Saúde

Campanha Janeiro Roxo promove conscientização sobre a hanseníase

Brasil é o segundo país no mundo com mais casos de hanseníase, uma doença que possui tratamento, inclusive oferecido pelo SUS

Thiago Coutinho
Da redação

Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de registros de casos de hanseníase, de acordo com a OMS / Foto: Freepik.com

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), somente na última década, o Brasil registrou 30 mil casos de hanseníase — o país perde apenas para a Índia. Autoridades sanitárias brasileiras informam ainda que o pico da doença se deu em 2003, quando foram computados 51.941 casos. O Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro com a cor roxa para realizar campanhas de conscientização sobre a doença.

Por se tratar de uma doença que carrega um estigma social muito forte, as pessoas acabam não procurando ajuda especializada por vergonha — e, quanto mais cedo o tratamento tem início, maiores são as chances de recuperação.

“O tratamento da hanseníase é gratuito e oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma a dermatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), Rossana Vasconcelos. “É realizado por meio da poliquimioterapia, uma combinação de antibióticos. São doses supervisionadas: o paciente tem que tomar o medicamento na frente do médico ou do agente de saúde, para que tenhamos certeza que o tratamento está sendo feito. Assim, diminuímos a chance de transmissão e asseguramos a melhora dele”, acrescenta.

O tratamento depende da forma como a doença se apresenta: Paucibacilar (poucas manchas e bacilos pelo corpo) ou Multibacilar (quando há mais quantidade de bacilos). No primeiro caso, o tratamento leva seis meses. No segundo, são necessários 12 meses. A forma Multibacilar é a mais comum: representam 70% dos casos, segundo o Ministério da Saúde.

Principais sintomas

Os sintomas poderão variar de acordo com o estágio da doença. “Incialmente, aparecem manchas esbranquiçadas, vermelhas ou acastanhadas”, detalha a dermatologista. “Outra coisa muito importante investigar é a sensibilidade térmica: não conseguir distinguir o quente do gelado, associado a uma mancha, já é o suficiente para se pensar no diagnóstico da hanseníase”, afirma.

Conforme a doença progride e não é tratada, o paciente passa a não sentir dores ou sensações táteis no local da mancha. “Com o passar do tempo, essas manchas podem se tornar nódulos, placas, mas isso também depende da imunidade do paciente. Por isso, os quadros mais leves em que a pessoa tem menos bacilos, eles tendem mais a aparecer neste formato de mancha e num número menor. Já quando a imunidade não é tão boa, há muitos bacilos e esses nódulos são mais comuns”.

Hanseníase e a pobreza

Índia e Brasil ocupam, respectivamente, primeiro e segundo lugar entre os países com mais vítimas da Hanseníase. A manifestação da doença, de acordo com especialistas, está intrinsicamente ligada às más condições de vida e saneamento básico oferecidas à população.

“Sim, é uma doença associada à condição social”, assegura Rossana. “Trata-se de uma doença negligenciada. Muitas vezes aquela pessoa que não tem acesso às condições de saúde, alimentação adequada, pode apresentar uma lesão de pele e não ter como procurar assistência por diversos motivos. E para chegar a um bom serviço, é preciso que ele esteja disponível, com profissionais especializados, que saibam fazer os testes e reconhecer a doença e desenvolver o diagnóstico”, reitera.

É preciso ainda, segundo a médica, que haja médicos que tenham experiência com hanseníase, que saibam identificá-la e, assim, tratá-la adequadamente.

Riscos

A hanseníase afeta a pele e os nervos de maneira severa quando o tratamento não é feito da maneira adequada ou a doença é diagnosticada precocemente.

“Além do estigma que a doença traz, pode causar déficits funcionais”, observa a dermatologista. “Este acometimento neural vai levando inicialmente a alterações de sensibilidade, de não sentir dor, temperatura, que pode levar a machucados, lesões crônicas, perda dos dedos e função do nervo. A mão ou o pé podem ficar caídos, por exemplo”, diz.

Além de todos esses problemas, a doença é transmissível. “Então, precisamos controlar logo os casos para diminuir a contaminação. Este é um dos pontos mais importantes em procurar por esses pacientes, para limitar essas sequelas físicas e emocionais”, finaliza.

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