Trabalho escravo, visita da Cáritas ao Haiti, evangelização na juventude e PNDH-3 foram os assuntos discutidos na coletiva de imprensa desta terça-feira, 11. Falaram aos jornalistas o Bispo de Jales (SP), Dom Luiz Demétrio Valentini, o Bispo de Balsa (MA), Dom Enemésio Ângelo Lazaris e o Bispo auxiliar de Campo Grande (MS), Dom Eduardo Pinheiro da Silva.
Trabalho escravo
Dom Enemésio destacou que desde os anos 70, a Igreja assumiu, juntamente com outras entidades, a luta contra o trabalho escravo. Um problema que parecia extinto e superado, mas que retornou à realidade de outras formas.
De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do dia 15 de abril deste ano, os maiores índices de trabalho escravo foram encontrados nas plantações de cana-de-açucar no estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Uma “exploração do trabalho que interfere na liberdade e dignidade do ser humano e chega a tal ponto que lesa a humanidade”, destava Dom Enemésio.
De 1995 até hoje, foram libertados 38 mil escravos, sendo que, destes, 32 mil foram entre os anos de 2003 e 2009. Um trabalho realizado pelo Ministério do Trabalho, com o auxílio de outras instituições.
Segundo o bispo, “nós precisamos ter consciência desse problema e da necessidade da erradicá-lo totalmente”, e destacou que cabe à CNBB “assumir o problema e mobilizar grupos, entidades, movimentos populares para lutar pelos direitos fundamentais da pessoa humana”. E que é preciso ficar atento a essas situações para, nas eleições, fazer a escolha de “pessoas comprometidas em banir essa questão, de uma vez por todas”.
Dom Enemésio disse ainda que essa realidade do trabalho escravo está ligada a outros contextos como o da reforma agrária, do êxodo rural. Situações inevitáveis dentro no modelo econômico atual, segundo ele. E adiantou que no dia 7 de setembro acontecerá um plebiscito para decidir pela limitação da propriedade de terra, mas ainda não foi definido a quantidade a ser delimitada.
Questionado sobre a “Economia de Comunhão”, proposta por Chiara Lubich, Dom Enemésio a comparou a economia solidária, e disse que “esses passos vão sendo dados muito devagar”, que não é fácil, mas há esperança de sempre mais, através da consciência, de pessoas que tenham essa sensibilidade, de ser chegar a “uma fraternidade maior, uma possibilidade para todos”.
O prelado apontou que, às vezes, se fala de um organismo ser contra a propriedade privada, mas ao contrário, “nós somos a favor da propriedade para todos, porque seria muito importante que todos tivessem um pedaço de terra, pois todos precisam de uma moradia digna”, e que através dessa economia de comunhão é preciso encurtar as distãncias “para que, realmente, o mundo novo seja possível. Esse mundo novo é possível e necessário, e ele vai acontecendo com pequenos passos que cada um de nós podemos dar”.
Cáritas Nacional
Dom Demétrio, presidente da Cáritas Brasileira falou sobre sua visita ao Haiti, há cerca de 20 dias e da receptividade da campanha SOS Haiti que arrecadou 7 milhões e 290 mil reais para ajudar a população do país atingido pelo terremoto em janeiro desse ano.
O bispo disse que se surpreendeu com o tamanho da catrástrofe, muito maior do que conseguia imaginar, e informou que a primeira fase do atendimento imediato às vítimas do país já está quase sendo concluída.
Ele contou que nos dia que ficou no Haiti, acompanhou os trabalhos dos soldados brasileiros e disse que hoje eles “impõe outro tipo de imagem, não mais pela força, mas pela presença amiga e solidária, prestando auxílio a milhares de pessoas” e acrescentou que “seria até covardia se eles se retirassem” nesse momento que o país atravessa.
Setor da Juventude
Dom Eduardo explicou que, atualmente, o Setor da Juventude tem procurado acompanhar de perto o trabalho dos assessores da juventude e, assim, favorecer que “a evangelização dos jovens aconteça de maneira mais concreta, arrojada e criativa” em todo o Brasil.
Em 2005, a CNBB lançou um documento sobre a evangelização da juventude e, a partir de então, “o setor tem trabalhado a partir dele, ajudando o jovem a se encontrar como pessoa, a dar uma resposta diante da vida e a participar de uma comunidade crente e como cidadão”.
PNDH-3
Ao final da coletiva, Dom Demétrio informou que os bispos devem lançar uma nota sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que ainda será votada.
Para Dom Enemésio, o que está em jogo no PNDH é a “concepção de pessoa”, a “visão de quem é o ser humano e a ordem das coisas naturais”. Segundo ele, é preciso analisar os ítens do programa e ver se eles estão de acordo com a lei natural ou não, se ferem uma cultura, uma religião. E citou o exemplo dos símbolos religiosos, se for assim, “eu como bispo não poderei mais usar o crucifixo (…) Nós cristãos precisamos defender nosso time e lutar até o fim”.
Dom Demétrio exemplificou também a questão da “profissionalização do sexo”, e destacou que uma apuração feita pela Pastoral da Mulher Marginalizada mostrou que 80% das prostitutas não querem continuar nessa realidade.