Hospital Santo Antônio, mais conhecido como Hospital Irmã Dulce, atende cerca de 2 milhões de pessoas por ano; trabalho começou a partir de um galinheiro
Rogéria Nair
De Salvador (BA)
Tudo começou, em 1949, quando irmã Dulce, hoje invocada pela Igreja Católica como Santa Dulce dos Pobres, improvisou, no galinheiro de um convento, um abrigo para 70 doentes resgatados do bairro dos Alagados, região periférica de Salvador. Nessa época, a freira prestava auxílio aos enfermos com a ajuda de médicos voluntários. Ao longo do tempo, a obra de Dulce foi crescendo, estruturando-se e se especializando; e o que antes era um galinheiro, hoje, é um grande complexo de atendimento aos mais necessitados.
O Hospital Santo Antônio, mais conhecido como Hospital Irmã Dulce, é formado por várias unidades de atendimento com perfis específicos. O complexo realiza uma média anual de doze mil cirurgias e dois milhões de atendimentos ambulatoriais nas diversas especialidades.
Para tamanha demanda de prestação de serviço, são cerca de cinco mil funcionários, sem contar médicos residentes e estagiários.
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Amor e serviço
“Quando você chega aqui, você é carimbado com o lema: ‘Amar e Servir’”, declara a diretora do Hospital, dra. Cinthia Almeida. Segundo ela, quando o profissional não consegue imprimir, dentro de si, este lema, ele não consegue permanecer na instituição.
Cinthia afirma ainda que o hospital é um ambiente profissional e muito salutar para os relacionamentos interpessoais, e “quem rege esses relacionamentos são os valores deixados por irmã Dulce”.
Para o Anjo Azul dos Alagados, o importante era aliviar o sofrimento do enfermo: se não era possível a cura, pelo menos o alívio. Aliviar é uma filosofia para o hospital, e é intrínseca ao lema: Amar e Servir. A santa não se importava com a cor, religião, partido; para ela, o mais importante era o pobre, e todos os funcionários são convidados a viver a mesma coisa.
A estrutura
O complexo hospitalar possui núcleo geriátrico, núcleo da criança, dois centros cirúrgicos, UTI e unidades ambulatoriais para adultos, um centro de atendimento especializado em deficiências, um centro especializado em anomalias crânio faciais, o centro de fisioterapia, o ambulatório José Sarney e o núcleo mais recente, que é a oncologia.
A unidade de Oncologia faz atendimento integral dos pacientes: quimioterapia, radioterapia e consultas. Os pacientes são atendidos não só em oncologia clínica, mas também em especialidades básicas em oncologia cirúrgica. É um dos poucos centros oncológicos público da Bahia.
O hospital também conta com um centro formador de profissionais com 18 programas de residência médica, centro de ciência e tecnologia, curso de enfermagem, pós-graduação e vagas para estagiários de fisioterapia. Existem vários trabalhos científicos que são produzidos na unidade e publicados em revistas nacionais e internacionais.
Tal estrutura caracteriza a obra como centro de excelência em atendimento de saúde, porque os atendimentos são transformados em tecnologia e ciência, material esse que pode ajudar pessoas de outras partes do mundo. E também por realizar um trabalho de assistência social com pacientes que chegam sem documento, em situação de rua e tantas outras realidades. Esse trabalho é feito seja para reintegrar a pessoa à sociedade ou no seio familiar.
Centro Especializado em Reabilitação
O hospital possui ainda um Centro Especializado em Reabilitação (CER), que abrange as quatro modalidades de deficiência: física, intelectual, auditiva e visual.
Uma das atividades para estimular a reabilitação é a atividade fisioterapêutica na água. Durante a atividade, acompanham o paciente: uma fisioterapeuta, uma fonoaudióloga, uma terapeuta ocupacional e uma pedagoga. Todo trabalho realizado é interdisciplinar.
“Somos o único CER tipo 4 na Bahia. Nosso objetivo é ajudar as famílias a viverem com melhor qualidade”, afirma Rosinei Souza, líder do centro de reabilitação.
Ivana dos Santos é servidora pública e tem uma filha com a Síndrome de West, que é atendida na unidade. Ela conta que a viagem é cansativa – são três horas de sua casa até o centro médico –, porém enfatiza o sentimento de gratidão e diz que sem o que o hospital oferece sua vida seria muito mais difícil. “Só tenho a agradecer por aquilo que irmã Dulce fez, se não tivesse esse hospital, seria muito complicado”, enfatiza.
O relacionamento dos profissionais com a santa
Aqueles que se lembram de Santa Dulce dos Pobres pelos corredores do hospital afirmam que, ainda hoje, possuem com ela um relacionamento de intimidade, mesmo a santa não estando mais entre eles. Dizem que falam com ela com muito respeito, mas com muita intimidade. Afirmam se sentir filhos da freira baiana.
O relato que se houve também é que, para Dulce, todos eram iguais, ninguém tinha prioridade por ser alguma autoridade ou parente de alguém conhecido, ela dizia que todos eram iguais.
Para a santa soteropolitana, era fundamental que cada pessoa se sentisse amada para que se sentisse mais saudável.