Cardeal Tempesta denuncia que a ideologia de gênero quer ser imposta sobre a cultura e educação brasileira
Da redação, com Arquidiocese do Rio
“Está para ser ultimado o decreto sobre a Base Nacional Curricular Comum em nosso país que, se for deixado com a menções sobre a ideologia de gênero, nos deixará à mercê de um futuro perigoso para a nossa civilização”. É o que afirma o Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal João Orani Tempesta, em artigo publicado nesta segunda-feira, 13.
O Cardeal alerta que mesmo sendo rejeitado em quase todas as assembleias legislativas do país, a ideologia de gênero vai ganhando espaço através do judiciário e decretos executivos. Diante disso, ele afirma ser importante o posicionamento da sociedade sobre a questão.
“As pessoas sensatas, cientistas e também de fé já alertaram sobre esse erro perigoso e que agora temos a ameaça de ser imposta sobre a nossa cultura uma ideologia que destrói a sociedade em vista de uma dominação ditatorial”, denunciou.
Segundo o site oficial da BNCC, a expectativa é que o Conselho Nacional de Educação (CNE) faça a avaliação do texto da Base Nacional Curricular ainda este ano. Após elaborar um parecer sobre o tema, esta análise será submetida ao Ministério da Educação, a quem compete homologar ou não as deliberações. Após esta etapa começa a implantação da Base na rede de ensino.
Leia, na íntegra, o artigo “Ideologia de gênero na BNCC, do MEC”
O tempo urge! Está para ser ultimado o decreto sobre a Base Nacional Curricular Comum em nosso país que, se for deixado com a menções sobre a ideologia de gênero, nos deixará à mercê de um futuro perigoso para a nossa civilização. Mesmo sendo rejeitado amplamente em quase todas as Assembleias legislativas do Brasil a Ideologia de gênero vai entrando pelo judiciário ou por decretos executivos. É importante o nosso posicionamento neste momento crucial da história de nossa nação. Precisamos nos preocupar com o futuro deste País, especialmente no que toca ao modo como serão educadas as futuras gerações à luz da nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que prevê a inserção obrigatória da tão perigosa “Ideologia de Gênero” no currículo escolar de nossas crianças e adolescentes.
As pessoas sensatas, cientistas e também de fé já alertaram sobre esse erro perigoso e que agora temos a ameaça de ser imposta sobre a nossa cultura uma ideologia que destrói a sociedade em vista de uma dominação ditatorial. Já tivemos, mais de uma vez, ainda que sob não poucos protestos e até ataques diretos aos pronunciamentos, a possibilidade vitoriosa de alertar sobre a referida Ideologia e, de novo, quer fazê-lo a fim de convidar a todos os homens e mulheres, que tomarem conhecimento deste momento histórico, a uma decisão firme e participativa (como muito se prega em qualquer democracia) em favor do futuro próximo e remoto das novas gerações, por conseguinte, da família e de toda a Humanidade ameaçada.
Sim, a antinatural “Ideologia de gênero” prega, em suma, que nós mesmo nascendo com um sexo biológico definido (homem ou mulher), além dele, existe o sexo psicológico ou o gênero que poderia ser construído livremente pela sociedade na qual o indivíduo está inserido e não em conformidade com a Biologia. Desse modo, em última análise, não existiria uma mulher ou um homem naturais. Ao contrário, o ser humano nasceria sexualmente neutro, do ponto de vista psíquico, e seria constituído socialmente homem ou mulher. Essa teoria faz parte de um conjunto maior de ideias que se destinam a descontruir a sociedade atual em vista de uma anarquia geral. É isso o que se pretende ensinar nas escolas de todo o Brasil, de acordo com a Base Nacional Curricular Comum, do Ministério da Educação e Cultura.
