Alerta

Abuso sexual na infância: psicólogo alerta pais e aponta consequências

No dia nacional contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, especialista elenca sinais que remetem ao problema e comenta as consequências

Thiago Coutinho
Da Redação

Um crime em 1978 foi o marco inicial para se instituir o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes / Foto: Wesley Almeida

O Brasil recorda nesta sexta-feira, 18, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes ― data que foi oficialmente reconhecida por meio da Lei Federal nº. 9.970/2000. 

Existe, antes de mais nada, uma diferença entre exploração sexual e abuso sexual: o primeiro envolve a prostituição de menores de idade, enquanto o segundo se refere ao contato sexual entre um adulto e uma criança ou adolescente. 

Mas o que leva um adulto a praticar um ato como este contra um menor de idade? Segundo o psicólogo e especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Emerson de Moura Cavalheiro, o adulto que pratica um ato como este também pode ter sido vítima de violência sexual quando criança. “Um adulto que foi abusado durante a sua infância, que também teve experiências com violência infantil, tende a reproduzir isto na vida adulta”, afirma.

Há especialistas, porém, que acreditam haver uma predisposição genética para que este tipo de comportamento seja desenvolvido. “Alguns estudiosos falam nesta possibilidade biológica. Mas ainda há pesquisas sobre isto, de algo que possa estar no primitivo deste ser humano. O mais comum é que essas pessoas sofreram algo e o reproduzem na vida adulta”, explica o psicólogo.

Outro fato que merece atenção: muitas vezes aquele que abusa está dentro da própria família, uma pessoa próxima que dificilmente levantaria desconfiança dos pais e responsáveis. “É mais comum que isto aconteça dentro do núcleo familiar. Pode acontecer com pessoas que não são da família, mas é mais comum dentro de casa”, alerta o psicólogo.

Embora seja mais incomum, o abuso sexual contra menores também pode ser praticado por mulheres. O que dificulta a constatação do crime é a sutileza com que a mulher trata o menor. “A partir do momento que há um exagero nas carícias, nos toques, nas intenções, na forma como isto é abordado pela mulher pode, sim, ser configurado como abuso”, reitera.

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Os prejuízos que ficam

Os prejuízos causados a um menor que é vítima de abuso sexual e não é tratado por especialistas é grande: transtorno de personalidade, ansiedade, depressão são apenas alguns dos principais danos gerados em um menor que é vítima deste tipo de agressão.

“Esta pessoa vai desenvolver um trauma muito grande”, garante Cavalheiro. “Não dá para precisar o que acontecerá com ela, mas, em linhas gerais, uma pessoa que é abusada passa por uma destas situações terríveis”, completa.

E os sinais de que algo não está certo podem aparecer logo cedo, não necessariamente durante a adolescência ou vida adulta (veja quadro ao final deste texto). São várias evidências, embora sutis. “Se a criança é abusada na cama, por exemplo, ela tende a protelar o sono, a não querer dormir. Porque na cabecinha dela ir para cama dormir é ser abusada novamente”, diz.

Alguns sintomas surgem de forma súbita. A criança pode regredir em comportamentos e voltar a hábitos que destoam à sua idade. “Ela pode voltar a fazer xixi na cama ou a demonstrar medos que até então não tinha. Na escola, pode apresentar queda no rendimento ou perder o apetite exageradamente. Por isso, os pais devem procurar ajuda”, esclarece Cavalheiro.

Aproximação branda, mas perspicaz

De acordo com o psicólogo, o erro de alguns pais é se aproximar dos filhos de forma bruta diante de uma suspeita de casos de abuso ou exploração. O melhor é mostrar à criança que se está ali para protegê-la. “O ideal sempre é que quando estes pais forem conversar com a criança, demonstrem afeto, que estão ali para ajudá-la”, adverte Cavalheiro.

Ainda segundo Anderson, os pais muitas vezes não acreditam na criança, presumem que se tratam de invencionices. “Pensam que a criança está fantasiando essas coisas e que são histórias de sua cabeça. Isto faz com que ela crie um bloqueio ainda maior”, diz. “Alguns pais também são agressivos. A criança precisa se sentir segura, porque ela já está se sentindo desprotegida”, aconselha o psicólogo.

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