O número de assassinatos em conflitos no campo bateu um novo recorde no ano passado, o mais alto em 13 anos. É o que mostra o relatório da Comissão Pastoral da Terra divulgado nesta segunda-feira, 17, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Reportagem Elisa Ventura e Bartolomeu Silva
“Esse relatório não é um livro. Não são apenas dados, mas são pessoas que pretendemos mostrar ao Brasil”, dessa forma Dom Leonardo Steiner, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar de Brasília se referiu à publicação “Conflitos no Campo Brasil 2016”. Os números foram apresentados pela Comissão Pastoral da Terra na tarde desta segunda-feira, 17, na presença de jornalistas, lideranças de movimentos sociais e representantes do parlamento brasileiro.
A advogada Divanilce de Sousa Andrade, presente no lançamento, não deixou que a história da sua mãe Nilce de Souza Magalhães, liderança do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), fosse apenas um número do relatório. Divanilce ressaltou aspectos da luta de sua mãe assassinada em 7 de janeiro de 2016, em Rondônia. Emocionada, ela falou da morosidade da justiça, da ausência do Estado brasileiro e da certeza da impunidade.
O relatório Conflitos no Campo Brasil 2016 organizado pela Comissão Pastoral da Terra, desde 1985, chama a atenção para o aumento de assassinatos. O ano 2016 entra para a história como o ano com o maior número de assassinatos no campo em decorrência de conflito agrários, de luta pela terra e pela água, nos últimos 13 anos. O monitoramento da CPT registrou 61 assassinatos ano passado, 11 a mais que em 2015, com registro de 50 assassinatos.
Rigor científico
O bispo responsável pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Enemésio Lazzaris, ressaltou a seriedade do trabalho da equipe da CPT na documentação e organização do levantamento e pesquisa dos conflitos no campo.
Ele chama atenção também para o estado de abandono no qual se encontram comunidades tradicionais, as comunidades do campo, os povos originários, os quilombolas e os pescadores. “É necessário pressionar mais para que os direitos adquiridos por essas comunidades sejam mantidos, confirmados e até ampliados”, disse Dom Enemésio.
O relatório destaca ainda que vem aumentando, desde 2015, atos do Executivo e do Legislativo brasileiros, que implicam e resultarão em redução dos direitos já conquistados pela agricultura familiar, indígenas e quilombolas. Um exemplo citado pelo professor da Universidade Federal da Paraíba, Marco Mitidiero, é o fato de executivo ter retirado do censo agropecuário questões relativas ao uso de agrotóxicos e à agricultura familiar.
Com este relatório a CPT espera que os dados, organizados com rigor científico, sensibilizem as autoridades para que tenham um pouco mais de atenção e facilitem a vida dos camponeses e comunidades indígenas.