Cardeal de São Paulo destacou que o trabalho não é apenas utilitarista, mas tem uma dimensão mais ampla
Kelen Galvan
Da redação
Nesta quinta-feira, 1º, a Missa celebrada pelos bispos participantes da 52ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), recordou a memória litúrgica de São José Operário, data em que celebra-se o Dia do Trabalho. A Solenidade foi presidida pelo Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer.
Na homilia, Dom Odilo enfatizou que a festa de hoje remete à importância do trabalho para a vida humana. “São José, um trabalhador comum, que buscava seu sustento, mas também dava sua contribuição à comunidade com seus dons. Jesus, que também é conhecido como filho do carpinteiro, trabalhou, valorizou o trabalho (…) Vemos neste fato a valorização e a dignidade do trabalho humano”.
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O cardeal explicou que a primeira leitura da Missa, apresenta Deus criador (cf. Gn 1,26–2,3), “poderíamos dizer: Deus trabalhador”, pondo ordem ao caos. “E essa ordem Deus dá a Adão e Eva, para que façam a mesma coisa: ‘dominem a terra’, façam o que Deus fez, pondo ordem ao caos”.
Em cada trecho que narra a criação, Deus vê que aquilo que criou é bom, e quando faz o homem e a mulher, Ele diz que era “muito bom”, e no sétimo dia descansou. Segundo Dom Odilo, isso mostra que o trabalho não é um fim em si mesmo, ele tem um objetivo a realizar, uma obra boa, mas por fim é preciso descansar, ter o prazer do trabalho.
“Estamos habituados a ver o trabalho dentro de um sistema, com uma dimensão utilitarista (…) Se estamos acostumados a ver o trabalho apenas como mercadoria, em função do ganho, do acúmulo, nós estaremos desvirtuando a maneira originária de ver o trabalho”, alertou.
Dom Odilo explicou que o trabalho já existia antes do pecado original, e depois do pecado tornou-se desvirtuado e pesado. “O trabalho é a nossa participação criativa na obra comum, na obra solidária da coisa boa a realizar em comum, neste mundo. Cada um dando de sua parte, o dom que Deus lhe deu. O trabalho é nossa forma de assumir nossas responsabilidades sociais e familiares”.
Por fim, o cardeal recordou a Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, na qual Papa Francisco destaca que uma das questões fundamentais do nosso tempo é a inclusão social dos pobres, sobretudo através da dignidade do trabalho, que lhes possa ser oferecido.
“Os pobres estão em aumento por causa das crises econômicas, decorrentes de uma visao materialista da economia e do trabalho. Este é um desafio grande da evangelização. Permear novamente o mundo da economia do trabalho com os valores cristãos é missão da Igreja, a fim de que os grandes princípios norteadores da dignidade da pessoa, da solidariedade social e da justiça nas relações de trabalho sejam postos em prática”, ressaltou.
O Arcebispo de São Paulo também rezou por aqueles que vivem a angústia de não ter um trabalho ou não têm acesso a um trabalho digno para sustentar a si e à sua família, ou mesmo para dar sua contribuição na edificação do bem comum na sociedade.