Benção Urbi et Orbi
Praça de São Pedro
Domingo, 8 de abril de 2012
Venerados Irmãos,
Cardeal António Maria Vegliò,
Presidente do Pontifício Conselho
para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes,
e D. Pedro Pablo Elizondo Cárdenas,
Bispo Prelado de Cancún-Chetumal
Por ocasião do VII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo, que se vai realizar em Cancún (México), de 23 a 27 de Abril, desejo dirigir-vos a minha cordial saudação, que estendo aos venerados Irmãos no Episcopado e aos participantes neste importante encontro. No início destas jornadas de reflexão sobre a acção pastoral que a Igreja realiza no âmbito do turismo, quero fazer chegar aos congressistas a minha solidariedade espiritual e também a minha deferente saudação às autoridades civis e aos representantes de organizações internacionais que quiseram estar presentes neste evento.
O turismo é, sem dúvida, um fenómeno característico do nosso tempo, quer pelas significativas dimensões atingidas quer pelas perspectivas de crescimento previstas. Como toda a realidade humana, também ele deve ser iluminado e transformado pela Palavra de Deus. Com esta convicção, a Igreja, na sua solicitude pastoral e ciente do importante influxo que este fenómeno tem sobre o ser humano, acompanha-o desde os seus primeiros passos, sustenta e promove as suas potencialidades e, ao mesmo tempo, assinala os seus riscos e desvios e empenha-se por corrigi-los.
O turismo, juntamente com as férias e o tempo livre, apresenta-se como um espaço privilegiado para o restabelecimento físico e espiritual, facilita o encontro entre pessoas de culturas diversas e torna-se ocasião de contacto com a natureza, favorecendo assim a escuta e a contemplação, a tolerância e a paz, o diálogo e a harmonia no meio da diversidade.
O viajar é manifestação do nosso ser homo viator, enquanto reflecte aquele outro itinerário, mais profundo e significativo, que somos chamados a percorrer: o caminho que nos leva ao encontro de Deus. A possibilidade de admirar a beleza das nações, das culturas e da natureza, que as viagens nos oferecem, pode conduzir-nos a Deus, favorecendo a experiência da fé, «pois na grandeza e na beleza das criaturas se contempla, por analogia, o seu Criador» (Sab 13, 5). Por outro lado, o turismo, como toda a realidade humana, não está isento de perigos nem de elementos negativos. Trata-se de males que temos de enfrentar urgentemente, porque lesam os direitos e a dignidade de milhões de homens e mulheres, especialmente pobres, menores e deficientes. O turismo sexual é uma das formas mais abjectas destes desvios que devastam, do ponto de vista moral, psicológico e clínico, a vida das pessoas, de muitas famílias e às vezes de comunidades inteiras. O tráfico de seres humanos por motivos sexuais ou para transplante de órgãos, bem como a exploração de menores, o seu abandono em mãos de pessoas sem escrúpulos, o abuso, a tortura verificam-se, infelizmente, em muitos contextos turísticos. Tudo isto deve induzir aqueles que, pastoralmente ou por motivos de trabalho, se consagram ao mundo do turismo e toda a comunidade internacional a aumentar a vigilância para prevenir e contrastar estas aberrações.
Na encíclica Caritas in veritate, quis destacar o fenómeno do turismo internacional no contexto do desenvolvimento humano integral. «É preciso pensar num turismo diverso, capaz de promover verdadeiro conhecimento recíproco, sem tirar espaço ao repouso e ao são divertimento» (n. 61). Convido-vos a fazer com que o vosso Congresso – reunido precisamente sob o lema O turismo que faz a diferença – contribua para desenvolver uma pastoral que nos conduza gradualmente a este «turismo diverso».
Desejo indicar três âmbitos nos quais a pastoral do turismo deve centrar a sua atenção. Em primeiro lugar, iluminar este fenómeno com a doutrina social da Igreja, promovendo uma cultura do turismo ético e responsável tal que chegue a ser respeitador da dignidade das pessoas e dos povos, acessível a todos, justo, sustentável e ecológico. O gozo do tempo livre e das férias periódicas é uma oportunidade e também um direito. A Igreja, no âmbito que lhe é próprio, deseja continuar a oferecer a sua colaboração sincera para fazer com que este direito se torne uma realidade para todos os seres humanos, especialmente para os grupos mais desfavorecidos.
Em segundo lugar, a acção pastoral nunca deve esquecer a via pulchritudinis, o «caminho da beleza». Muitas das manifestações do património histórico-cultural religioso «constituem verdadeiros caminhos para Deus, a Beleza suprema; mais ainda, são uma ajuda para crescer na relação com Ele, na oração. Trata-se das obras que nascem da fé e que expressam a fé» (Audiência Geral, 31/VIII/2011). É importante cuidar do acolhimento e organizar as visitas turística sempre dentro do respeito devido ao lugar sagrado e à função litúrgica que foi, e continua a ser, o destino principal para que nasceram muitas destas obras.
E, em terceiro lugar, a pastoral do turismo deve acompanhar os cristãos no gozo das suas férias e tempo livre a fim de que seja proveitoso para o seu crescimento humano e espiritual. Trata-se certamente de «um tempo oportuno para relaxar o corpo e também para nutrir o espírito com períodos mais amplos de oração e de meditação, a fim de crescer na relação pessoal com Cristo e se conformar cada vez mais aos seus ensinamentos» (Angelus, 15/VII/2007).
A nova evangelização, para a qual todos estamos convocados, exige que tenhamos presente e aproveitemos as numerosas ocasiões que o fenómeno do turismo nos oferece para apresentar Cristo como resposta suprema às questões do homem actual.
Por isso, exorto a fim de que a pastoral do turismo faça parte, de pleno direito, da pastoral orgânica e ordinária da Igreja, de modo que, coordenando os projectos e os esforços, correspondamos com maior fidelidade ao mandato missionário do Senhor.
Com estes sentimentos, confio os frutos deste Congresso à poderosa intercessão de Maria Santíssima, Nossa Senhora de Guadalupe, enquanto de bom grado concedo a todos os congressistas, como penhor de abundantes favores divinos, a implorada Bênção Apostólica.