Estimativas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontam que metade dos brasileiros não têm conhecimento sobre quão grave podem ser as consequências quando o diabetes não é tratado
Thiago Coutinho
Da redação
Você provavelmente já ouviu esta definição sobre o diabetes: é uma doença silenciosa. E, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), metade dos brasileiros subestimam as consequências graves que são causadas por ela. Em casos mais complexos, a doença pode levar a procedimentos como diálise e até transplante. Atualmente, 13 milhões de brasileiros convivem com o distúrbio, cujos cuidados são reforçados neste 14 de novembro, Dia Mundial do Diabetes.
“O ‘diabetes mellitus’ significa urinar, passar através de, e o ‘mellitus’ significa doce, então é urinar doce”, explica Levimar Araujo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. “Isso acontece pela falta de um hormônio chamado insulina, produzido pelo pâncreas, e, por causa disso, a glicose não consegue entrar nas células e é eliminada através dos rins. E como isso pode afetar a nossa saúde? O excesso de glicose deixa a pessoa mais cansada, sem energia para fazer as coisas do dia a dia e, a médio e longo prazo, essa condição afeta a saúde do paciente, atingindo rins, olhos, os vasos sanguíneos e o coração”, detalha.
O poder da insulina
Sem a insulina, que é produzida pelo pâncreas, não conseguimos metabolizar a glicose (açúcar no sangue) para produção de energia. “Ela atua como uma ‘chave’, abrindo as ‘fechaduras’ das células do corpo, para que a glicose entre e seja usada para gerar energia. Ou seja, o hormônio ajuda a glicose a entrar nas células do corpo”, diz o presidente da SBD.
Assim, quando o organismo naturalmente não produz mais a insulina, é preciso ser reposta em forma de injeção. “Normalmente, [a injeção] é aplicada antes das refeições por quem tem diabetes tipo 1. No caso do diabetes tipo 2, outros medicamentos ajudam a controlar a doença, só em casos mais graves é que a pessoa também precisa tomar insulina”.
Os tipos de diabetes
Existem vários tipos de diabetes. Os mais comuns são os tipos 1 e 2. O tipo 1 ocorre quando a insulina não é mais fabricada pelo pâncreas — e, por isso, é mais comum surgir entre crianças e jovens. Também é necessário, nesses casos, que o indivíduo tome insulina.
“Já no tipo 2, que é o mais comum, o pâncreas fabrica insulina, mas o receptor, normalmente, está entupido, justamente pelo excesso de gordura abdominal”, esclarece. “Então a glicose também não consegue adentrar nas células. A única coisa que esses dois tipos têm em comum é a hiperglicemia, levando às complicações nos dois casos. O tipo 2, como expliquei, é mais comum e está relacionado à obesidade, pois 90% das pessoas com esse tipo de diabetes estão acima do peso”.
O fator hereditário também é um indício de que a doença pode aparecer em algum momento. “Quem tem um pai, mãe, um avô com diabetes do tipo 2, precisa ficar atento, ainda mais se estiver acima do peso, em especial na circunferência abdominal. Aquelas mulheres que tiveram filhos com mais de 4 quilos também têm um risco mais elevado”.
Sem cura
Infelizmente, o diabetes não tem cura. Por isso, os cuidados para mantê-la sob controle são para o resto da vida. “A pessoa pode até ter uma remissão, voltar para valores normais, mas continua com diabetes. Se tiver uma descompensação, se alterar a alimentação, se tiver que ser internada, volta a ter glicemia com valores elevados”, deixa claro Araújo.
Por ser uma doença sem cura, é importante que o indivíduo, quando diagnosticado, tome alguns cuidados para que a doença não complique. A mudança de hábitos é a primeira medida urgente a se tomar. “É importante ter acompanhamento médico, tomar os medicamentos recomendados, se exercitar e ter uma alimentação saudável. É muito importante a mudança de hábitos, como cortar o açúcar, aquelas frutas que viram açúcar muito rápido, como o caqui, a manga, a melancia e a uva, mas, principalmente, o suco de laranja. Evitar misturar carboidratos de absorção rápida, como alimentos com farinha, como pão, e amido”, enumera o especialista.
“Quem tem diabetes tem de ter atenção especial com a alimentação”, alerta.
Conscientização
Atualmente, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking dos países com o maior número de casos, atrás de China, Índia e Estados Unidos, segundo a Fiocruz. As políticas públicas são importantes para que as pessoas entendam o quão perigoso é o diabetes — e se conscientizem sobre os cuidados a serem tomados. “Em relação à política pública, a Sociedade Brasileira de Diabetes tem um contato grande com o Ministério da Saúde e, assim, temos tentado aumentar a conscientização e educação, principalmente dos médicos”, diz Araújo.
É necessário, de acordo com o presidente da SBD, que os médicos peçam exames de hemoglobina glicada para que a doença seja descoberta de forma precoce. ” Às vezes, o paciente com diabetes tipo 2 demora de 8 a 12 anos para saber que tem a doença. Então, a educação é o melhor caminho para o diagnóstico precoce”, pondera.
O acompanhamento de perto é a melhor maneira para que a doença não evolua. “É preciso acompanhar esses grupos que apresentam riscos de desenvolver diabetes, como a mulher que já teve diabetes gestacional, aqueles que têm aumento da pressão arterial e do colesterol e, principalmente, obesidade centrípeta, que é essa gordura em volta do abdômen”, finaliza.