Pouco sangue pode salvar muitas vidas, por isso autoridades reforçam a importância do ato
Thiago Coutinho
Da redação
Ao doar apenas 450 mililitros de sangue, uma pessoa pode salvar a vida de até outras quatro. Infelizmente, porém, o ato de doar sangue no Brasil ainda não é algo recorrente. Os estoques da Fundação Pró-Sangue, por exemplo, instituição pública que é responsável por 32% de todo o sangue que é utilizado em São Paulo e em toda a Região Metropolitana da capital paulista, está com seu estoque em situação crítica: 50% abaixo do indicado.
E com intuito de mudar este quadro, foi criado o Dia Nacional do Doador de Sangue, comemorado neste domingo, 25.
Mas há um porquê desta queda: as festas de fim de ano estão diretamente ligadas a esta falta de sangue nos bancos dos hemocentros. “As pessoas estão mais preocupadas em fazer compras, viajar e se esquecem que os pacientes estão aí precisando de sangue”, explica a médica hematologista da Fundação Pró Sangue, Renata Barros.
Além destes fatores, há um fator comportamental nisto. “Não somos um país que passa por calamidades e catástrofes. Isto faz com que as pessoas pensem que não precisamos de doadores de sangue”, explica Renata. “Na Europa, que tem toda uma história com guerras, as pessoas têm outra postura. Lá, eles comemoram o aniversário e, em seguida, doam sangue”, acrescenta.
No Brasil, atualmente, existem 32 hemocentros coordenadores e 2.033 serviços de hemoterapia, que incluem hemocentros regionais, núcleos de hemoterapia, unidades de coleta e transfusão, central de triagem laboratorial de doadores e agências transfusionais, segundo o Ministério da Saúde. O problema, segundo a médica da Fundação Pró-Sangue, não é a falta de estrutura para se coletar o sangue, mas sim as pessoas se conscientizarem da importância da doação e doarem.
“O grande problema não é o hemocentro coordenador, mas as unidades que coletam. Existem regiões que contam com coletas móveis, por exemplo. Em termos de São Paulo, pelo menos, não acredito que o problema seja a quantidade [de hemocentros]”, explica a médica hematologista. “Falta as pessoas virem, porque os hemocentros têm capacidade de receber as pessoas. Elas precisam se conscientizar disto”, pondera.
Doar salva vidas
Como informado no início deste texto, apenas 450 mililitros de sangue pode salvar a vida de até quatro pessoas. “Isto acontece porque o sangue é fracionado”, detalha Renata.
“Quando se doa sangue, você doa uma bolsa de 450 mililitros. Este sangue será processado, será separado. Trata-se de um processo físico, nada é acrescentado a este sangue. Este sangue vai para uma centrífuga refrigerada que terá uma velocidade de giro e, então, vamos separá-lo”.
Esta separação, inclui, entre outros, o concentrado de hemácias, separação de plaquetas e outras substâncias ― itens que ajudarão pessoas com diversas doenças como, por exemplo, a anemia. “É por isso que dizemos que uma bolsa ajuda quatro pessoas. Claro que às vezes, há pacientes em estado muito grave, mas a maioria recebe ou hemácias, ou plaquetas, nunca recebem tudo junto. Daí vem a ideia de que um salva quatro”, assegura Renata.
Igor da Silva Lima, de 31 anos, é um exemplo de como a doação de sangue é fundamental para se salvar a vida das pessoas. Prematuro, ele nasceu aos seis meses de gestação. Ficou na encubadora por meses ― seus pulmões foram terminar de se formar dentro da encubadora, a propósito.
“Tive duas paradas cardiorrespiratórias e precisei de duas transfusões de sangue, obviamente de pessoas que não conhecíamos”, diz Lima. “Meu pai estava na marinha mercante, na época estava na Europa e ficava meses fora. Ela tinha apenas 20 anos. Tive muitas melhoras após as transfusões”, lembra.