Vou começar me apresentando a vocês. Talvez muitos me conheçam, mas outros não. Eu vim para Brasília quando a maioria de vocês não haviam nascido. Vim para cá em 1960, após um Congresso Eucarístico que aconteceu em Curitiba. Naquele tempo, como agora, aconteceu uma Assembleia Geral dos Bispos da CNBB antes do Congresso Eucarístico.
Aqui em Brasília não havia ainda um seminário e nem padres diocesanos, mas apenas alguns padres religiosos. A Igreja aqui estava apenas começando. Eu estava concluindo o 3º ano de Filosofia e fui indicado para ser transferido ao Distrito Federal. O reitor do seminário onde eu estava em Mariana/MG disse-me que era para eu pensar durante uma semana sobre isso, pois a minha vida iria mudar a partir daquela transferência. Após uma semana, eu disse o meu “sim” e vim para cá em maio de 1960. E isso se deu após um Congresso Eucarístico.
Depois de um certo tempo aqui em Brasília, fui para Roma concluir o meu curso de Teologia (pois naquela época não havia o Seminário Maior em Brasília) e depois retornei para exercer o meu sacerdócio. Fui Pároco na Paróquia do Santíssimo Sacramento na L2. Fundei o Seminário Maior de Brasília em 1976 com dois outros sacerdotes. Fui professor no Seminário, depois fui sagrado Bispo e auxiliei Dom José Freire Falcão. Participei do CELAM como secretário-geral em Bogotá. Depois disso, exerci durante dois mandatos o cargo de secretário-geral da CNBB até que, em 2004, o Papa João Paulo II nomeou-me Arcebispo de Aparecida.
Vivi portanto em Brasília durante 44 anos da minha vida. Há saudades no meu coração quando penso em Brasília, pois tenho raízes aqui.
Em 1970 aconteceu em Brasília o 8º Congresso Eucarístico Nacional. Naquela época não havia a infra-estrutura que se vê no Congresso deste ano. Naquele tempo, o tema que trabalhamos durante o Congresso foi sobre os sacramentos de iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.
Meditamos naquele tempo sobre estes três sacramentos. Brasília estava começando e era importante revigorar a fé do povo. O Batismo nos faz filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Reino dos Céus, o Sacramento do Crisma nos confirma na fé e nos revigora com os dons do Espírito Santo para darmos testemunho da nossa fé e a Eucaristia “coroa” esse dois Sacramentos na celebração do mistério pascal de Cristo, nos unindo a Ele de um modo muito íntimo pela comunhão que revigora a nossa fé e nos leva a viver com coerência a nossa vida cristã. Foi um Congresso muito rico e frutuoso.
O Papa Paulo VI afirma que “a Eucaristia é um dom por excelência dado por Jesus à Sua Igreja”. O CEN 2010 é um tempo propício para adorarmos, rezarmos e meditarmos sobre este dom por excelência.
O amor é o sinal do cristão: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” disse Jesus. O amor é, portanto, a identidade do cristão.
Mas ninguém pode amar como Jesus amou se nós não estivermos unidos a Ele, se não recebermos esta fonte permanente. Eucaristia e Missão formam um binômio inseparável. Não se pode separar a Eucaristia da Missão e vice-versa.
A finalidade da Eucaristia é nos unir profundamente a Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” nos ensina o Senhor. A Eucaristia é verdadeiramente um banquete. Basta lembrarmos que, quando celebramos a Eucaristia, a primeira coisa que vemos é uma “mesa” rodeada de flores. Todo altar nos dá esta ideia de refeição, de banquete, de ceia.
Mas a Eucaristia não é somente o memorial da Ceia do Senhor. Ela é também sacrifício. Memorial da Morte e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. O sacrifício único de Jesus na cruz se atualiza em cada Eucaristia que celebramos.
A Eucaristia é a presença viva do Senhor em nosso meio. Por isso as nossas igrejas precisam estar de portas abertas para que o povo visite o Senhor no sacrário para adorá-lo. Nossas igrejas não são museus. Não são templos para viverem fechados.
Me recordo agora de Santa Edith Stein. Ela não tinha religião e era uma grande filósofa alemã de origem judaica. Santa Edith disse que um dos motivos de sua conversão ao Catolicismo foi justamente por encontrar sempre na Alemanha (onde ela vivia e lecionava) as igrejas católicas sempre abertas, de modo que ela sempre podia ir lá visitar a Igreja e, em silêncio, meditar, rezar, falar com Deus.
A Eucaristia é mistério da fé. Ela ultrapassa o nosso entendimento. Somente pela fé acolhemos este mistério que ultrapassa os nossos sentidos. A fé nos assegura que Jesus realmente está presente neste Sacramento. Na Eucaristia Jesus se humilha e se entrega a nós. Aí Ele esconde a Sua divindade.
Na Eucaristia também está a origem da missão. Na última ceia Jesus se entregou de forma sacramental em obediência ao Pai. Ele antecipa no pão e no vinho consagrados o sacrifício realizado na cruz no dia seguinte. A nossa missão é fruto da nossa união com Cristo na Eucaristia.
Jesus morreu por todos. Veio para salvar a todos. Mas a missão não terminou: ainda há muitos que não conhecem o amor de Cristo. É necessário que testemunhemos este amor ao mundo. Assim como os discípulos de Emaús nós, ao fazermos a experiência de reconhecer o Senhor no partir do pão, sentimos o forte impulso de levar esta boa notícia de que Ele está vivo no meio de nós.
Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária. Não há o missionário sem que haja o discípulo e não há discípulo que não seja alguém que traz no coração este ardor missionário. Se a Igreja não fosse eucarística e missionária ela perderia sua razão de ser. Somos chamados neste Congresso a sairmos desta pastoral de “manutenção” para uma pastoral de missão. Não se trata de fazer proselitismo, mas de atrair as pessoas para experimentarem este mesmo amor que nós sentimos. Não podemos viver a fé de uma forma “individualista” e de uma forma passiva somente “dentro da igreja”. É preciso viver a missão!
Que sejamos adoradores da Eucaristia. E, unidos a Jesus, possamos dar muitos frutos bons diante do mundo de hoje que nos interpela com tantos problemas.
Honra e louvor sejam dados ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Resumo da pregação feita pelo cancaonova.com
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