Ajuda humanitária

Apreensivos, refugiados palestinos chegam ao Brasil na sexta-feira

O Brasil começa a receber nesta sexta-feira um grupo de pouco mais de cem refugiados palestinos que há quatro anos trocaram a vida urbana da capital do Iraque, Bagdá, pela luta por sobrevivência no meio do deserto na Jordânia.

"É o fim de uma longa espera para eles", diz Anne-Marie Deutschlander, do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), que acompanhou a situação dos palestinos desde abril de 2003, quando a maioria fugiu do Iraque após a queda de Saddam Hussein.

"Eles queriam saber onde iriam ser reassentados no Brasil, como é o clima, se iria ser em casa ou apartamento, como poderiam trabalhar…", conta o oficial de reassentamento José Francisco Sieber Luz Filho, enviado pelo Acnur brasileiro para ajudar na adaptação cultural dos palestinos no Brasil.

Os palestinos, que passaram quatro anos vivendo em tendas no meio do deserto, ficaram felizes, mas apreensivos, quando receberam a notícia de que iriam para o Brasil. Ao mesmo tempo em que foram distribuídos doces para comemorar e muitos choraram de alegria, surgiram dúvidas sobre um país desconhecido, com uma língua que ninguém sabia falar.

"Alguns revelaram medo em ir para São Paulo, porque ouvem dizer que é uma cidade muito violenta. O argumento que eu dou para eles é muito simples: 'Vocês esqueceram que vieram de Bagdá?'", diz Anne-Marie.

Os dois estados que receberão os refugiados, 117 ao todo, são Rio Grande do Sul e São Paulo. A primeira leva, de 32 palestinos, a maioria idosos e famílias, desembarca no Brasil na sexta-feira.

Exemplo do Brasil

"A decisão brasileira é um exemplo de que a comunidade internacional está ajudando os refugiados, de que as pessoas estão recebendo a chance de começar uma nova vida", diz Imran Riza do Acnur.

Porém, a chance demorou a aparecer. Primeiramente, o Acnur recorreu aos três tradicionais parceiros que costumam receber refugiados: os Estados Unidos, Canadá e Austrália. Todos recusaram os palestinos.

Em seguida, o Acnur foi "bater na porta", nas palavras de Anne-Marie, dos países escandinavos, que também responderam negativamente. "Os palestinos não são apenas refugiados, eles envolvem um problema político muito maior e vários governos não quiseram aceitá-los, muitas vezes por limitações das próprias leis do país", explicou.

Quando uma porta finalmente se abriu, no Chile, a Autoridade Palestina interferiu para evitar a transferência, o que fez o governo chileno recuar da decisão de receber o grupo.

"A Autoridade Palestina quer evitar que estes refugiados saiam do Oriente Médio e se espalhem pelo mundo, além de estar muito preocupada com a perda do direito de retorno (a um possível futuro Estado palestino) destas pessoas. Nós explicamos a eles que ninguém vai perder este direito".
  
Com o recuo do Chile, o governo brasileiro resolveu aceitar os refugiados, também com objeções da Autoridade Palestina. "Mas o governo brasileiro não desistiu. Disse à Autoridade Palestina que lamenta muito, mas que este é um problema humanitário, que é mais importante do que o lado político", diz Anne-Marie.

Este mês, a decisão chilena foi revertida novamente, quando houve o anúncio de que o Chile vai receber 100 refugiados, que atualmente vivem nos campos de Al-Tanf, na Síria, e Al-Waleed, no Iraque.

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