Projeto “Comunhão e Partilha” surgiu em 2012 devido a realidade financeira de diversas dioceses espalhadas por todo Brasil
Monique Coutinho
Enviada à Aparecida
“Mãos abertas nunca foram mãos vazias”, foi o que disse o Bispo emérito de Parnaíba (PI), Dom Alfredo Schafller, no 5º meeting point da Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, cujo tema é “Projeto Comunhão e Partilha”, que atualmente tem como Presidente o Bispo de São José dos Campos (SP), Dom José Valmor Cesar.
A necessidade financeira de diversas dioceses espalhadas pelo Brasil fez despertar a elaboração do projeto, que teve início em 2012 durante a celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II.
“Temos dioceses que passam por situações econômicas muito precárias, assim como nós temos diferenças econômicas no Brasil, isso também repercute nas dioceses. E quando fomos chamados em missão como bispos, nenhum de nós escolheu o local, é o Papa que nos envia, então não é justo que um irmão vá para algum canto onde será apanhado com uma mão na frente e outra atrás”, afirma Dom Alfredo.
O Bispo de Parnaíba (PI) afirma que em muitos lugares não é encontrado o mínimo para manutenções das dioceses, e acima de tudo, para formação dos futuros padres.
“Por exemplo, eu encontrei uma diocese onde, por sete anos, o bispo não recebia mais nenhum seminarista porque não tinha dinheiro para custear os estudos. Então como vou me sentar ao lado de um colega aqui na Assembleia, que não tem o mínimo e fica até perdendo horas de sono para saber como cumprir com a folha de pagamento no final do mês e como colocar comida na mesa dos seminaristas?”, questiona.
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Foi a partir destas necessidades que surgiu a ideia, e por votação unânime, cada diocese (seja ela pequena ou grande) doa da sua receita ordinária 1% mensalmente para fazer depósito no fundo da CNBB.
“Ficou certo que, a partir do mês de julho daquele ano, cada diocese começaria. O Santuário, através da Campanha dos Devotos, foi o primeiro que começou, logo no mês de maio. E de fato, as dioceses aderiram e conseguimos criar este fundo em 2012. Já no mês de novembro começamos a beneficiar os primeiros 110 seminaristas, provenientes de umas 36 dioceses”.
O projeto se desenvolveu e cresceu. O Bispo exemplifica que no final de 2016 conseguiram ajudar a 50 dioceses, totalizando 403 seminaristas, custeando suas formações e hoje muitos deles já se ordenaram padres.
“Se nós olharmos o irmão, não como um concorrente, mas como meu irmão, no qual aparece também o rosto de Jesus Cristo que nos fala: ‘tudo o que estão fazendo, ao menor dos irmãos, é a mim que estão fazendo’. Nós somos capazes de colocar grandes gestos através de pequenas ações. Somos capazes de suscitar a esperança e dar testemunho da palavra de Deus. Hoje nós somos capazes de lançar um sinal de esperança para este mundo”.
Dom Alfredo lança uma proposta: “se cada paróquia, da sua receita ordinária, desse 1% para um fundo, para nos ajudar na missão no amazonas, não seria fantástico? Não poderíamos ajudar esses nossos irmãos? Porque temos padres que não tem casa, que moram em um barraco, dentro de uma embarcação. Este gesto será que não ia falar alto? E nós falamos de missão, mas a missão passa pelo bolso e é daí que sai o gesto. Acho que nenhuma diocese deixou de cumprir suas obrigações porque tirou 1% para esta comunhão. Às vezes somos grandes no falar, mas quando se trata de agir nos dá a impressão de que estamos mais devagar”.
Este projeto foi proposto por cinco anos, podendo ser concluído em 2017, mas no início deste ano foi feita uma avaliação onde apresentaram os números e prestaram as contas e novamente, por unanimidade, todos votaram para estender por outros cinco anos.
“Tudo isso para para ajudar nossos irmãos que estão em outras regiões do Brasil e que ainda não tem esta condição de manter as dioceses.”
A maior despesa que o bispo tem na sua diocese geralmente é a formação dos seminaristas – afirma Dom Alfredo -, e estes são jovens de boa vontade que vem de famílias carentes. Estes estudos são, no mínimo, oito ou nove anos, então isso é um investimento que a diocese tem que fazer e nem sempre tem possibilidades. “Para mim como bispo, os padres são as mãos e os pés dos bispos. A Igreja precisa de padres, temos muitos leigos com boa vontade e que dão testemunhos belíssimos, mas não podemos construir a Igreja sem o padre”.
“Não é triste se um jovem quer se ordenar e por falta de condição ele não consegue servir a este chamado? Já encontrei diversas pessoas que falam: ‘padre Alfredo, eu sempre quis ser padre, mas meus pais nunca tiveram condições para pagar os estudos’. Isso dói”, observa o Bispo.
A finalizar o encontro, Dom Alfredo afirma que a Igreja precisa de mais padres e por este motivo apostou neste projeto. “Por isso que apostei e posso dizer que acho que foi dado uma contribuição para que tivéssemos mais padres e que nenhuma diocese precise mandar os jovens que se sentem chamados para este ministério sacerdotal embora”.