Polícia prende quatro por incêndio em boate de Santa Maria

As autoridades policiais do Rio Grande do Sul detiveram temporariamente nesta segunda-feira, 28, quatro pessoas como parte da investigação para apurar as causas da tragédia que abalou a região e comoveu o mundo ao deixar mais de 230 mortos.

A Defensoria Pública do Estado também reagiu, com o pedido, no início da noite de ontem, de bloqueio dos bens dos proprietários da boate, onde na madrugada de domingo um incêndio, provocado segundo testemunhas por um artefato pirotécnico, matou e feriu centenas de pessoas, a maioria jovens universitários.

O incêndio deixou também 129 pessoas internadas em diferentes cidades do Estado, sendo 76 delas em estado grave e respirando com ajuda de aparelhos, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.

Detidos

A polícia decretou prisão temporária dos dois proprietários da boate, Elisandro Spohr – que está internado na cidade de Cruz Alta em consequência da fumaça que asfixiou a maior parte das vítimas – e Mauro Hoffmann.

Também foram presos dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira que tocava no momento em que o incêndio começou: Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos Neto.

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Segundo uma fonte da polícia que falou sob condição de anonimato, os testemunhos são de que os dois integrantes da banda foram responsáveis por acionar um sinalizador e outro artefato pirotécnico, chamado "sputinik", que teriam causado o incêndio.

Apesar da perícia não ter sido concluída, muitas das testemunhas ouvidas afirmaram que a faísca provocada pelo sinalizador atingiu a cobertura de isolamento de som no teto da boate, material inflamável, dando início ao incêndio. Segundo o Corpo de Bombeiros, a grande maioria das vítimas morreu asfixiada pela fumaça liberada pela queima do material isolante.

A polícia disse que as investigações indicam também que a única porta da boate não dava vazão ao número de pessoas em caso de emergência, mas que não acredita que houvesse superlotação da casa.

Homenagens às vítimas

A cidade de Santa Maria, com cerca de 260 mil habitantes e a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre, vive em estado de comoção desde a madrugada de domingo.

Milhares de pessoas saíram às ruas da cidade na noite desta segunda-feira para homenagear as vítimas em uma caminhada tomada por momentos de silêncio, palmas, reza e gritos por "justiça". As pessoas, a maioria com camisas brancas, carregavam flores e cartazes –um deles com a frase "o mundo chora a perda de vocês".

"Eu perdi dois amigos que vão fazer muita falta. É uma dor muito grande para Santa Maria", disse Sttefany Amaral, 22 anos, caminhando ao lado da mãe, Lucia, carregando um cartaz com o nome dos amigos que morreram.

Cerca de 100 famílias passaram a madrugada de segunda-feira velando suas vítimas, 20 delas em um velório coletivo no Centro Desportivo Municipal, local que foi tomado pela comoção de amigos e familiares, que colocavam sobre os caixões bandeiras dos times de futebol, bichos de pelúcia e fotos das vítimas.

Ao longo da segunda-feira, pelo menos 95 vítimas foram enterradas em Santa Maria, o que exigiu que os cemitérios da cidade fizessem uma escala para realização de enterros a cada 30 minutos.

Consequências

Para especialistas ouvidos pela Reuters, a apuração do ocorrido resultará numa ampla lista de responsáveis.

"A cadeia de responsabilidades pelo que aconteceu vai ser muito grande. As responsabilidades vão se espalhar pelos níveis local até o estadual", afirmou o especialista em situações de risco Moacyr Duarte.

A Defensoria Pública não descarta incluir, na ação indenizatória coletiva que deve mover em nome das famílias, o poder público municipal ou estadual.

O governador do Estado, Tarso Genro, voltou a Santa Maria, nesta segunda-feira para garantir que "não serão medidos esforços" para apurar as causas e determinar responsabilidades pela tragédia.

"Queremos que este seja um inquérito exemplar", disse o governador. "Se nós não soubermos exatamente as causas, a nossa indicação de responsabilidades será falha", acrescentou.

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