Nesta sexta-feira, 18, Brasil recorda Dia de Combate ao Alcoolismo; pesquisa aponta para aumento do consumo do álcool na pandemia
Julia Beck
Da redação
Reconhecido, desde 1967, como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o alcoolismo é o centro de uma data importante celebrada nesta sexta-feira, 18: o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo.
Como o álcool é associado ao lazer, a momentos agradáveis, a psicóloga Elaine Ribeiro adverte que, muitas vezes, as pessoas não têm consciência de que excessos podem ser prejudiciais.
“Nem sempre se leva em conta o histórico de dependência química na família, ou ainda uma maior tolerância ao álcool”, opina.
Elaine afirma que o consumo excessivo do álcool pode prejudicar todo o organismo: o ritmo do sono, o fígado, o cérebro, a nossa capacidade de concentração e produtividade, a falta de paciência e os riscos de acidentes de trânsito.
O consumo desenfreado e cada vez mais cedo tem sido de grande preocupação para todas faixas etárias, alerta a especialista. “Beber pouco, mas todos os dias é dependência. Beber uma vez por semana em grandes quantidades também é dependência. Ou seja, é a relação que se tem com a bebida que diz do prejuízo que ela tem causado, portanto, é este ponto que precisa também ser considerado quando falamos de dependência do álcool”, finaliza.
Dependência do álcool: doença multifatorial
De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), a dependência de álcool é uma doença crônica e multifatorial. Isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.
No entanto, não são estes fatores que definem o diagnóstico de dependência. Ela é definida pela OMS como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de álcool, tipicamente associado aos seguintes sintomas:
- Forte desejo de beber;
- Dificuldade de controlar o consumo (não conseguir parar de beber depois de ter começado);
- Uso continuado apesar das consequências negativas;
- Maior prioridade dada ao uso da substância em detrimento de outras atividades e obrigações;
- Aumento da tolerância (necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido com doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância);
- Estado de abstinência física (sintomas como sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa está sem o álcool).
Fatores emocionais
Sobre as questões emocionais que podem favorecer o alcoolismo, a psicóloga Elaine Ribeiro sublinha o efeito que o álcool pode trazer quando ingerido. Para muitos, frisa a especialista, ele pode trazer certa calmaria frente aos fatores estressantes.
“Na prática, temos duas realidades, ao mesmo tempo que ele pode ser um calmante, na linguagem popular, o álcool incita tanto a ansiedade quanto a depressão”, alerta.
A psicóloga reforça também que, biologicamente, podemos ser mais vulneráveis ao álcool, ou seja, termos mais facilidade para nos tornarmos dependentes. “Por ser um hábito socialmente aceito, ele acaba sendo parte da vida das pessoas sem muito controle”, observa.
“Quando encontra esta tendência biológica ao vício, o organismo pode ter a situação agravada. Como o consumo contínuo de álcool vai acionando o comportamento de dependência em nosso cérebro, e ainda passamos a desenvolver maior tolerância, cada vez mais teremos necessidade de maiores quantidades de bebida para trazer o mesmo efeito de euforia ou calma”.
Aumento do consumo do álcool na pandemia
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), datada de setembro passado, indica que 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas. 17,2% declararam aumento do consumo durante a pandemia da Covid-19, associado a quadros de ansiedade graves por conta do isolamento social.
A psicóloga Elaine Ribeiro acredita que o isolamento necessário durante a pandemia favoreceu que as pessoas, juntas em casa, tivessem dificuldades no relacionamento, estresse prolongado, perdas e outros fatores aumentados.
“Nem sempre foi um fato que surgiu ali, naquele momento, mas muitas coisas foram potencializadas, externadas com a pandemia”, explica.
A especialista recorda que muitas pessoas perderam sua condição financeira, perderam pessoas, cargo, estrutura familiar. Muitos casamentos terminaram, e as relações humanas ficaram efetivamente mais fragilizadas.
“O que aconteceu, em muitos casos, foi o aumento do estresse, da ansiedade e da depressão, favorecendo não apenas o consumo do álcool (que passou a ser consumido em casa, por entrega em domicílio) bem como drogas em geral”, sublinha.
Elaine pontua que como o acesso ao álcool é mais facilitado e socialmente melhor aceito, seu consumo ainda foi favorecido, uma vez que fornece prazer imediato e tira o foco daquilo que causa sofrimento.
Segundo a pesquisa, uma em cada três pessoas no país consome álcool pelo menos uma vez na semana. O consumo abusivo de bebidas alcóolicas foi relatado por 18,8% dos brasileiros ouvidos no levantamento. Foram entrevistadas 1,9 mil pessoas, espalhadas pelas cinco regiões do país.
Psicoterapia: uma aliada na luta contra o alcoolismo
A psicoterapia é uma grande aliada na luta contra o alcoolismo, afirma Elaine. A psicóloga aponta seus benefícios: “Ajuda a pessoa a aceitar o vício e compreender como ele está presente em sua vida, bem como as situações que podem favorecer o consumo de álcool”.
A especialista também explica que a psicoterapia ajuda o paciente na resolução de problemas, pois muitos dependentes químicos têm comportamentos de fuga frente às dificuldades e se refugiam na bebida. Também trabalha a prevenção de recaída, ensinando como a pessoa precisa lidar com novos episódios de consumo de álcool – o que pode acontecer.
“Ter um novo olhar sobre a vida, melhorar seus relacionamentos, ganhar em qualidade de vida. Estas e outras situações podem ser acompanhadas em psicoterapia”, complementa.
Apoio na recuperação de dependentes
As pessoas que convivem com um alcoólatra precisam compreender que se trata de uma doença, que o dependente precisará de apoio, ressalta Elaine.
Ao tomar novos hábitos na vida, a psicóloga destaca que o dependente necessita da ajuda de pessoas próximas, pois é um caminho bastante difícil de ser tomado, que terá momentos de alteração de humor e comportamentos difíceis.
Ajudar no possível isolamento que este paciente pode ter, ser presença e suporte também no tratamento médico que o paciente necessitar são algumas indicações da especialista para familiares e amigos de quem enfrenta o alcoolismo.