Artigo Frei Moser

Adeus Guantánamo: tortura nunca mais

Como não poderia deixar de ser, os primeiros gestos de um novo mandatário costumam vir carregados de forte simbolismo. Assim também está ocorrendo com Obama, que do dia para a noite se transformou numa figura um tanto mitológica. Todos esperam tudo dele. Apesar dos riscos deste tipo de postura por parte da sociedade, sem dúvida há razões sustentam o clima de otimismo generalizado: primeiro negro na Presidência da mais poderosa nação do mundo; primeiro presidente que caracteriza uma mistura de culturas e raças… e assim por diante; primeiro Presidente, mais cidadão do mundo do que de uma nação determinada.

Daí a força do simbolismo de um primeiro gesto: decretar o fim da prisão de Guantánamo. Esta base militar americana, implantada em Cuba, em si mesma já trazia as marcas daquilo que ninguém gostaria que os USA fossem. Estas marcas de tornaram mais profundas quando, logo no início da desastrada invasão do Iraque, há 5 anos atrás, o Governo Bush transformou aquela base militar numa das mais gritantes negações de tudo aquilo que se poderia esperar daquela nação que já foi sinônimo de democracia e liberdade.

Não foram apenas as comprovadas torturas contra prisioneiros pressupostamente terroristas, nunca julgados, mas cada dia mais humilhados, que se constituíam numa afronta aos mais básicos direitos humanos. Afinal, antes de Guantánamo, num Iraque arrasado, outra prisão levantou os protestos do mundo: Abu Ghraib. As fotos de prisioneiros em posições humilhantes horrorizaram o mundo. Com isso se pode dizer que Guantánamo era apenas mais uma confirmação do que já se desconfiava: servindo-se da submissão de vários países europeus, sobretudo Romênia e Polônia, a Cia, conhecida por seus métodos pouco humanos de proceder, havia criado muitos outros centros de humilhação e de tortura.  E tudo isto patrocinado por Rumsfeld e pelo próprio Bush, sempre em nome da segurança.

Os argumentos em favor destas práticas desumanas são sempre os mesmos. Só que desta vez vinham reforçados por forte carga ideológica: era preciso combater o terrorismo em toda parte, antecipando-se a eventuais ataques. A denominada guerra preventiva tornou-se uma espécie de bandeira para justificar desmandos que em outros contextos levaram mandatários à cortes marciais. Claro que ninguém deseja isto, mas não seria fora de propósito que certas ações fossem avaliadas com mais cuidado e que fossem tomadas medidas para que isto nunca mais ocorra.

No final quem mais perdeu não foram nem o Iraque, nem as outras 30 nações invadidas ao longo do século passado. Quem mais perdeu foram os próprios USA, antes símbolos de muitos valores, e hoje símbolos de muitos contra valores, incompatíveis com o que se denomina de progresso humano: espionagem, arrogância, prepotência , etc.

Embora Obama não seja nenhum Messias, com certeza começou a dar sinais da verdadeira alma dos americanos e da alma daqueles que cultivam a ternura e a compreensão como a arma mais poderosa contra todos os inimigos. E isto deve ser saudado como algo de bem vindo para todos os que aspiram por uma nova humanidade e gritam com todas as forças: “ tortura nunca mais”; “ que reinem no mundo a paz e a justiça”, pois como proclama o lema da Campanha da fraternidade 2009, “a paz é fruto da justiça”, e só existe segurança quando se respeita “o outro”.

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