Marina, de apenas 10 anos de idade, é superdotada. Sua mãe conta que ela quase nasceu falando:
"Com 7, 8 meses ela já falava. No aniversário de um ano ela cumprimentava os convidados, agradecia os presentes, desenvolveu sua linguagem muito rapidamente. E outras aquisições também, ela começou a ler por volta dos dois anos", explica a mãe, Márcia Teixeira, médica e neuropediatra.
Marina pratica ginástica, natação e desde cedo aprendeu a fazer o que mais gosta: pintar.
"Eu adoro pintar, eu pintei vários quadros. A minha bisavó, antes de morrer, quis deixar as tintas dela, deixar tudo, para não acabar essa geração de pintores na minha família", recorda Marina.
Na escola ela sempre tira boas notas, e tem grande facilidade na compreensão das matérias. Difícil mesmo foi ser compreendida pelos professores.
Fato recordado por Márcia: “houve um momento na escola que ela fez um trabalho, ela tinha, acho que três anos, fez um desenho e assinou o nome. Escreveu Marina, a professora chegou, olhou e fez ela apagar”.
Reconhecer um filho superdotado pode não ser uma tarefa tão simples, a não ser de uma família como a de Marina, onde a mãe também é superdotada.
Dra. Márcia é coordenadora de um grupo de orientação a superdotados de uma associação mundial, ela afirma existir alguns sinais que facilitam na identificação de um superdotado.
“Não só começar a falar muito cedo, mas uma linguagem de adulto, uma forma de articular as palavras muito precoce. Não só as palavras, mas o próprio pensamento”, explica.
Mas nem sempre é tão simples assim, no senso escolar de 2005 foram detectadas 1980 crianças superdotadas. O número não pode ser considerado ainda oficial por causa do despreparo dos professores em lidar com o assunto.
Em 2006, passaram a ser criados núcleos de capacitação. Em São Paulo, o projeto existe há dois anos. Para Denise Rocha Belfort Arantes, coordenadora do núcleo de atendimento do CAPE, é preciso correr contra o tempo para capacitar os professores. Até agora 270 profissionais estão sendo preparados para estender os trabalhos a 90 diretorias regionais de todo estado.
“Nós temos a parceria de uma consultora contratada pela UNESCO que auxilia no processo de capacitação. Eles voltam para sua região e multiplicam para os demais professores”, explica Denise.
O método de enriquecimento curricular veio para substituir métodos anteriores como a segregação, em que agrupava os alunos superdotados em uma única escola. Outro método banido foi o da aceleração que permitia ao aluno terminar mais rápido as séries.
Denise explica o novo método: “a partir do momento que o professor identifica que aquela criança tem uma habilidade acima da média, uma capacidade maior em uma determinada área, esse professor vai trabalhar com a perspectiva do enriquecimento curricular. Ou seja, ele vai oferecer possibilidades para que esse aluno desenvolva aquela auto-habilidade. Oferecer mais material, oportunidades de pesquisa, trabalhar com projetos de pesquisa na área de interesse específico do aluno”.
Em Taubaté, o método de enriquecimento ainda está em estudo e pode ter chegado tarde para a Bruna, aluna superdotada que está no último ano escolar e é aluna exemplar em sala de aula.
“Eu gosto de todas as matérias, de história, geografia, gosto muito de português, porque eu gosto de ler, em matemática também me saio bem. Em geral, eu tento me esforçar para me sair bem em todas”, conta a jovem.
Bruna aprendeu que seu jeito afetava as amizades, "todas as salas sempre tem um certo tipo de preconceito, "ela é a Bruna?! que faz tudo", "puxa-saco" do professor, sempre tem isso".
Foi preciso mais que inteligência para se manter no mesmo ritmo. “Eu não me importo muito não. Estou fazendo por mim, para aprender realmente, por que é importante”, diz segura.
As notas máximas ficam no boletim e o segredo para tanto aproveitamento, Bruna explica: “Eu tenho o alvo. Esse alvo é ler pelo menos um livro a cada semana, revistas, jornais”.
Com o apoio da família, estado e educação, é bem possível que o futuro de crianças superdotadas, como Bruna e Marina, não seja nem um pouco assustador.