OUTUBRO ROSA

Câncer de mama superou o câncer pulmão no mundo, lembra especialista

De acordo com o médico mastologista Marcelo Bello, é importante que as mulheres fiquem atentas à mama, especialmente a partir dos 50 anos

Thiago Coutinho
Da redação

O quanto antes a doença for descoberta, maiores são as chances de cura, afirmam os médicos / Foto: iStock

Sejam países desenvolvidos ou subdesenvolvidos, o câncer de mama ainda é o mais comum entre as mulheres em todo o mundo. Até 2020, estimativas apontam que 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas com a doença. Em 2021, o Brasil registrou 66.280 casos novos — um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.

Além das próprias análises que a paciente pode realizar em seu corpo caso perceba alterações na mama, a mamografia e a ressonância são os exames que podem detectar a presença da doença. “O sinal mais comum é a presença de um nódulo. Algo endurecido na mama da paciente que ela própria percebe. E não que todos os nódulos sejam câncer de mama, já que a maioria deles são benignos. Mas existem características, especialmente em mulheres acima de 40 e 50 anos, que pedem atenção”, explica Marcelo Bello, médico mastologista e diretor da Unidade III, dedicada ao tratamento do câncer de mama, do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Retração na pele, alterações inflamatórias na pele da mama, secreções expelidas pelo mamilo (especialmente aquelas em uma única região do mamilo e caso seja uma secreção aquosa) pode ser algo que demanda mais atenção da mulher. Nódulos na axila também não são normais (confira quadro explicativo ao final deste texto).

Quando diagnosticada com câncer, a mulher precisa dar início ao tratamento o mais rápido possível. De acordo com o médico mastologista, a lei atual determina que o tratamento deve começar 60 dias após o diagnóstico. “Se ela fez o dignóstico no sistema público, será encaminhada para uma unidade de atenção terciária, centros habilitados ao tratamento de câncer. Numa rede privada, os caminhos são um pouco mais rápidos”.

Diagnóstico tardio

Como em todos os tipos de câncer, quanto mais cedo a doença for descoberta e combatida, melhor — as chances de cura e o tratamento são sempre mais eficazes. Mas isso não significa que quem começar o tratamento tardiamente terá menos sucesso. “Mesmo essas pessoas serão submetidas a tratamentos eficientes”, assegura Bello. “Só que aí os tratamentos são maiores, mais complexos. Mas têm também ótimos resultados”, reitera.

No Brasil, menos de 10% dos casos de câncer são hereditários (aqueles em que a pessoa herda uma mutação genética e acaba desenvolvendo um câncer). “Mas aquelas pacientes que não têm mutação, cerca de 90% dos casos diagnosticados, são compostos de múltiplos fatores”, alerta Bello. “Mulheres que começam a menstruar muito cedo ou para muito tarde são fatores de risco. Mas há fatores modificáveis. Sobrepeso, por exemplo. Se você consegue manter uma dieta adequada e dentro de um peso ideal para sua estatura, reduzirá seus riscos de desenvolver câncer de mama”.

Atividades físicas também são muito importantes para prevenir o câncer de mama e diversas outras doenças, como problemas cardiovasculares. Isto não significa, porém, que as pessoas devam se tornar atletas. “Mas é importante manter uma atividade física regular”, completa o médico.

Importância da amamentação e de evitar o álcool

O consumo exacerbado de álcool é o que preocupada os especialistas. Segundo Bello, o consumo de bebida alcoólica está intrinsicamente ligado aos genes de câncer de mama. “Isso também é um fator de risco e se você consegue controlar esta ingestão, diminuirá os riscos de desenvolver a doença”.

A amamentação também é muito importante na prevenção ao câncer de mama. Com a agitação da vida moderna, muitas mães abandonaram este hábito. “Para cada ano de amamentação, estimamos uma redução de 4% do risco de câncer de mama. É difícil falar isso à sociedade moderna [o tempo de amamentação], então, amamente o máximo que puder. Tendo mais de um filho, este tempo de amamentação é somado e pode ser um fator de proteção contra o câncer”, explica.

Pandemia

Infelizmente, segundo Marcelo Bello, a pandemia atrasou a quantidade de diagnósticos. “Em 2020, tivemos uma redução significativa no número de mamografias realizadas no Brasil”, lamenta o mastologista. “A pandemia foi responsável por isso. Tivemos uma queda de 40% no número de mamografias — algo em torno de 800 mil exames que não foram realizados”.

Este atraso da pandemia pode ter feito com que muitas mulheres tenham descoberto a doença com atraso.

A campanha

No início da década de 1990, o símbolo da prevenção do câncer (o laço rosa) foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York (EUA). Desde então, a campanha é promovida anualmente.

“A campanha poderia durar o ano todo, porque a doença não vai ocorrer apenas em outubro”, diz Bello. “Mas é um mês de conscientização, uma ação que se replicou pelo mundo todo desde que começou em Nova York. Temos que saber, a sociedade tem que saber, as mulheres têm que saber que a doença existe. É o câncer mais incidente do mundo. Superou o câncer de pulmão. O risco de as mulheres, especialmente a partir dos 50 anos, ter um câncer de mama não é pequeno. Elas precisam saber que têm que se prevenir, fazer mamografia e procurar um médico sempre que sentir algo diferente na mama”, finaliza.

Volta por cima

Juliana Aparecida Vargas Assis Alves, hoje com 44 anos, foi diagnosticada com câncer de mama há cinco anos, em novembro de 2017. À época, os sintomas tiveram início com uma incômoda dor que tirava as forças de seu braço esquerdo. Como cuidava de seu filho de quatro anos de idade, Juliana não deu muita importância àquele incômodo. Tomou um remédio para dor muscular e a dor sumiu.

“Mas logo percebi que havia algo diferente em minha mama esquerda”, recorda Juliana. “As passar por um mastologista, foi constatada a presença de quatro nódulos. Todos com características malignas”.

O tratamento, então, teve início 20 dias depois. “Foram 16 sessões de quimioterapia, mastectomia [retirada da mama] total com retirada da axila a esquerda, 25 sessões de radioterapia e cirurgia de prevenção à direita”, relembra Juliana.

Em 2021, Juliana realizou a operação para colocar as próteses. A cada três meses passa por um oncologista e toma um medicamento mensal para bloqueio hormonal. O tratamento se estenderá por uma década. “Os médicos disseram-me na época que a operação tinha que ser feita o mais rápido possível. Tudo foi agilizado para que eu fizesse a quimioterapia. O quanto antes você descobre a doença, melhor, pois aí o tratamento é menos agressivo”, detalha.

Juliana frisa o quanto Deus foi importante em sua vitória sobre a doença. “Deus foi essencial para esta vitória”, assevera. “Sem Ele, minha história não teria um final feliz. Hoje, olho para as minhas cicatrizes e vejo o quanto sou feliz e amada. Aprendi a sorrir mesmo diante da dor, ser forte mediante as lutas e incentivar as mulheres a se cuidarem”, finda.

 

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