Cerca de 300 pessoas saíram hoje, 12, em passeata pelas ruas da região central da cidade de São Paulo, em ato que fez parte das manifestações realizadas em 34 países pela passagem do Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil.. A passeata foi da Praça da República até a Praça da Sé, onde foi celebrada missa na Catedral da Sé.
.: Instituição aponta que trabalho infantil é combatido com educação
Na missa, o Padre Rogério Andrade Santere manifestou repúdio à exploração do trabalho infantil. "A Igreja, mais do que nunca, defende que o nosso Deus é pela vida, seja qual for a idade, pela dignidade das pessoas, dos valores éticos e morais e pelo resgate da cidadania". Padre Rogério disse que esse problema social deve ser combatido e ressaltou que atos como a passeata e a cerimônia religiosa servem para buscar a conscientização da sociedade sobre a responsabilidade de todos.
"Queremos ver respeitados os direitos das crianças e jovens conforme, o Estatuto da Criança e do Adolescente", afirmou o padre, depois de observar que o tema da Campanha da Fraternidade deste ano é a Defesa da Vida. A campanha é realizada todos os anos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
"O que nós buscamos foi conscientizar a sociedade sobre a prática abusiva de manter menores no trabalho", afirmou a secretária nacional de Políticas para Crianças da Força Sindical, Gleides Sodré. Ela própria disse que já sentiu na pele esse tipo de exploração, lembrando que era comum o uso de migrantes nordestinas ou da Região Norte do país para o trabalho doméstico em casas de família da cidade de São Paulo e que viveu essa condição, quando tinha 9 anos.
Hoje, aos 35, depois de ter sido diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, ocupa o cargo atual, desde 2004, sabendo bem o sofrimento e os malefícios dessa exploração, que se estende a várias práticas, como "venda de objetos em faróis [semáforos] nos principais cruzamentos do trânsito, limpeza de pára-brisa dos carros e exploração sexual e de tráfico de drogas", afirmou.
Dados sobre a fiscalização do Ministério do Trabalho indicam que, de janeiro a abril, foram aplicadas 1.685 autuações em ação que visa à retirada de crianças e adolescentes do trabalho nos setores formais e informais da economia. Cem desses casos ocorreram no estado de São Paulo. Os estados líderes dessa prática irregular são a Bahia. com 693 casos, e o Ceará, com 342. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que, no mundo todo, 165 milhões de crianças e adolescentes sejam vítimas de tal tipo de exploração.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ressalta, em sua página eletrônica, que a "legislação brasileira só permite o trabalho, como aprendiz, a partir dos 14 anos de idade". Apesar disso, 1,4 milhão de crianças com idade entre 5 e 13 anos estavam trabalhando ao longo de 2006. A maioria, no setor agrícola.
Os dados são da Pesquisa Nacional por amostragem de Domicílios (Pnad) que associa o quadro à pobreza das famílias à baixa taxa de escolarização. Na faixa de idade entre 15 e 17 anos, 24,8% dos adolescentes deixaram de freqüentar as salas de aula para afazeres domésticos, trabalhar fora de casa ou procurar emprego.