No próximo domingo, 21, serão beatificados dois mártires da fé no Brasil. Padre Manuel e o Coroinha Adílio foram mortos em 1924 no estado do Rio Grande do Sul. Na entrevista que segue, Dom Zeno Hastenteufel, conta a Canção Nova a história de fé que marcou a vida do povo daquela região e a expectativa dos fiéis para esse dia tão esperado.
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Um pouco de história
Dom Zeno Hastenteufel – É uma alegria falar sobre este tema. Porque lá Naquela região, no Alto Uruguai no norte do Estado do Rio Grande do Sul, este fato está sendo esperado com uma grande expectativa. Há 80 anos aquele povo está esperando a beatificação do Pe. Manuel e do Coroinha Adílio. E agora estamos com a data marcada, dia 21 de outubro, estamos em contagem regressiva. Todo mundo naquela região está contando os dias que faltam para a beatificação.
O fato histórico é este: – Em 1924, quando em toda aquela região que hoje é a diocese Frederico Westphalen, tínhamos apenas duas paróquias. A paróquia Dinonoai e a paróquia de Palmeira das missões. E as duas paróquias pertenciam a diocese de Santa Maria. E naquela ocasião Palmeira das Missões estava sem padre. E o único padre em toda aquela região era o padre Manuel que estava em Nonoai. Então, o Bispo de Santa Maria pediu ao padre Manuel que ele fosse até o Alto Uruguai celebrar a páscoa dos militares e na volta passassem por Três Passos onde um grupo de colonos alemães da colônia velha tinham vindo e tinham se estabelecido ali naquela região chamada linha Três Passos.
E foi então que no dia 20 de maio de 1924 o Pe. Manuel celebrou sua última missa, lá no Alto Uruguai, para os militares, realizou batizados, onde o próprio coroinha Adílio foi padrinho de batismo. E no dia seguinte, 21 de maio, eles foram levados para o mato na região de Feijão Miúdo, amarrados em árvores e fuzilados. Foram encontrados só no dia seguinte, 22 de maio, e foram sepultados no domingo seguinte, dia 25 de maio. E aquele povo católico que o sepultou e que os levou para um cemitério, que o padre Manuel devia ter abençoado, pois o cemitério ainda não havia sido abençoado, eles escreveram numa cruz e colocaram no alto da cabeceira das duas sepulturas “ Mártires da fé, verdadeiros santos de Deus.” E agora, apenas 84 anos depois é que vamos ter a beatificação no dia 21 de outubro.
Que motivação a beatificação desses Mártires trás para o povo da diocese?
Dom Zeno Hastenteufel – Embora esse sangue derramado já fecundou a muito tempo, porque ele já está trazendo resultado sem dúvida nenhuma de muita conscientização, muita responsabilidade, e muita vivência cristã. Especialmente nas comunidades de Nonoai e também na comunidade de Três passos onde aquele povo já há muito tempo vive esta mística do martírio e vive esta consciência de que sangue de mártires é semente de novos cristãos. Mas eu tenho a impressão, é claro, que agora a beatificação que é um ato público, quando vem a Comissão Pontifícia de Roma, vem o Cardeal Saraiva Martins, vem o episcopado, e isso vai trazer evidentemente um novo incentivo a pastoral, especialmente a evangelização. E um grande incentivo para a Pastoral da Juventude, porque afinal teremos um jovem Bem Aventurado Adílio.
O Adílio como coroinha é um exemplo para os coroinhas de hoje que auxiliam nas celebrações. Como será a participação desses jovens na cerimônia?
Dom Zeno Hastenteufel – Na diocese Frederico Westphalen nós temos praticamente coroinhas em todas as paróquias. Nosso plano é no dia 21 de outubro reunir junto ao palanque da celebração reunir mil coroinhas, todos paramentados usando a roupa tal qual o coronha Adílio usava em 1924. Então esta pastoral dos coroinhas tem ajudado muito a incentivar vocações, vocacionados. Mesmo o Papa Bento XVI tem falado muito desse assunto, e no ano passado no mês de agosto, ele reuniu na praça de São Pedro de uma só vez 40 mil coroinhas e falou para esses coroinhas em língua alemã, chamando esses coroinhas de verdadeiros apóstolos, que estão muito próximo do altar, estão ao lado do sacerdote acompanhando de perto toda a celebração. O Papa dizia: “ Vocês são os melhores amigos do padre e de todos os padres, porque vocês estão lá ao lado dele em cada celebração observando o jeito como eles celebram. E sobre tudo testemunhando a fé que o Padre tem na hora da celebração."
Como no início do cristianismo os cristãos eram levados para o coliseu, eram martirizados. Com essa beatificação do Padre Manuel e também do Coroinha Adílio será um momento onde uma vez que os meios de comunização farão mais conhecidos os feitos deles, o senhor acredita que a evangelização vai fazer com que mais pessoas assumam a sua fé?
Eu acredito que sim, principalmente porque há sempre de modo um pouco mais camuflado, mas há quem são de fato inimigos da evangelização. E que muitas vezes prejudicam e tentam até perseguir os evangelizadores. Mas quando agora sai em evidência que um ou dois foram martirizados, são acolhidos como Bem aventurados, como beatos da Igreja, eu acho que pra todos eles é um agrande lição. E o povo católico da região de três passos, eles falam com muito destaque sobre o triste fim de todos aqueles que foram os assassinos do padre e do coroinha.
Todos eles tiveram um fim muito melancólico, muito triste, uma morte muito dolorosa, com muito sofrimento. Todos eles praticamente viveram muito abandono no final de suas vidas. Então é um sinal de que martirizar um evangelizador e martirizar um jovem não dá alegria e nem realização pra ninguém.
Cala-se a voz do padre Emanuel e do Coroinha, mas a semente frutificou…
Dom Zeno Hastenteufel – Sem dúvida, e ela produziu frutos. Hoje são comunidades fortes, grandes e sobretudo na ocasião da celebração anual dessa data do martírio. Neste ano, no dia 20 de maio, nós tivemos a prova destes frutos com a grande romaria de Nonoai, onde milhares de pessoas estiveram presentes. Isto mostrou que o testemunho dos dois produrizam bons frutos nas comunidades e nas vidas dessas pessoas. E não só, mas para todo o Brasil será um grande Marco.