Beatificação

Entrevista com os pais de Chiara Luce Badano

A vida de Chiara "Luce" Badano foi um sim repetido a Jesus até a doença e a morte. Apresentamos uma entrevista com seus pais sobre os maravilhosos 18 anos vividos juntos.

Passados mais de 20 anos de sua morte, a lembrança de Chiara, uma jovem vivaz, alegre, esportiva, conserva-se mais viva do que nunca nos acontecimentos e episódios contados por seus pais, Maria Teresa e Ruggero Badano. Dizia a bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: "Se os membros da família permanecerem unidos se amarão reciprocamente como Deus os ama individualmente". Foi o que viveu Chiara, a jovem de Sassello (Ligúria – Itália), que no dia 25 de setembro, será proclamada Bem-aventurada no Santuário do Divino Amor, em Roma. Faleceu vítima de um câncer e a sua experiência parece encontrar suas raízes no testemunho evangélico vivido, antes de tudo, no núcleo familiar.

Pergunta: Sabemos que vocês desejavam muito um filho. Como viveram a chegada de Chiara em sua família?

Maria Teresa Badano: Nós nos casamos com 26 anos e o nosso maior desejo era ter filhos, mas tivemos que esperar 11 anos. Com o nascimento de Chiara foi como se tivéssemos compreendido melhor a graça do sacramento do matrimônio, porque completava a nossa união. Chiara começou a crescer, linda e sadia, e nos dava muita alegria. Mas percebemos logo que não era filha apenas nossa, era, antes de tudo, filha de Deus, e como tal a devíamos educar, respeitando a sua liberdade.

Pergunta: Algum fato interessante da infância de Chiara?

Maria Teresa Badano: Um dia, voltando da escola infantil, Chiara me pediu para ficar na casa da nossa vizinha, Gianna. Depois de mais ou menos uma hora ela chegou em casa com uma linda maçã vermelha e amarela na mão. Perguntei como a tinha ganho e ela me respondeu que tinha pegado na casa da vizinha, mas pude entender que fora sem a sua permissão. Então expliquei que ela deveria devolver e pedir desculpas. Vi que ela ficou muito preocupada, estava envergonhada, mas eu prometi que a seguiria com o olhar, do terraço de casa. Então ela tomou coragem, voltou à casa da vizinha e contou o que tinha acontecido. Depois de quinze minutos Gianna lhe trouxe uma cestinha de maçãs. "Agora você pode merendar com sua mãe, porque hoje ela lhe ensinou uma coisa importantíssima".

Pergunta: Como a filha de vocês conheceu o Movimento dos Focolares?

Ruggero Badano: Com nove anos e meio, graças a uma gen (Geração Nova, os jovens do Movimento), que se chamava Chicca. Foi um momento fundamental para a vida de Chiara. Ela pegava um ônibus em Sassello para ir a Albisola, onde a sua nova amiga morava. Os meus pais ficavam um pouco preocupados que ela fosse sozinha, mas nós tínhamos confiança. Como ainda não conhecíamos o Movimento dos Focolares quando voltava quase sempre lhe fazíamos algumas perguntas. Mas ela dava respostas vagas, se limitava a dizer que brincavam e liam o Evangelho. Mas Chiara mesma notava algo diferente na sua amizade com Chicca. Ela dizia: "Sabe mamãe, eu acho que essa minha nova amiga é diferente daquelas com quem brinco sempre aqui".

Pergunta: Como era Chiara quando adolescente?

Maria Teresa Badano: Era uma menina cheia de vida: ela gostava de rir, cantar e dançar. Era uma jovem maravilhosa. Naquela época não havia muitos divertimentos em Sassello, no verão em geral os jovens se reuniam no bar, para tomar sorvete. E nós gostamos de pensar em Chiara como uma pessoa esportiva por excelência, mas não no sentido competitivo. Praticava patinação e tênis, gostava muito das montanhas, mas era no mar que ela "explodia!".

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Chiara Luce Badano durante a adolescência

Pergunta: Antes da sua doença ela viveu algum momento difícil, na adolescência?