Tal forma de (des)educação é totalmente contrária aos planos de Deus e à própria ciência. De modo que uma Nota da Conferência Episcopal do Peru, emitida em abril de 1998, com o título La ideologia de género: sus peligros y alcances aponta a raiz marxista e ateia desse sistema ideológico e assegura que, segundo a ideologia de gênero, não é a natureza, mas a sociedade quem vai impondo ao homem ou à mulher certos comportamentos típicos. Desse modo, se a menina prefere brincar de casinha ou aconchegar a boneca isso não se deveria ao seu instinto natural à maternidade, mas tão somente a uma convenção social dominadora. Se as mulheres se casam com homens e não com outras mulheres, isso nada teria de natural, mas dever-se-ia apenas a uma “tradição social” das classes dominantes.
Vê-se, portanto, de modo muito claro, que a referida Ideologia é contra Deus, autor da Lei natural moral e física, que criou homem e mulher (Gn 1,27). Daí, em Discurso proferido, no dia 21 de dezembro de 2012, à Cúria Romana, o Papa Bento XVI via o “termo ‘gênero’ como nova filosofia da sexualidade”. Por meio dele (do termo gênero) “o homem contesta o fato de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: ‘Ele os criou homem e mulher’ (Gn 1,27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza”.
O Papa Bento abordou a ideologia de gênero ainda, em 19 de janeiro de 2013, falando que “os Pastores da Igreja – a qual é ‘coluna e sustentáculo da verdade’ (1Tm 3,15) – têm o dever de alertar contra estas derivas tanto os fiéis católicos como qualquer pessoa de boa vontade e de razão reta”.
Também o Papa Francisco, na Audiência Geral de 15 de abril de 2015, disse: “Pergunto-me, por exemplo, se a chamada teoria do gênero não é expressão de uma frustração e resignação, com a finalidade de cancelar a diferença sexual por não saber mais como lidar com ela. Neste caso, corremos o risco de retroceder. A eliminação da diferença, com efeito, é um problema, não uma solução. Para resolver seus problemas de relação, o homem e a mulher devem dialogar mais, escutando-se, conhecendo-se e amando-se mais”.
É a Ideologia de gênero contra a ciência, de modo que, no dia 21 de março de 2016, o Colégio de Pediatras dos Estados Unidos publicou uma declaração intitulada A ideologia de gênero faz mal às crianças. Nela convida, de modo firme, os “‘educadores e legisladores’ a ‘rechaçar(em) todas as políticas que condicionem as crianças a aceitar(em) como normal uma vida de personificação química ou cirúrgica de seu sexo pelo sexo oposto’. ‘São os fatos e não a ideologia’, afirmam, ‘que determina a realidade’, isto é, que ‘a sexualidade é um traço biológico objetivo’”.
Diz a Nota, entre tantas outras afirmações científicas de valor, que “condicionar as crianças a crerem que é normal e saudável uma vida inteira de personificação química e cirúrgica do sexo oposto é abuso infantil. Respaldar a discordância de gênero como algo normal por meio da educação pública e das políticas legais confundirá os filhos e os pais, levando mais crianças a recorrerem às ‘clínicas de gênero’, onde lhes será administrado drogas bloqueadoras da puberdade (isso já ocorreu em alguns locais). Isto, por sua vez, virtualmente, assegurará que eles ‘escolherão’ uma vida inteira de hormônios sexuais cruzados, cancerígenos e de alguma forma tóxicos, e, provavelmente, considerarão a desnecessária mutilação cirúrgica de partes saudáveis do seu corpo quando forem adultos jovens” (http://refletindo7.blogspot.com.br/2016/04/a-ideologia-de-genero-faz-mal-as.html).
Trata-se de um abalizado e oportuno alerta que não vem do meio religioso, mas médico-acadêmico. Ele corrobora, de modo enfático, o rico ensinamento da Igreja segundo o qual a “Ideologia de Gênero” é antinatural e, por isso mesmo, atenta contra Deus e coloca o futuro da Humanidade em perigo.
Reflitamos com atenção a respeito do tema e, dentro da lei e da ordem – meta importante a todo fiel cristão –, reajamos alertando os próximos e assinando campanhas contrárias a essa introdução na BNCC.
Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, cujos 300 anos do encontro da imagem, nas águas do rio Paraíba do Sul, celebramos neste ano de 2017, nos abençoe e guarde junto à sua família, hoje e sempre.
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro