Sacerdote lembra que o amor qualifica o sacrifício
Padre Antônio Aparecido Alves*
Acabamos de viver a Semana Santa, onde celebramos o mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Costuma-se, em algumas pregações desta semana, salientar o aspecto sangrento de seu sacrifício redentor, colocando toda a importância no calvário como sendo o momento em que Ele “deu sua vida por nós”. Desta maneira, fica desmerecida sua proximidade com os pobres, doentes, prostitutas e outros, bem como sua pregação e sua mensagem. Uma visão mais alargada do mistério da redenção nos leva a entender que toda a vida de Jesus foi redentora e que, por isso, tudo foi alcançado pela salvação que Ele livremente nos ofereceu. Como afirma o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, a Redenção começa com a Encarnação, onde o Verbo assume toda nossa existência, menos o pecado (n. 65).
É o amor quem qualifica o sacrifício
Ora, não podemos reduzir a entrega de Jesus ao sacrifício do calvário, que foi a consequência religiosa e política de sua proximidade com os excluídos de seu tempo. Toda a vida de Jesus foi redentora, pois ao se encarnar, o Verbo elevou a humanidade e o cosmos (Hb 10,5). Portanto, precisamos colocar o seu sacrifício dentro de outro esquema de fé. O apelo ao sangue faz parte da concepção pagã, inclusive até com sacrifícios humanos em algumas religiões da antiguidade. Para nós, cristãos, o importante no sacrifício não é o sangue derramado, mas o amor doado, pois é ele quem qualifica o sacrifício. Isso é importante até mesmo em uma dimensão humana, pois é o amor quem dá sentido ao sacrifício de um pai e mãe que lutam para criarem e educarem os seus filhos. Aqui está, portanto, a originalidade do sacrifício de Jesus na cruz, se comparado aos dos pagãos. Como diz o apóstolo Paulo, “posso dar meu corpo para ser queimado, mas se não tiver amor, de nada adiantaria” (1 Cor 13,3). Entendendo desta maneira o sacrifício de Jesus, podemos dizer que também nós devemos “sacrificar” a vida pelos irmãos, no sentido de que prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão (Cf. RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo, p. 170-171; 208-216).
Jesus venceu a violência com o amor
Jesus não apelou para a violência e nem permitiu aos seus discípulos que o fizessem. Ele ensinou aos seus seguidores a não resistirem aos violentos, corrigiu os preceitos da Lei ao afirmar que matar alguém não é somente lhe tirar a vida e ordenou a Pedro que embainhasse a espada, pois quem vive dela por ela morrerá (Mt 5,20-26; 26,52). No momento de sua prisão não solicitou que legiões de anjos descessem dos céus para combaterem em seu favor e não respondeu às agressões físicas, verbais e morais ocorridas durante sua Paixão. Enfim, Jesus se colocou na linha do servo sofredor, que gozava da complacência de Deus exatamente por ser pacífico, isto é, alguém que não levantava a voz, que entregou as costas aos que o feriam e não desviou o rosto dos bofetões e cusparadas (Is 42,1-7). Enfim, aprendamos com Ele a ser promotores da paz, enquanto vemos nas redes sociais um crescimento do discurso do ódio, da intolerância e do preconceito.
______________________
*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br