"Não é só porque eu não enxergo, que eu não posso ler a Palavra de Deus". Esse é o depoimento da dona de casa, Francelina de Fátima Martins, conhecida como Celina, e que resume sua história de vida, marcada pelo esforço de não desistir diante das contrariedades.
Moradora de Cesário Lange, uma pequena cidade do interior de São Paulo, Celina nasceu cega, assim como seus outros três irmãos, mas hoje lê os livros de evangelização da Comunidade Canção Nova.
Celina conta que há 20 anos participou de um encontro do Movimento Cursilho de Cristandade, no qual um cego lia um trecho da Bíblia escrita em braile – código de comunicação para cegos. Naquele tempo, o exemplar era raro e veio dos Estados Unidos. "Eu que não tinha acesso à leitura, quando soube que era um cego que estava lendo, pedi para ver a Bíblia, passei a mão naqueles pontinhos e pensei: 'Meu Deus, será que um dia eu vou poder ler?'", recorda.
O sonho tornou-se realidade há cinco anos. "Fiquei sabendo que tinha uma associação em Sorocaba, a 80 km daqui, (que ensinava a ler a em braile). Viajava uma vez por semana para lá, saía às 4h30 da manhã, com o carro da prefeitura", testemunha com emoção.
Celina tem 48 anos, é casada e tem três filhos que enxergam normalmente.
Livros da Canção Nova
Hoje, os livros da Canção Nova em braile são a fonte na qual Celina busca a Palavra de Deus, mesmo ainda sem ter uma Bíblia nos códigos para cegos – sonho que espera um dia realizar. "Minha mãe e meu pai são sócios da Canção Nova e recebem a revista mensal. Em uma delas estava escrito que o 'Eto' [administrador da comunidade] fez um contrato com o Instituto Padre Chico para mandar livros em braile para os deficientes visuais. No texto, tinha o e-mail do instituto e eu pedi para minha sobrinha enviar o pedido. E eles me mandam um exemplar a cada três meses", agradece.
Com os novos livros, Celina conta que sua vida mudou. "Até meus filhos falam que aprendi muito. Estes livros reacenderam minha fé. O dia que eu peguei os livros do Padre Léo eu senti uma emoção tão grande, nunca imaginei tanta maravilha que Deus ia preparar para mim", completa.
Outro sonho
"Eu pedi a Deus, que se um dia eu soubesse ler, ia falar para o povo, na minha Igreja, em Cesário Lange: 'Que todo mundo que enxerga, leia um pouco da Bíblia todos os dias, porque é maravilhoso e me fez muito bem".
"O padre me chamou para fazer a leitura no ano passado, na Campanha da Fraternidade sobre os deficientes. Também, já fui em Tatuí, uma cidade próxima a minha, onde tem uma associação pequena de deficientes. Já li um trecho da Bíblia para 2 mil jovens, da Pastoral da Juventude, junto com o bispo de Itapetininga, Dom Gorgônio".
"Sou mais aberta a Deus de olho de coração, e sou muito mais feliz", finaliza.
