PAIXÃO NACIONAL

Brasil registra aumento no tempo de consumo de rádio no país

No Dia Nacional do Rádio, comemorado nesta segunda-feira, 25, confira a história e dados de um dos veículos de comunicação mais amados do Brasil

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: Andrea De Santis via Unsplash

Todos os dias, o seu Juvenal da Silva, morador de Itaguaí (RJ), tem seus dias de aposentado preenchidos por uma companhia inseparável, que ele conheceu há muitas décadas: o rádio. “Não consigo viver sem ele”, afirma o idoso, que também indica ouvir a programação radiofônica de algumas emissoras da região cerca de 10 horas por dia.

Juvenal da Silva / Foto: Arquivo pessoal

O seu Juvenal é um dos milhões de brasileiros alcançados pelas ondas do rádio diariamente, representando 80% da população nacional segundo o estudo Inside Audio 2023, da Kantar IBOPE Media. O veículo de comunicação é tão popular que tem um dia só seu no país, comemorado justamente nesta segunda-feira, 25 de setembro.

Origem do rádio no Brasil

A data foi escolhida em homenagem a Edgard Roquette-Pinto, nascido neste dia em 1884 e considerado o pai do rádio no Brasil. Ele foi o fundador da primeira emissora do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (RJ), em 1923. Contudo, a história do veículo no país já havia começado um tempo antes.

Segundo o radialista, professor acadêmico e missionário da Comunidade Canção Nova, Danielson Freire, há registros de transmissão sonora por ondas no Brasil ainda no século anterior, em 1892, cujo responsável foi o padre e cientista Roberto Landell de Moura. “Ele construiu o primeiro transmissor sem fio para transmissão de mensagens, e dois anos depois, em 1894, teve a primeira transmissão pública por ondas de antenas”, explica Freire.

Contudo, este seria apenas um embrião do meio de comunicação que estava por nascer. O registro mais aceito da primeira transmissão de rádio no país data de 7 de setembro de 1922, quando o então presidente da República, Epitácio Pessoa, teve seu discurso em ocasião do centenário da Independência do Brasil transmitido em alguns pontos do Rio de Janeiro.

O rádio se expande no país

Danielson Freire / Foto: Arquivo pessoal

No ano seguinte, Roquette-Pinto fundou a Rádio Sociedade no Rio de Janeiro e o veículo começou a crescer cada vez mais. “Naquela época, o rádio era voltado para a transmissão de informações, cobertura de eventos e também, conforme Roquette-Pinto desejava tanto, para a transmissão da educação”, constata o professor.

Ele também aponta as principais características do rádio, que contribuíram diretamente para à sua rápida expansão no país: linguagem oral, capacidade de penetração, mobilidade, baixo custo, imediatismo, instantaneidade, sensorialidade e autonomia.

“As famílias, especialmente naquela época, tinham condições de ter o aparelho, levá-lo para qualquer canto da sua casa (ou até mesmo fora dela), ou seja, onde eles estivessem, fazendo o que estivessem fazendo, dava para ter o aparelho de rádio ao lado”, detalha Freire.

Companhia diária do brasileiro

Desta forma, o rádio tornou-se um grande companheiro do brasileiro. A missionária da Comunidade Canção Nova Juliana Xavier, que atua na locação e na produção da Rádio Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP), enfatiza a importância deste aspecto.

Juliana Xavier / Foto: Arquivo pessoal

Ela sublinha que o “rádio é companhia”. De fato, outro levantamento, realizado pela Kantar IBOPE Media em 2022 e nomeado Inside Radio, revela que 43% da população aponta este como um motivo para escutar o veículo. Contudo, para a locutora e produtora, este aspecto também traz algumas implicações, como a fidelidade ao público-alvo ao qual cada emissora busca atender.

Entre os anos de 1930 e 1940, o rádio viveu seu apogeu no país, em uma época que ficou conhecida como “era de ouro”. Porém, destaca Juliana, se naquele tempo o rádio era a grande atração, atualmente, ele compete com vários outros meios de comunicação e precisa manter-se sempre atualizado.

Transformações no rádio

Freire reconhece que “o rádio teve que se modificar para não ficar obsoleto”, tendo seu principal formato alterado. Se na “era de ouro” os programas contavam com plateias e atrações em festivais ao vivo (entre outros formatos), a chegada da televisão na década de 1950 implicou em uma migração para o novo veículo de comunicação, obrigando o rádio a uma primeira grande mudança adaptativa.

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Da mesma forma, o desenvolvimento tecnológico potencializou essas alterações. Entre eles, o uso de recursos fonográficos (como os discos de vinil) e a capacidade de gravar conteúdo previamente para depois disponibilizá-lo fizeram com que o rádio tivesse menos atrações ao vivo e mais conteúdos “programados previamente”. Posteriormente, houve o advento da internet no final do século XX, que implicou novas mudanças. Entretanto, aponta o radialista, a essência do rádio e suas características ainda são preservadas.

Atualizações na atualidade

Atualmente, a convergência tecnológica permitiu que o acesso ao rádio fosse ainda mais amplo, por meio da internet. As web rádios, como são chamadas, podem ser acessadas de qualquer dispositivo, e potencializam o consumo do conteúdo produzido. Segundo dados da pesquisa de 2022 da Kantar IBOPE Media, 26% da população escutam atrações radiofônicas usando seus celulares.

Isso, entre outros fatores, reflete no aumento do tempo que os brasileiros ouvem o rádio. O estudo de 2023 revelou que a média diária dos ouvintes é de quase quatro horas, e que 57% das pessoas manteve ou aumentou o tempo de consumo de rádio em comparação aos seis meses anteriores à produção do estudo.

Mesmo com o passar dos anos e o avanço da tecnologia, o rádio permanece firme junto ao seu público fiel, se adaptando às suas novas necessidades. Essa evolução é reconhecida pelo público – a pesquisa da Kantar IBOPE Media de 2023 indica que 76% dos ouvintes de rádio acreditam que o meio vem se modernizando em seus conteúdos e formatos. Tal fenômeno é sinalizado por Freire: é o “grande potencial de transformação” de um dos canais de comunicação mais amados do país.

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