A operadora da usina nuclear japonesa danificada disse nesta sexta-feira, 3, que mais água radioativa pode começar a vazar para o mar no final deste mês se houver algum contratempo na instalação de um novo sistema de descontaminação.
A Tokyo Electric Power Co (Tepco) também afirmou que dois trabalhadores foram expostos a uma radiação de mais que o dobro do limite estabelecido pelo governo, o caso mais sério de exposição até agora entre centenas de trabalhadores na usina de Fukushima Daiichi.
Quase 110 mil toneladas de água altamente radioativa – suficiente para encher cerca de 40 piscinas olímpicas – estão armazenadas na usina, informou o complexo em um relatório entregue à entidade regulatória nuclear do Japão nesta sexta-feira.
A Tepco bombeou uma grande quantidade de água para resfriar os três reatores onde ocorreram derretimentos depois que o terremoto seguido de tsunami de 11 de março derrubou os sistemas de resfriamento.
Administrar as crescentes piscinas de água radioativa é um grande desafio com o início da temporada de chuvas de um mês no Japão, e a usina localizada 240 km ao norte de Tóquio está ficando sem espaço de armazenamento.
"Selando áreas relevantes… planejamos evitar que a água contaminada vaze para o mar", declarou a Tepco no relatório apresentado à Agência de Segurança Nuclear e Industrial.
Os engenheiros iniciaram a instalação de um equipamento fornecido pelo fabricante francês de reatores Areva para descontaminar a água radioativa, e a Tepco pretende começar a operá-lo até 15 de junho.
Mas se o sistema de tratamento não funcionar, um dos reatores pode ficar sem espaço já no dia 20 de junho para armazenar água contaminada, que pode vazar no mar. O mesmo pode ocorrer com um segundo reator um dia depois, disse a Tepco.
Ambientalistas têm acusado o governo e a Tepco de minimizar os riscos dos vazamentos de água.
"Este é um cenário que a Tepco poderia ter antecipado… É um problema sério que a empresa ainda tenha que tomar medidas sérias contra isto", disse Junichi Sato, diretor-executivo do Greenpeace do Japão. "Se um grande volume vazar continuamente, a contaminação marítima se espalhará ainda mais."
No início de abril o complexo despejou cerca de 100 mil toneladas de água com baixa radioatividade no oceano, desencadeando críticas das vizinhas China e Coreia do Sul.
A Tepco, criticada pela comunicação precária a respeito das doses de radiação absorvidas pelos trabalhadores, também confirmou que dois funcionários que se suspeitava terem excedido o limite de exposição de 250 millisieverts estabelecido pelo governo de fato ultrapassaram essa cifra.
Os trabalhadores não identificados foram expostos a até 580 millisieverts durante operações de limpeza na usina, disse Junichi Matsumoto, autoridade da Tepco, em uma coletiva de imprensa.
A exposição a 250 millisieverts equivale a mais de 400 raios-x de estômago. Exames de saúde dos dois não mostraram anormalidades, mas especialistas dizem que altos níveis de exposição correspondem a um risco maior de câncer.