e o Setor Inclusão da diocese em uma ação que resultou na doação de máscaras que serão distribuídas de graça para pessoas com deficiência auditiva e surdas. Mais 200 peças já estão em fase de produção, além de modelos personalizados para crianças.
“Os surdos se comunicam muito pelas expressões faciais – de tristeza, alegria, animação, susto -, então o rosto transmite muito. Quando a gente coloca uma máscara que tampa 80% do nosso rosto, nossas emoções não são mais tão facilmente transmitidas. O objetivo é que o surdo possa se expressar totalmente e perceber dos outros essa expressão também. Muitos surdos também usam da leitura labial, ainda que não seja o ideal, mas ajuda na comunicação, e com a máscara convencional é impossível”, diz o padre.
O religioso lembra que, além de ajudar na comunicação, ações como essa despertam a atenção e o cuidado com outro, e levam a sociedade a ser mais inclusiva: “Ao serem usadas, essas máscaras evidenciam uma necessidade inclusiva e levam a um debate, a uma reflexão. É importante ter ações como essa e desenvolver outras, para que os surdos e outras minorias se sintam incluídos na sociedade.
Costurando Sorrisos
Maria do Socorro da Cunha, mais conhecida como Deia, lidera o grupo de 16 costureiras que já fabricaram mais de 6,5 mil máscaras tradicionais para famílias assistidas pelo Vicariato para a Caridade. Ao receber o pedido das máscaras inclusivas, Deia ficou muito feliz e diz que se sentiu grata por realizar este trabalho.
“Quando pensamos que uma simples máscara pode salvar a vida de uma pessoa, a gente sente que nosso trabalho é importante. E no caso dessa pessoa surda, que através dessa máscara poderá se comunicar melhor com os outros, é uma qualidade dupla: salvando vidas e ajudando na comunicação”, avalia Deia.
A costureira conta que receberam três modelos de máscaras, e fizeram vários testes até chegar ao ideal. “Enquanto levamos três minutos para fazer uma máscara comum, a máscara inclusiva leva em média trinta minutos. Depois do corte, começa a montagem, a parte do plástico e acabamento. Dá mais trabalho, mas é muito gratificante. É algo que não se resume em uma palavra.”
As máscaras são produzidas de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, seguindo o modelo das feitas de pano, sem deixar espaço nas laterais. “Com esse tipo de plástico não há nenhum risco de sufocamento. Fica totalmente distante da boca, e é mais firme, seguindo a linha da costura. Além disso, a máscara é totalmente fechada nas laterais, pelo tecido, ficando rente à pele”, ressalta padre Cláudio.
Evangelização
Padre Cláudio diz que ainda não recebeu um feedback dos surdos e seus familiares, porque o projeto ainda está na fase de entrega das máscaras. “Mas até agora a iniciativa foi muito bem recebida. Há paróquias fazendo essa distribuição, e também recebemos muitos pedidos”, diz.
Quem quiser ajudar na iniciativa, seja doando material ou mão de obra, pode se informar melhor pelo telefone do Centro de Pastoral da Diocese (11) 99981 1233. Também neste número é possível fazer os pedidos de máscaras especiais.
Padre Cláudio acredita que as máscaras serão muito úteis para Pastorais de Surdos, intérpretes, e que a ação tem como consequência direta a evangelização.
“Essa preocupação com os surdos é também uma forma de evangelizar. Aqui na Diocese, os intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) também usarão essa máscara para poder comunicar o Evangelho com mais clareza. A evangelização vai ter um alcance muito maior e mais pleno, do que se fosse com a máscara convencional. Jesus Cristo nunca foi insensível diante das necessidades dos outros, Ele se fazia próximo das pessoas. Então, hoje, vemos como uma forma de evangelizar, pois as ações de caridade são uma revelação da face amorosa de Deus.”