Jornada de Bioética

Como enfrentar as ameaças à vida? Especialista dá dicas

"As ameaças à vida partem sempre do desprezo, consciente ou não, de quem é a pessoa humana, que acaba sendo reduzida a objeto descartável se não corresponder a interesses pessoais ou sócio-políticos".

É isso que esclarece a médica especialista em ginecologia e obstetrícia, diretora do Centro Interdisciplinar de Estudos em Bioética (CIEB) do Hospital São Francisco de Assis e cofundadora do Centro de Bioética da Amazônia, Elizabeth Kipman Cerqueira.

Neste final de semana, Kipman dará uma conferência sobre o tema "Quais são e como enfrentar as ameaças à vida". A intervenção faz parte da 2ª Jornada de Bioética, promovida pela Associação de Médicos Católicos da Diocese de Lorena (SP) e o Grupo de Pesquisa em Ética do Centro Universitário Salesiano. O evento começa na sexta-feira, 16, e segue até domingo, 18, com o tema “Família, Santuário da Vida”.

Ao longo desta semana, o noticias.cancaonova.com publica uma série de entrevistas especiais com alguns dos especialistas que participarão da Jornada.

Nesta entrevista exclusiva, Kipman destaca que é
indispensável aos cristãos a formação em conhecimentos básicos científicos. Ela também indica as principais transformações sociais que ocasionaram uma mudança de visão acerca da inviolabilidade da vida humana e dá dicas sobre como deve ser a atuação da Igreja. Por fim, a doutora indica quais devem ser os principais desdobramentos da bioética em um futuro próximo.

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noticias.cancaonova.com: Quais são e como enfrentar as ameaças à vida?

Elizabeth Kipman Cerqueira: As ameaças à vida partem sempre do desprezo, consciente ou não, de quem é a pessoa humana, que acaba sendo reduzida a objeto descartável se não corresponder a interesses pessoais ou sócio-políticos. As atuais ameaças à vida, como o aborto provocado, a eutanásia, o suicídio assistido, a inseminação artificial e seus desdobramentos (congelamento e destruição de embriões, perda do sentido autêntico de paternidade e maternidade, etc.) introduzem desafios inéditos para o verdadeiro humanismo e para a doutrina social cristã.

Para enfrentá-los, é preciso estar atento às pílulas douradas apresentadas por grande parte da mídia. Faz-se indispensável a formação em conhecimentos básicos científicos. Para o cristão, o desafio é ainda maior; porém, são também maiores os recursos de formação e de resistência a partir da própria fé.

noticias.cancaonova.com: Quais foram as principais transformações sociais que ocasionaram uma mudança de visão acerca da inviolabilidade da vida humana?

Elizabeth Cerqueira: O principal motivo foram ideias semeadas anteriormente, as que foram se desenvolvendo sobretudo após a II Guerra Mundial e levaram à perda de referência de valores absolutos, como o valor da própria pessoa humana. Nunca se falou tanto em liberdade e dignidade. Porém, são conceitos aplicados de forma diferente e manipulados a partir de interesses econômicos e políticos. O Estado moderno (chamado conservador, de direita ou de esquerda) tende a usar a educação e a saúde pública para conformar a mentalidade do povo aos seus interesses. Isso é aceito pela grande maioria da população sob a aparência de direitos, de liberdade, de progressos técnicos e científicos.

noticias.cancaonova.com: Como a Igreja pode colocar em campo estratégias de enfrentamento dessas ameaças sem parecer impositiva, e sim propositiva?

Elizabeth Cerqueira: Temos que nos conscientizar que:
1º) A Igreja é responsável pelo anúncio de Esperança e de Vida, de Paz e de Alegria. É preciso anunciar o Belo e o Bem que respondem e atraem toda a humanidade, independente das religiões;
2º) As questões emergentes éticas se transformaram em questões de emergência política e é necessário formar as pessoas;
3º) A situação atual envolve e convoca a cada um individualmente;
4º) A grande resposta às questões não começa pelo discurso ou pelos argumentos racionais, mas começa e se mantém pelo Amor encarnado em atos concretos. O Amor nunca é vencido, sempre venceu e transformou.


noticias.cancaonova.com: Em termos de bioética, quais são os desdobramentos que se podem esperar para um futuro próximo em nosso país?

Elizabeth Cerqueira: No Brasil, como em muitos outros países, desprezando a opinião da maioria da população, cresce a normativa jurídica do Estado que confere a práticas antivida o status de uma lei que ajuda a anestesiar os juízos de consciência. Infelizmente, a opinião pública está sujeita a um verdadeiro massacre ideológico através da mídia: seja nos debates e, pior, de maneira emocional, através do noticiário, das novelas, dos ídolos construídos, é induzida a se acostumar com os atentados contra a vida, contra a dignidade da pessoa, como se fossem direitos à liberdade individual.

Com certeza, crescem também as dificuldades para viver o compromisso de fé, mas não devemos temer. A Verdade se impõe ao longo da História. Devemos apenas aceitar e assumir a responsabilidade pessoal diante de cada desafio, em cada situação concreta.


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