Maria Teresa Badano: Diria que sim. O início da escola média foi um momento de desorientação para Chiara. Primeiramente, porque tínhamos nos mudado de Sassello para Savona. Muitas vezes ela dizia: “Mas mamãe, muitos estudantes viajam de ônibus. Por que temos que ir morar em Savona?”. A isso se acrescentou a incompreensão de um professor. Ele se comportava assim quase com toda a classe, mas com Chiara a situação era um pouco mais pesada. Ela procurava estudar, dava tudo de si, não com o objetivo de ser a primeira da turma, mas para poder dizer, diante de Deus: faço toda a minha parte. De fato, esse foi o seu primeiro grande sofrimento.

Pergunta: Como Chiara percebeu que a doença estava chegando e como a viveu?

Maria Teresa Badano: Com 17 anos, enquanto jogava tênis. Eu vi que ela voltou para casa pálida. “Senti uma dor muito forte no ombro – ela me disse – tão forte que a raquete caiu da minha mão”. Um médico de Sassello, primo de Ruggero, nos sugeriu que a levássemos a Santa Corona. Lá recebeu os raios infravermelhos e nos garantiram que se tratava de uma distensão, que teria sarado em vinte dias, imobilizando. Mas a dor continuou, Chiara começou a fazer infiltrações nas costas, mas sem nenhuma melhora. Não ia mais jogar e mesmo quando podia ir dar um passeio com as amigas preferia ficar deitada no sofá. Durante as férias de Natal ela decidiu ligar pessoalmente para o médico e pedir para fazer outros exames. No dia seguinte, já estava no hospital e se dedicava às pessoas que estavam perto dela. De modo especial a uma jovem, no quarto ao lado, que devia desintoxicar-se das drogas. Chiara lavava os cabelos dela e sempre lhe fazia companhia. Vendo que estava se cansando nós lhe pedimos que se resguardasse, mas ela nos calou com um seco: “Vou ter tempo para descansar”. Com uma TAC (tomografia axial computadorizada) soubemos o que ela tinha: um osteosarcoma. Naquele momento, tive a impressão de morrer. Nós nos abraçamos, eu e Ruggero, e nos dissemos: “Somente Jesus pode nos ajudar a dar o nosso sim” e pedimos, com força, que Maria tomasse as mãos de Chiara nesse novo caminho.

Em pouco tempo, nos transferimos para Rovegliasco, próximo a Turim, porque ela devia começar a quimioterapia. Naquele dia eu não podia acompanhá-la, porque estava com flebite e o médico tinha me proibido qualquer movimento. Depois de duas horas intermináveis Ruggero e Chiara voltaram. Ela vinha na frente, caminhando lentamente, vestida com a sua jaqueta verde. Tinha o rosto sombrio e olhava para o chão. Perguntei como tinha sido e ela, sem me olhar, respondeu: “Não diga nada agora”, e se jogou na cama com os olhos fechados. Aquele silêncio era terrível, mas eu tinha que respeitá-lo. Eu olhava para ela e pela expressão de seu rosto via toda a luta que estava travando interiormente para dizer o seu ‘sim’ a Jesus. Passaram 25 minutos. De repente ela se girou na minha direção, com o sorriso de sempre, dizendo: “Agora você pode falar”. Naquele momento eu me perguntei quantas vezes ela iria ter que repetir o seu sim, no sofrimento. Mas Chiara precisou, como eu já disse, de 25 minutos, e desde então nunca mais voltou atrás.

Estava se aproximando o seu aniversário de 18 anos. Ela mesma telefonou ao doutor Madon pedindo que se interrompesse a quimioterapia, porque já não surtia nenhum efeito. A partir daquele momento começou a sua corrida para o seu Esposo, Jesus, e ela nos dava também alguns encargos, como o de preparar a sua “festa de núpcias”. Era uma coisa linda, porque ela estava alegre… uma verdadeira maravilha.

Pergunta: A última saudação de Chiara, antes de ir para o Céu.

Maria Teresa Badano: As suas últimas palavras – que não foram o seu último ato de amor, porque este foi a doação das suas córneas a dois jovens – quando se despediu, foram: “Tchau mamãe! Esteja feliz, porque eu estou feliz”.

Assista à entrevista


Acesse alguns escritos de Chiara Luce

.: Existe um só tempo
.: Em busca da liberdade
.: "A dor dobra-nos mas não nos quebra"
.: “Com o Evangelho debaixo do braço faremos coisas grandes”
.: Com a avó paralítica

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