"Ela deve estar atenta para colocar em evidência e redescobrir a cada dia não pesos, responsabilidades ou sacrifícios esmagadores, mas as razões pelas quais a sua maneira de viver é fonte de felicidade. Aí sim outros dirão, 'Puxa, se é assim, eu também quero'", destaca o diretor do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, Dom João Carlos Petrini.
Ele alerta que a sociedade contemporânea vive imersa em experimentações e diversas possibilidades de vida. "Qual prevalecerá após isso? Aquela que mais mais proporciona felicidade, realização humana", indica.
Nesse sentido, a família cristã deve se tornar sempre mais espaço de vida plenamente humana, realizada, pois isso dará a chance de ela continuar como a forma mais difusa de viver o afeto e a intimidade.
"Ao contrário, se, como muitas vezes acontece, ficam se lamentando, salientando sacrifícios, então as novas gerações procurarão outras formas que se apresentam como mais adequadas", pontifica.
Natureza e cultura
O tema esteve entre as discussões do II Seminário Internacional em Família Contemporânea: Natureza e Cultura, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Família na Sociedade Contemporânea da Universidade Católica do Salvador (UCSal) entre os últimos dias 20 e 22.
Segundo Dom Petrini, o evento foi motivado pelo "grande debate que acontece, especialmente na Europa, buscando reduzir sempre mais o espaço da natureza, no sentido de que, se chegamos à conclusão de que tudo que existe é cultural – fruto da decisão livre do ser humano –, tudo pode ser repensado, reconstruído, refeito. Nada se tornaria vinculante".
Ele explica que natureza é "tudo que existe sem interferência de uma intencionalidade humana. Nesse sentido,quando falamos do matrimônio e família, natureza, por exemplo, é a diferença sexual – um dado originário -, bem como os mecanismos biológicos da procriação".
Entretanto, o ser humano já tem a possibilidade de interferir nessas realidades. "A mulher pode escolher não gerar filhos, ou quando fazê-lo, através dos métodos contraceptivos, fecundação artificial. A mão humana pode chegar a manipular tudo ou quase tudo, mas a forma mais digna e humana para viver o afeto, a criação de filhos, é o matrimônio e a família".
A tendência é a necessidade de se superar contraposição entre natureza e cultura, "e compreender a realidade em que a natureza deve ser respeitada nos seus dinamismos próprios e, ao mesmo tempo, a cultura deve sempre tender àquilo que é mais positivo para a pessoa e sociedade", explica.
Assista ao episódio "Os perigos que rondam as famílias", do programa "Vida em família", da WebTVCN
A missionária da Comunidade Canção Nova, Terezinha da Consolação, é casada há 13 anos e tem 3 filhos. Ela testemunha que, apesar dos desafios, o procurar viver bem demonstra uma alegria diferente para o mundo.
"É preciso dar testemunho da própria convivência com a família, a partir de dentro de casa. E isso também inclui ser referência, em primeiro lugar, para os filhos".
Ela indica o diálogo aberto, a oração em conjunto e o doar-se para o outro como pilares desse processo. "É não querer sempre fazer aquilo que é 'meu', mas querer fazer o outro realizado, que o outro se sinta bem".
Desafios e diálogo com o mundo
Dom Petrini sublinha que iniciativas como o Seminário apontam para a necessidade de se utilizar uma linguagem que possa ser compreendida também por quem não faz parte do universo religioso.
"Isso não quer dizer que concordamos com censura a respeito do dado religioso, mas com o diálogo em que é possível abrir brechas e janelas para que esse dado não apareça em total contradição com aquilo que as ciências humanas vêm discutindo. É uma batalha cultural".
O grande desafio é esclarecer os perigos que surgem de uma análise que vê a família apenas como evento histórico, cultural.
"Os perigos são tremendos, desde o fato de que qualquer forma de família, ou nenhuma, pode ser considerada legítima ou legalizada. Tudo o que nós vivemos e em que está constituída a sociedade, tendo a família como célula fundamental, pode ser desfeito, enveredando por outros caminhos".
No próprio mundo secular, o debate atual é "será verdade que não há limites para isso, será legítimo que nós tomemos decisões que condicionarão a vida das próximas gerações? Não seria uma injustiça, pois estaríamos interferindo indebitamente, em nome da nossa liberdade, condicionando a maneira de nascer e de ser gente das próximas gerações?", esclarece.
"Vivemos numa época em que há espécie de obsessão para desconstruir tudo que recebemos do passado, inclusive a própria sexualidade humana. Uma obsessão desconstrutiva", analisa Dom Petrini.
E eis aí o desafio.
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