Artigo

AIDS: estará próxima a sua derrota?

Dr. Frei Antônio Moser
Teólogo

Apesar de hoje já não aparecer mais com tanta freqüência na mídia, a AIDS continua sendo uma das mais terríveis doenças das quais se tem notícia. Terrível não apenas diante das mortes que provoca, mas também pelo grande número de pessoas portadoras do vírus HIV. Calcula-se que as pessoas contaminadas, em todo mundo, sejam da ordem de 40 milhões, 2,5 milhões das quais sendo crianças. Só na África Subsaariana teríamos o número espantoso de 24 milhões de pessoas contaminadas. Por isso mesmo, com razão, o recente anúncio de passos importantes na eventual descoberta de uma vacina, é saudado com alegria e esperança por todos.

É bem verdade que dessa vez, ao contrário de outras vezes, os anúncios foram feitos com expressões modestas, tais como “no encalço”  e “novo alento nas pesquisas”. E essa prudência é mais do que justificável. Afinal, todos sabem que o vírus do HIV apresenta características muito próprias em relação aos demais vírus conhecidos. Como também todos sabem que vários anúncios anteriores acabaram não se concretizando.

Todos são mutantes, mas nenhum parece apresentar tamanha habilidade de fugir dos anticorpos produzidos pelo próprio organismo humano quanto esse. Ele é tão esperto que fica inclusive na espreita, às vezes durante anos, de uma oportunidade para se instalar nas células, através da porta de entrada, constituída por algum tipo de lesão. Assim se explica que existam inúmeros “soropositivos assintomáticos”, que não apresentam nenhum dos sintomas conhecidos (febre, diarréia, erupções cutâneas, emagrecimento acentuado, infecções oportunistas etc. ). E uma vez instalado, esse vírus resiste a qualquer investida dos mais sofisticados medicamentos até hoje produzidos.

É bem verdade que, se na década de 1980 o slogan mais em voga era “a AIDS mata” e o desfecho se dava em poucos anos, hoje há um grande número de pessoas que resistem por décadas às suas investidas mortíferas. Os conhecidos coquetéis, apesar dos altos custos em termos financeiros e de efeitos colaterais, têm mostrado eficácia. Claro que não se trata de cura, no sentido próprio da palavra, mas de controle, que em conseqüência garante tanto o prolongamento quanto uma certa qualidade de vida.

Ademais hoje são bem conhecidos os caminhos da transmissão: sangue, esperma, secreções vaginais e partos de mães portadoras do vírus e não devidamente assistidas. Já não se fala mais tanto em “grupos de risco”, como há algumas décadas atrás, mas em  “comportamentos de risco”. Também já não se conjuga  AIDS com pessoas homossexuais, pois sabidamente a AIDS não conhece a distinção entre homo ou heterossexuais. Ela ataca qualquer pessoa incauta.

.: Siga o Canção Nova Notícias no twitter.com/cnnoticias

Contudo, apesar dos avanços, seja na linha de uma maior consciência dos riscos, seja na linha de avanços em termos preventivos, quanto de tentativas terapêuticas, o fantasma da AIDS continua rondando. Daí as inúmeras pesquisas visando a criação de uma vacina, que agora se pensa estar menos distante de se tornar realidade.

O que se descobriu foi a existência no organismo de um único homem de dois poderosos anticorpos. Anticorpos, como se sabe, são mecanismos de defesa produzidos pelo organismo humano sempre que se apresenta uma ameaça. As buscas vão na direção de se conseguir meios para que o organismo produza tais anticorpos que irão atacar aquilo que se poderia denominar de cérebro da proteína do vírus do HIV: aquela parte que não está sujeita a mutações.

Como bem observaram os cientistas envolvidos nas pesquisas, ainda não há razões para euforias, pois o “grande avanço” consiste em ter encontrado um melhor ponto de referência para as pesquisas. Eles mesmos lembram que num passado não muito distante já se criaram outras expectativas e que não deram certo.

Nessa altura, certamente há já muitos que se perguntam pelo que pensa a Igreja sobre os avanços na linha de coquetéis e agora da eventual futura descoberta de uma vacina. A resposta encontra-se numa linha de conduta que a Igreja manteve desde que surgiu a AIDS. Ela sempre partiu e sempre partirá da parábola do bom samaritano: diante de uma pessoa ferida o que importa não é saber como ocorreram os fatos. Importa é socorrer o ferido e no caso das vítimas da AIDS fazer tudo para que eles se encontrem, se assumam e consigam ser reintegrados na sociedade.

Portanto, todos os progressos são bem vindos, desde que não sejam biombos para encobrir ilusões de que pessoas e sociedades mais saudáveis resultem automaticamente de tecnologias cada vez mais avançadas. Para qualquer pessoa de bom senso, a verdadeira prevenção e a verdadeira cura sempre demandam uma mudança de comportamentos, onde as relações sexuais não sejam expressão de desregramento, de vale tudo, mas expressão de um amor responsável e estável de quem se empenha por construir uma união abençoada por Deus. Qualquer pessoa de bom senso torce para que uma eventual vacina, bemfazeja em si mesma, não leve à atitudes semelhantes àquelas que ocorreram com os coquetéis anti AIDS. Não faltam pessoas que se deixam levar por uma euforia, resultante de uma ilusão, de estarem “blindadas” contra todos os males e, portanto, liberadas para qualquer relacionamento.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo