Artigo - Doutrina Social

Desigualdade social ainda é o grande desafio atual, diz padre

Especialista em Doutrina Social destaca que luta pela desigualdade social acontece há mais de dois séculos

Padre Antônio Aparecido Alves*

Prática dos cristãos deve ser norteada por uma “ética de solidariedade”, afirma padre Antônio Alves / Foto: Bartosz Hadyniak by Getty Images

Desigualdade social

A revolução francesa no século XVIII tinha como lema liberdade, igualdade e fraternidade. Esses ideais embalaram os sonhos e conduziram a luta dos revolucionários jacobinos que pretendiam implantar na França uma república, baseada nos princípios de igualdade e virtude, acabando com todos os privilégios da nobreza e do clero, promovendo educação para todos e disponibilizando para a população os gêneros de primeira necessidade. Enfim, a proposta desta revolução era implantar a igualdade reduzindo as desigualdades presentes na vida social.

Séculos depois, ainda permanece esse ideal da revolução francesa, em uma sociedade cada vez mais desigual. O nascimento do liberalismo econômico com Adam Smith (1776) e sua vertente neoliberal que começou em 1945 com as ideias da obra de Friedrich Von Hayek aumentou o fosso entre ricos e pobres. No Brasil o neoliberalismo chegou em 1990 com Fernando Collor e foi se impondo nos governos sucessivos, aumentando ainda mais a desigualdade em um país já socialmente desigual.

Justiça social e igualdade

De acordo com os cientistas sociais temos hoje duas posições que almejam promover a justiça social para reduzir a desigualdade: uma que prioriza a “igualdade de posições” centrada nas classes sociais e outra que luta pela “igualdade de oportunidades” centrada nas minorias étnicas e grupos sociais.

A primeira vertente busca reduzir a distância entre as classes sociais mediante a distribuição de renda, como por exemplo o Bolsa Família, enquanto a segunda luta contra as discriminações que constituem obstáculos à realização do mérito, como as quotas nas Universidades Públicas para negros e outros.

Em uma sociedade tão desigual como a brasileira é preciso saber conjugar essas duas posições, priorizando, no entanto, a igualdade de condições, porque é um pecado social viver em uma realidade que exclui tantas pessoas criando uma massa sobrante, que não importa nada para os interesses do grande capital. Igualdade de oportunidade sim, como no caso das quotas, mas depois que diminuir o escandaloso fosso que é o pecado social que brada aos céus.

É tempo de optar pela vida

João Paulo II disse que a mensagem social do Evangelho, proclamada pela Igreja através de sua Doutrina Social, não é uma teoria, mas deve ser um fundamento e uma motivação para a ação (Centesimus Annus n. 57). Por isso, a prática dos cristãos deve ser norteada por uma “ética de solidariedade” que busque, acima de tudo, a valorização da pessoa e concretize os ideais de fraternidade e igualdade, operando acima de luta e dos interesses de classe, com a defesa intransigente dos direitos humanos e da dignidade de cada um, denunciado injustiças e violações.

Urge, ainda, que se forme e se difunda uma “cultura da interdependência solidária”, que deve penetrar em todos os ambientes, sensibilizando o poder público e privado, bem como cada cidadão, para o compromisso com os pobres.

Enfim, reduzir a desigualdade social continua sendo o grande desafio de nosso tempo. Como disse o Papa Francisco aos membros dos movimentos sociais, é preciso lutar por três “t”: terra, trabalho e teto. Desta maneira, mais de dois séculos depois estaremos realizando um dos ideais que moveram os revolucionários franceses e empolgaram ativistas sociais em todos os tempos.

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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

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